O bom e velho hábito de ir a uma livraria
Em tempos de e-books, smartphones e tablets, o hábito de sair de casa para exclusivamente ir a uma livraria ou biblioteca parece bem distante para muita gente. Mas não é. Na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, dos canais de comercialização identificados, as livrarias foram as mais citadas como local onde os leitores costumam comprar livros.
Para a Ultimato, ir a uma livraria também não é coisa do passado. Mesmo que nossa loja virtual apresente todas as facilidades ao leitor, o verdadeiro amante de livro também gosta de estar onde ele está. O prazer de cheirar e tocar em um livro de verdade é insubstituível!
A boa notícia para que ama livros então é que as livrarias amigas da Ultimato e da ABU Editora podem ser localizadas facilmente em nosso site. Acesse aqui e encontre a livraria mais próxima de onde você está. Sem dúvida, você será bem tratado como se estivesse aqui conosco. Só não garantimos o pão de queijo de Minas, né?
E para demonstrar nosso carinho por quem torna nossos livros e revistas acessíveis aos leitores, iniciamos hoje aqui no blog da Ultimato uma série de entrevistas com os melhores livreiros parceiros da Ultimato. Gente como o Eneas Alexandrino. Ele e sua esposa Karen são proprietários da Livraria Alexandria em Belo Horizonte (MG). Ele é pastor há 20 anos e livreiro há 15 anos. Na entrevista a seguir (feita pela Editora Sinodal e editada por este blog), Eneas fala sobre os hábitos de leitura dos brasileiros e faz uma boa reflexão teológica sobre a importância dos livros.
Mais que autoajuda
Infelizmente, no chamado mercado gospel, 80% do que é comercializado gira em torno de autoajuda — quando não, o misticismo da “batalha espiritual”. Por convicção, obviamente não mercadológica, não comercializamos este tipo de literatura, cientes dos riscos que corremos, pois este tipo de livro, majoritariamente, mantém o mercado evangélico. Sobre a leitura no mercado religioso, sou mais otimista do que há 15 anos. Hoje temos comunidades que, através de suas lideranças, incentivam a partir do púlpito seus membros à leitura. Em Belo Horizonte, temos bons exemplos.
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Pastores também devem ler
Penso que esta indisposição com a leitura é um fenômeno cultural e, como brasileiros que somos, não saímos ilesos. Entretanto, também sou testemunha de que isto pode ser trabalhado na educação religiosa ou no discipulado. De modo geral, isso pode ser promovido a partir dos púlpitos das comunidades, pois creio que, as lideranças têm um papel importante no incentivo à leitura. Até para isso é preciso que estes líderes mesmo melhorem seu repertório de leitura, não se pode recomendar o que não se lê. Ora, para combater o analfabetismo teológico, é preciso um engajamento. Sou pastor há 20 anos, mesmo em comunidades de periferia onde pastoreei tivemos bons resultados quando incentivamos a leitura.
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Livreiro no céu
Eu acredito que, além da vocação pastoral, também tenho uma vocação para trabalhar com livros. Até acho que na eternidade vou continuar como livreiro (possivelmente as pessoas vão comprar sem dinheiro… rs).
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Culto a Deus
Este ofício, enquanto livreiro, demanda acima de tudo ética. O espírito mercadológico neste seguimento é sedutor, principalmente em um mercado caracterizado pelo amadorismo. Eu acredito que o trabalho também é um culto a Deus. O fato de nossa atuação profissional não estar circunscrita ao espaço das manifestações cúlticas, não implica ausência de espiritualidade. Sei que Deus não espera por mim para encontrá-lo, mas vem ao meu encontro nas experiências enquanto profissional.
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Grande nuvem de testemunhas
Penso que a experiência da leitura é uma sensação de termos uma grande nuvem de testemunhas à nossa volta. A fé cristã é acima de tudo, uma fé histórica, que chegou até a nós através de ricas tradições e os livros são formas de preservar esta riqueza, viabilizando seu conhecimento. Acredito que a leitura faz parte da vocação cristã, afinal de contas, a palavra sagrada se fez livro.
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Peregrinação por meio da leitura
Buscar por instrumentalidade deveria ser a convicção primeira da liderança, não se acomodar jamais às leituras do período de preparação ministerial em um seminário teológico ou achar que a leitura do texto bíblico sem o auxílio de outros olhares responderá nossas necessidades. São Tomas de Aquino já advertia sobre o perigo de um homem de um único livro. No segundo século da igreja (170-180 d.C.), Melitão, bispo da igreja de Sardes, foi questionado por um membro de sua igreja, sobre a quantidade de livros sagrados da primeira aliança aceitos pela igreja. O mesmo não soube responder pelas circunstâncias da época, mas a pergunta o “moveu” a sair em uma viagem da Ásia Menor à terra de Israel para pesquisar e trazer a resposta para sua comunidade. Penso que as perguntas no seio da comunidade ainda precisam “mover” os cristãos a uma peregrinação por meio da leitura, a começar por aqueles que compõem o governo da igreja. É trágico na caminhada cristã, quando as perguntas já não promovem um movimento em direção às respostas propostas por séculos do labor teológico.
Você encontra o endereço da Livraria Alexandria aqui.