A falta que o pastor Rubem Alves me faz!
Nesta semana fatídica, ficamos sem João Ubaldo Ribeiro, sem Rubem Alves e sem Ariano Suassuna. Três imensas saudades. Estive no culto à noite de domingo na Igreja em que Rubem Alves foi pastor por cinco anos e senti um vazio imenso! Me dei conta de que sempre fui bravo com Rubem Alves e finalmente descobri a razão.
Rubem Alves sempre me fez falta como pastor.
Ao ser caçado pela própria Igreja Presbiteriana na época da Ditadura Militar e abandonar o pastorado, Rubem Alves deixou orfãos todos nós que acreditávamos nas suas perguntas, mas não conseguimos acreditar em suas respostas. Assim como Rubem Alves, a minha geração na Aliança Bíblica Universitária, buscamos uma resposta evangélica para a participação na construção de uma sociedade mais justa. Mas ao contrário de Rubem Alves e apesar dos erros da Igreja, sempre acreditamos em uma solução a partir do Evangelho. As palavras doces de Rubem Alves sempre me fizeram bem ao coração, mas sempre me deixaram triste a alma.
Por isto, neste réquiem a Rubem Alves, me volto ao que nos uniu: o amor aos Ipês, a árvore de Lavras, a árvore da esperança, que floresce de forma esplendorosa quando a seca é mais rude, quando a esperança é desesperada.
Neste ponto, compartilho a definição e os sentimentos do pastor que nunca tive:
“Rubem Alves é um homem que gosta de ipês amarelos…”
“O que tenho sentido? Beleza. Nostalgia. Tristeza. Cansaço. Urgência. A curteza do tempo. Esperança? Sonhei ser um pianista. Mas os deuses tinham outros planos para mim. Gosto de brincar com palavras.
Por isso sou escritor. Escritores e poetas são meus companheiros.”
Obrigado, meu querido jardineiro!
• Ulisses Leitão é professor do curso de Física da UFLA (Universidade Federal de Lavras – MG) e membro da Igreja Presbiteriana da cidade; igreja da qual Rubem Alves foi pastor por cinco anos na década de 60.
Texto publicado originalmente no blog do autor.
ALEXANDRE FERREIRA PEVIDOR
Muito boa reflexão. Infelizmente somente depois que a igreja mata os pastores é que são lembrados, desejados e valorizados. Esta triste realidade não aconteceu apenas com o irmão, nem tão pouco na década de 60 com o saudoso Rubem Alves, mas acontece atualmente nas reuniões de conselhos, nas vísceras conciliares quando estupram o ofício pastoral e matam sua vocação por meio de decisões autoritárias. Muito triste.