Humildade e simplicidade de Cristo
Durvalina Bezerra, diretora do Seminário Evangélico Betel Brasileiro, nos dirigiu na devocional na manhã do último dia (sábado, 5/4) da Consulta Teológica e Pastoral “Um Chamado à Humildade, à Integridade e à Simplicidade”. Ela focou a humildade e a simplicidade em Jesus.
Durvalina começou com a leitura de Filipenses 2, lembrando-nos que Jesus, embora sendo Deus não considerou “necessário”, apropriado, ser igual a Deus. Ele optou por ser humilde, mas Israel não reconheceu essa nova expressão de Deus. Poderia um ser nascido em estrebaria ser a maior expressão do Deus grandioso?
Por outro lado, Jesus encontrou aqueles que deixaram tudo para segui-lo, que tiveram a mesma atitude que teve Jesus (Fp 2.5). Eles consideraram tudo perda, por causa da sublimidade de Jesus.
Considerar tudo perda não é considerar uma forma aparente ou estética de humildade. A humildade e a simplicidade nascem de dentro para se expressar exteriormente. Considerar tudo perda, não é abrir mão e ser como os ascéticos; humildade e simplicidade não são expressão de pobreza, de ignorância e nem todo pobre é humilde. O chamado de Deus é sermos o que somos, no modelo dele. Dependendo dele para que o que somos e o que temos possa revelar sua glória a partir daquilo o que ele nos chama a oferecer.
A simplicidade e humildade de Jesus são autênticas. A Bíblia diz que ele despiu-se de sua roupa de mestre e pôs-se a lavar os pés dos discípulos, como se fosse o escravo mais humilde. Ele fez isso por nós, para nós, para que entendamos que temos que servir aos mais necessitados, aos mais humildes. E diz: se sou mestre e senhor e lavei os seus pés, vocês devem lavar os pés dos outros.
Ter uma atitude de servo não anula aquilo que ele nos deu a ser e fazer. Ele era mestre e senhor e não deixou de ser ao lavar os pés, antes usou sua vocação para servir aos outros. Nosso desafio é viver isto hoje e o primeiro passo é reconhecer que estamos muito longe disso.
A humildade e a simplicidade de Jesus é uma experiência do incógnito (Juan Martins), ela é maior que nossa consciência e nossa percepção, ultrapassa nossa lógica e razão. Vai além da nossa capacidade de racionalizar e conceituar. A secularização da religião e da sociedade procura eliminar esta forma de expressão de Deus, assim como a religião insiste em rejeitar a humildade e a simplicidade que vestiram Jesus, a expressão de Deus.
A humildade e a simplicidade de Jesus são experiências que podem e devem ser vividas fora do nosso meio eclesiástico, que podem ser encarnadas na nossa missão, na nossa expressão de vida aos não-alcançados.
Esta humildade precisa se expressar onde há necessidade. Ela precisa se encarnar na nossa experiência missionária, pois assim fazendo, ali podemos expressar com mais percepção e clareza a simplicidade de Jesus. Simplicidade e humildade foram vistas de forma clara em Charles Stood. Atleta escocês, rico, jovem, ele deixa a Escócia e vai morar em uma cabana, em Gana, África, no século XIX. Viv Grigg vai morar em uma favela de Manila e muitos outros que em obediência a Jesus se fizeram pobres, sendo ricos. Outros não têm ido, mas têm se despojado para que outros possam ir. É assim a expressão da igreja na sua ação missionária.
Vamos lembrar o texto de Filipenses 4.11, onde Paulo nos ensina a viver contente em toda em qualquer situação. Ele diz que aprendeu porque é um processo. É um aprendizado ter e não possuir, possuir e entregar para que outros possam ter. Se humilhado ou exaltado, isso não faz diferença. Ter fartura ou escassez também não. Os valores eternos nos levam à autenticidade da humildade e simplicidade de Jesus.
Temos o desafio de viver a humildade e a simplicidade como experiência de Deus em nós, de forma atualizada e no cotidiano. Isto é, não apenas quando a situação favorece ou quando esta é a liturgia do dia. Não, é Cristo formado em nós, pela agência do Espírito Santo, nos levando a viver não centrado em nós, mas Cristo vivendo em nós.
Outro desafio é descobrir o que está entre a presença de Deus e nossa consciência que nos impossibilita de afirmar e admitir a simplicidade e a humildade de Jesus como forma divina de revelação ao mundo. É esta a forma de revelar-se ao mundo, de chegar aos que mais precisam desta revelação. Contemplação e união com Deus exigem de nós um espírito de desprendimento; não é não ter, mas saber ter para que a Igreja e a sociedade recebam os benefícios daquilo que temos.
Passar da superficialidade para a profundidade, da multiplicidade para a unificação. Não massificados, mas unidos em um só corpo em Cristo. Esta é a proposta de Lausanne e também da Aliança. Que o Espírito Santo construa em nós a simplicidade e a humildade de Cristo.
Registro jornalístico: Tábata Mori
Foto: José Silvério.