Publicado originalmente em 1996 na revista Ultimato 241.

 
Capa-Ult241O título desta matéria é grande demais. Parece com os títulos que os autores do século XVI davam aos seus livros. Mas ele é legítimo e oportuno. Não há como levantar a voz contra a supremacia do Reino de Deus sobre as três principais expressões do cristianismo mundial.

O presente texto não foi escrito para acirrar os ânimos e colocar católicos contra protestantes e protestantes contra católicos. Nem tão pouco para encorajar uma utópica união de igrejas cristãs. Antes tem o propósito de promover o Reino de Deus, focalizando a centralidade de Jesus Cristo e de sua obra vicária no pensamento e na vida dos cristãos.

Para produzir esta matéria, Ultimato preparou uma série de perguntas muito sérias e as enviou a líderes de seis diferentes denominações protestantes (batistas, congregacionais, episcopais, luteranos, pentecostais e presbiterianos) e a membros do clero católico romano (um padre, cinco bispos e dois arcebispos), todos igualmente responsáveis.

Nem sempre as respostas coincidem entre si, o que enriquece extraordinariamente o texto final. Todos foram honestos, educados e leais às suas convicções.

O contato com os bispos católicos deu-se através de Dom Ivo Lorscheiter, responsaável pela Dimensão Ecumênica e do Diálogo Inter-Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Dom Ivo aproveitou o encontro anual dos responsáveis nacionais e regionais dessa Dimensão Ecumênica, realizado em São Paulo, de 14 a 16 de maio, e distribuiu entre eles as questões levantadas pela revista.

Nas linhas e nas entrelinhas deixa-se transparecer que o pecador brasileiro continua precisando de convicção de pecado, arrependimento, conversão e de um único e suficiente Salvador, que é Jesus Cristo, morto e ressucitado. E que este recado básico tem que ser entregue a ele por todas as correntes cristãs com aboluta precisão. Sem chantagem, sem permuta, sem concessões, sem medo, sem rodeios e sem auxiliares, pois o sacrifício de Jesus foi suficiente para rasgar de alto a baixo o véu do templo (Mt 27.51), dando-nos a oportunidade e a intrepidez de entrar diretamente na presença de Deus pelo sangue de Jesus (Hb 10.19-22).

Eis em ordem alfabética os nomes e a apresentação sumária dos católicos e protestantes que participaram da matéria que se acha nas páginas seguintes.

Alan Pieratt – Presidente de Edições Vida Nova, em São Paulo, SP.

Amaury Castanho – Bispo coadjutor de Jundiaí, SP.

Antônia Leonora van der Meer – Coordenadora do Programa de Missiologia e Ministério Transcultural do Centro Evangélico de Missões (CEM), em Viçosa, MG.

Augustus Nicodemus Lopes – Professor do Seminário Presbiteriano José Manoel da Conceição, em São Paulo, SP.

Bertil Ekström – Professor do Seminário Batista, em Campinas, SP.

Boanerges Ribeiro – Pesquisador da História Social da Igreja Presbiteriana do Brasil, em São Paulo, SP.

Bonifácio Piccinini – Arcebispo de Cuiabá, MT.

Caio Fábio d’Araujo Filho – Presidente da Associação Evangélica Brasileira (AEVB) e da Visão Nacional de Evangelização (VINDE), em Niterói, RJ.

Carlos James dos Santos – Padre jesuíta, membro do Centro João XXIII, no Rio de Janeiro, RJ.

Ebenézer Soares Ferreira – Reitor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e membro do Conselho de Aliança Batista Mundial, no Rio de Janeiro, RJ.

Frank Arnold – Professor do Seminário Teológico Presbiteriano Independente, em Fortaleza, CE.

Guilhermino Cunha – Presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, no Rio de Janeiro, RJ.

Harry Bacon – Missionário inglês aposentado da Latin Link, em Guarapari, ES.

Hugolino de Sena Batista – Diretor da Biblioteca de Recortes, em Jundiaí, SP.

José Elias Chaves – Bispo Prelado de Camatá, PA.

José Ivo Lorscheiter – Bispo de Santa Maria, RS, responsável pelo Ecumenismo na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Lúcio Ignácio Baumgaertner – Arcebispo de Cascavel, PR.

Marcelino Correr – Bispo de Carolina, MA.

Moacyr Grechi – Bispo de Rio Branco, AC.

Nephtali Vieira Júnior – Ministro jubilado da Igreja Presbiteriana do Brasil, em Rio Claro, SP.

Paulo Leite – Presidente da União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil, no Rio de Janeiro, RJ.

Ricardo Barbosa – Pastor da Igreja Presbiteriana de Planalto, em Brasília, DF.

Ricardo Gondim – Pastor da Assembléia de Deus Betesda, em São Paulo, SP.

Robinson Cavalcanti – Ministro da Igreja Episcopal do Brasil, em Recife, PE.

Valdir Steuernagel – Pastor da Igreja de Confissão Luterana do Brasil e presidente da Fraternidade Teológica Latino-Americana.

Valdyr Carvalho Luz – Ministro jubilado da Igreja Presbiteriana do Brasil, em Campinas, SP.

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PERGUNTAS E RESPOSTAS

1. A Igreja Católica Romana é a mesma de 50 anos atrás?

Ricardo Gondim – A resposta deve ser ambígua. Sim, no que tange sua estrutura de poder (a hierarquia, o poder papal) e seus dogmas (transubstanciação, a imaculada conceição de Maria). Não, no que diz respeito especialmente a liturgia (missas na língua do povo). A Igreja Católica Romana não é a mesma. Tudo mudou depois do II Concílio Vaticano. A partir de então, passou a valorizar os leigos e a dialogar com outras vertentes cristãs (ortodoxas e protestantes).

Valdyr Carvalho Luz – Sim e não. No que tange ao arcabouço doutrinário, à estrutura dogmática, ao sistema administrativo, à questão da autoridade e do absolutismo eclesiástico, a Igreja Romana continua praticamente a mesma. Em decorrência da visão mais liberal de João XXIII, houve sensíveis mudanças na esfera litúrgica, na atitude para com outras correntes cristãs, e até para religiões não-cristãs, permitindo relacionamento mais fraterno, na valorização e participação do laicato, na ação social, na popularização da Bíblia, na distanciação da política secular, em que pesem os desencontros de tradicionais e progressistas. Nesse aspecto, já não é bem a mesma.

Guilhermino Cunha – Em essência, sim. Mas, em forma de expressar a fé, não. Os erros e distorções doutrinárias históricas vêm de longe. Em especial do Concílio de Trento. Vale mencionar algumas, isto na ótica de um calvinista histórico, de um protestante: uso de velas e rezas pelos mortos (320 d.C.); doutrina do purgatório (403); canonização de “santos” e imagens como objeto auxiliar do culto (890); eliminação do vinho na comunhão (1316); introdução dos livros apócrifos no canon do Antigo Testamento (1546); dogma da infabilidade papal (1870); e, em 1950, dogma da presença real e corporal de Maria no céu – assunção de Maria. Vejo mudanças na liturgia. Vejo abertura para leitura da Bíblia e orações. Vejo o surgimento dos católicos carismáticos-crentes. Há esperança. A Bíblia, a Palavra de Deus, não volta vazia (Is 55.10-11).

Ebenézer Soares Ferreira – De certo ponto de vista, não, embora a Igreja Católica Romana diga que Roma semper eadem (Roma é sempre a mesma).

Bertil Ekström – Não. A Igreja Romana tem sofrido profundas transformações nos últimos anos. Em 1963-65, o Vaticano II mudou, entre outros aspectos, a estratégia missionária e introduziu o diálogo com outros grupos cristãos de outras religiões. A estratégia do diálogo significa uma nova abertura no relacionamento com as chamadas “seitas” protestantes, com o propósito de reintegrar os dissidentes da Igreja Mãe. Somos irmãos, diz a leitura do diálogo, mas queremos vê-los de volta à verdadeira Igreja. Parece que muito da antiga aversão e até perseguição aos grupos evangélicos desapareceu, pelo menos a nível oficial. No aspecto teológico, a Igreja Romana foi obrigada a levar em consideração a Teologia da Libertação, que conseguiu muitos adeptos, não só na América Latina, como em outras partes do mundo. O pobre é alvo obrigatório da Igreja hoje em todas as suas atividades. Uma participação mais crítica e política também se nota após esta nova ênfase a favor dos pobres.

Dom José Ivo Lorscheiter – Nas coisas fundamentais ou essenciais, sim. Porque estas vêm do seu fundador Jesus Cristo. Penso nas verdades da fé, nos sacramentos, nos preceitos morais, na estrutura básica. O que mudou e deve mudar com os tempos, são aspectos secundários, culturais, de linguagem, de métodos pastorais. Penso no maior lugar para os leigos, nas liturgias mais vivas, no maior engajamento social.

Caio Fábio d’Araujo Filho – Não. Após o Vaticano II, a Igreja Católica mudou radicalmente. Ganhou uma cor mais latino americana, o que foi aprofundado pela Teologia da Libertação. Isso os tornou mais ecumênicos e mais aguerridos político-socialmente. Outra mudança drástica foi o surgimento do movimento carismático, que, curiosamente, os aproximou da tese da Reforma. Entretanto com a ascensão de João Paulo II, os ventos conservadores voltaram a soprar. Estes ventos deram, em parte, conta dos libertacionistas. Porém, graças ao crescimento evangélico, a Igreja teve de engolir o movimento carismático. Por enquanto, estamos assim no Brasil.

Valdir Steuernagel – A Igreja Católica Romana tem a virtude ou o defeito de mudar sem mudar. No decorrer dos séculos, ela tem mostrado uma incrível capacidade de sobreviver e de absorver as mais variadas crises, desafios e ênfases. Nas décadas recentes, especialmente a partir do Concílio Vaticano II e de Medelin 68, onde ocorreu a II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, a Igreja Católica mudou significativamente, desencadeando um arrojado processo de modernização, reevangelização e redefinição das suas alianças e do seu papel no mundo presente. Foi nesse contexto que nasceu a conhecida e importante opção preferencial pelos pobres. Mais recentemente e sob a inspiração do Papa João Paulo II, no entanto, tem se registrado um acúmulo de sinais indicando que o espírito do Vaticano II está sendo empurrado para a sombra, e um tipo de catolicismo mais fechado, conservador, ritualista e hierárquico começa a ocupar espaços predominantes na estrutura dessa igreja. Numa perspectiva crítica, até se poderia dizer que, ao mudar, o catolicismo está voltando para trás.

 

2. A Igreja Protestante hoje é a mesma de 50 anos atrás?

Dom José Ivo Lorscheiter – Devo e quero ser muito discreto em responder, porque não conheço suficientemente a sua realidade. Além disso, não é fácil agrupar sob uma denominação todas as Igrejas da Reforma. Estou pensando em dizer só isto, e com alegria: vejo diversas Igrejas Protestantes muito abertas ao diálogo ecumênico.

Valdyr Carvalho Luz – Não muito. A despeito da larga variedade denominacional, pode-se dizer do protestantismo brasileiro, em tese, que, embora no aspecto doutrinário não haja assinaladas mudanças, o espírito e a atitude para com a gente católica são muito mais abertos, amistosos, compreensivos, abandonada a postura polêmica do passado, sem os recalques e complexos então evidentes.

Ebenézer Soares Ferreira – A Igreja Protestante tem, também, sofrido modificações.

Guilhermino Cunha – Em essência, sim. Em expressão de fé, não. A Igreja Protestante compreenderia, basicamente, os grupos históricos. Nos últimos 50 anos tem acontecido uma verdadeira revolução espiritual. Com o evento do carismatismo, a maioria das denominações históricas experimentaram divisões e deram origem a outras denominações pentecostais, neo-pentecostais e igrejas independentes. Vemos o meio “evangélico” hoje desde uma ótica “protestante”. É possível perceber, pelo menos, quatro grupos distintos: os protestantes históricos, os pentecostais históricos, os neo-pentecostais e as igrejas independentes.

Bertil Ekström – Também a Igreja Protestante tem sofrido mudanças ao longo destes últimos anos. É difícil definir uma tendência uniforme já que os grupos evangélicos têm se multiplicado enormemente após a II Guerra Mundial. O movimento carismático, já presente nos anos 60 e 70 através, por exemplo, do Jesus People, e nas duas últimas décadas através do movimento neo-carismático, é outra mudança dentro da Igreja Protestante que não tem respeitado as barreiras denominacionais ou de tradição eclesiástica. Inclusive dentro do movimento carismático, protestantes e católicos muitas vezes têm se encontrado e achado valores comuns. Vejo ainda uma Igreja Protestante que mais e mais se envolve com a sociedade, participando tanto a nível comunitário como a nível nacional. Falta muito em termos de maturidade, mas tem havido um despertamento para a responsabilidade social e política da Igreja. No aspecto teológico e missionário  a Conferência de Lausanne (Suíça) em 1974 parece ter trazido uma tendência ao entendimento, cooperação e abertura ao ecumenismo que não se via antes.

Valdir Steuernagel – Há, hoje, uma evidente dificuldade de se falar da “Igreja Protestante”, uma vez que essa, do ponto de vista institucional, se encontra em profunda crise. Uma crise que está levando o protestantismo, em suas expressão clássica a desaparecer do cenário eclesial brasileiro que hoje se chama de evangélico. Eis, pois, uma mudança profunda. Se no passado a Igreja Evangélica era composta basicamente, excluído o fenômeno pentecostal, das igrejas protestantes, hoje estas representam uma minoria dessa crescente Igreja Evangélica, especialmente quando os grupos carismáticos e pentecostais são incluídos em tal designação. Há 50 anos, a então chamada “Igreja Protestante” era uma minoria escondida e perdida em meio a um grande universo católico. Hoje, a Igreja Evangélica é uma realidade incontestável num país que é menos católico e mais sincrético, uma vez que a presença dos cultos afro-brasileiros é claramente perceptível em vários segmentos da vida nacional. A realidade da Igreja Evangélica se deixa medir não apenas em termos numéricos, onde os dados estatísticos são de difícil verificação, mas se poderia falar de 15% da população total do Brasil. Mas essa presença se faz sentir também em outros segmentos da vida pública brasileira. Os Atletas de Cristo e os próprios políticos evangélicos seriam sinal desta mudança na presença evangélica no cenário nacional. Numa perspectiva crítica se poderia dizer que a perda de conteúdo e de presença crítica (afinal, ser protestante significa saber protestar) da Igreja Evangélica tem sido proporcional ao índice do seu crescimento. Hoje, a grande Igreja Evangélica tem se rendido às pressões e tentações do mercado religioso, produzindo uma igreja teologicamente superficial, pastoralmente vulnerável, eclesiasticamente encantada consigo mesma e profundamente voltada para o místico e o espetacular. A Igreja Evangélica carece de ser uma igreja que resgate os valores fundamentais do protestantismo histórico, onde o Cristo e a Palavra são as colunas da fé e onde a salvação é somente uma questão da graça de Deus.

 

3. Na Teologia Católica Romana a obra vicária de Cristo é tão central como na teologia Protestante?

Guilhermino Cunha – A teologia cristã na sua profundidade não é tão díspare. As grandes definições cristológicas foram anteriores à Reforma Protestante. Basta lembrar o Credo Apostólico e o Credo de Nicéia, nos séculos III e IV. O que o catolicismo popular passa para nós é um papel de co-redentora atribuído a Maria. O que não deixa de ser uma distorção da verdade bíblica, uma heresia. Assim, a minha resposta é que a obra vicária de Cristo não é tão central para a Igreja Católica, quanto o é para a Igreja Protestante. Temos que evangelizar os católicos, os espíritas e os protestantes não crentes em Jesus. Hoje há um número espantoso de ex-crentes, de desviados, que chega perto de 40% da membresia protestante atual.

Valdyr Carvalho Luz – Teoricamente, sim, mas na prática, realmente não. Na extensão em que sanciona a mariolatria, a eficácia do ex opere operato sacramentológico, o mérito salvífico das boas obras, a função remissiva da missa, a ação catártica do purgatório, o saldo superrogatório dos santos, a teologia católica tolda, obumbra, marginaliza a obra vicária de Cristo.

Ebenézer Soares Ferreira – Não, porque a Igreja Católica Romana elevou Maria à categoria de co-redentora com Cristo.

Bertil Ekström – Sim, na teologia oficial da Igreja Católica a obra vicária de Cristo é central. O problema está com a interpretação histórica feita pela Igreja em termos da aplicabilidade da obra de Cristo. Além de colocar as obras no mesmo nível da fé (senão na teologia, pelo menos na prática) também o universalismo da salvação traz problemas para uma coerência bíblica. Por exemplo, todos serão salvos através do purgatório, independente de sua aceitação de Cristo. Na teologia protestante enfatizamos que somente a fé salva. Porém, na prática, muitas outras exigências são colocadas para que uma pessoa seja, por nossas igrejas, considerada crente. Outra vez, precisamos diferenciar a teoria da prática, onde tanto a Igreja Católica quanto a Igreja Protestante assina a Confissão de Nicéia, mas nem sempre se contenta com isto.

Dom Bonifácio Piccinini – Sim, na teologia católica a obra vicária de Cristo é absolutamente central. Nós nos salvamos não por nossas obras mas por Jesus Cristo.

Caio Fábio d’Áraújo Filho – Não, embora toda ênfase da Igreja Católica nas obras está baseada no fato de que graças ao sacrifício vicário de Cristo a boa obra ganha eficácia.

Augustus Nicodemus Lopes – Infelizmente não, no meu parecer. Existe uma ambigüidade na teoria e na prática católicas com relação à obra de Cristo, que acaba por obscurecer a obra do Salvador. Por exemplo: a encíclica Mediador Dei de Pio XII (1947) começa reconhecendo o sacrifício redentor de Cristo nos parágrafos iniciais, mas logo em seguida, postula que o próprio Cristo quis que sua obra vicária (sacerdotal) continuasse sem interrupção no seu corpo místico, a igreja, através do ministério dos sacerdotes (padres), na celebração da missa. Outro exemplo: a encíclica Marialis Cultus de Paulo VI (1974), ao final, reconhece que Cristo é o único caminho para o Pai (parágrafo 57) – e isto após empregar os demais parágrafos para defender a doutrina de que Maria coopera na redenção dos pecadores. E neste mesmo parágrafo, defende a participação de Maria na obra de redenção. Além disso, os méritos obtidos por Cristo na cruz não chegam de forma direta aos pecadores. A teologia católica interpõe a Igreja Romana entre a obra de Cristo e o pecador. Os méritos de Cristo são infundidos sob a forma de graça aos fiéis através de sacramentos. A Igreja passa a ser a mediadora da presença e da ação de Cristo, através do batismo, confirmação, eucaristia, penitência, casamento, extrema unção e ordens religiosas. Assim, a obra vicária de Cristo tende a ser ofuscada pelas doutrinas da mediação da Igreja e dos sacramentos; e também (conscientemente ou não) pela ênfase dada no Catoliscimo brasileiro à mediação e as méritos dos santos e de Maria para  salvar e redimir, à doutrina do purgatório (onde, segundo a teologia católica, ocorre também expiação de pecados) e particularmente à “missa”. Segundo o Catecismo Católico Romano de Doutrina Cristã (pergunta 278), a missa é o mesmo sacrifício que Cristo ofereceu no Calvário; nela Cristo continua a oferecer-se a si mesmo sobre o altar (agora sem sangue) através do sacerdote. Não é de estranhar que a participação na missa, para os católicos, diminui a pena temporal dos seus pecados leves (veniais), sufraga as almas do purgatório, etc. Esse conceito certamente tende a enfraquecer a obra vicária de Cristo no Calvário. Assim, embora reconhecendo algumas vezes a centralidade da obra de Cristo pela introdução e a prática católicas, ao meu ver, ofuscam este conceito bíblico central pela introdução de dogmas provindos da tradição e do ensino da Igreja Romana.

 

4. Quais são hoje as principais diferenças entre católicos e protestantes?

Ebenézer Soares Ferreira – Para mim, são as mesmas de há séculos atrás. Roma ainda não abriu mão de nenhum dos seus dogmas. As principais doutrinas católicas rejeitadas pelos protestantes são: 1) A Bíblia não é autoridade suficiente em matéria de fé. Deve-se ouvir também a tradição. 2) O Papa é o soberano. Considerado sucessor de Pedro, é o cabeça da Igreja. Foi-lhe atribuída também a infalibilidade. 3) A missa é o sacrifício incruento (sem sangue) de Cristo no altar. Ali opera-se o que se denomina transubstanciação, que é a transformação das substâncias do pão e vinho nas substâncias do corpo e do sangue de Cristo pela consagração da Eucaristia. 4) Os santos têm poder de intercessão a favor dos homens. 5) A adoração de imagens. 6) A confissão auricular. 7) A existência do purgatório. 8) Os sete sacramentos.

Bertil Ekström – Depende de que protestantes e de que católicos estamos falando. Se, em ambos os casos, pensamos em fiéis ativos coerentes com a doutrina oficial, creio que as principais diferenças são (dependendo também da tradição eclesiástica): 1) A hierarquia da Igreja. 2) O universalismo da obra redentora na Igreja Romana comparado com o particularismo na Igreja Protestante, onde cada pessoa é responsável e livre para aceitar ou não. 3) A posição dos santos da Igreja. 4) A forte posição da Virgem Maria na Igreja Romana. 5) A exigência de testemunho e participação ativa que a Igreja Protestante faz aos seus membros. 6) A visão dos sacramentos

Valdyr Carvalho Luz – Difícil é catalogar minuciosamente as diferenças atuais que distinguem católicos de protestantes. Em suma, residem elas na autoridade da Bíblia, na unicidade redentora de Cristo, na forma e teor do culto, nas concepções mariológicas e hagiológicas, na atitude para com crendices e superstições, na consciência ética, na atitude pessoal para com os costumes e práticas da sociedade, na experiência pessoal de fé e na piedade cristã.

Dom Moacyr Grechi – Ministérios, sacramentos, organismos de decisão dentro da Igreja (por exemplo, o “Sínodo” tem um valor e um significado particular para cada denominação) e a participação de leigos nas decisões. Certos aspectos da Mariologia católica ainda constituem problemas para os protestantes: por exemplo, os dogmas da Imaculada Conceição e da Assunção.

 

5. Na relação das diferenças entre católicos e protestantes quais são as que mais dificultam a convivência entre os dois grupos cristãos?

Valdyr Carvalho Luz – A autoridade e infalibilidade do Papa, a pretensão da Igreja Católica de ser a única verdadeira, a devocionalidade mariana e hagiológica e a questão do culto, mormente a missa e as rezas.

Ebenézer Soares Ferreira – Parece-me que são a não suficiência da Bíblia em matéria de fé, a instituição do papado e a questão da missa.

Bertil Ekström – Para mim os maiores problemas estão no aspecto teológico das doutrinas fundamentais, conforme interpretamos a Bíblia. No convívio diário, creio, são os aspectos litúrgicos que mais incomodam. Como, por exemplo, o culto à Virgem Maria.

Dom Moacyr Grechi – Talvez seja essa impossibilidade de celebrar a Eucaristia (a Ceia do Senhor) em comum. Também o problema do reconhecimento dos ministérios das outras igrejas por parte da Igreja Católica.

Ricardo Gondim – Sem uma ordem de prioridades, os principais obstáculos são a veneração dos santos e das imagens de escultura, a doutrina do purgatório e as missas pelos mortos, a mariologia, a instituição papal, a colocação da tradição em pé de igualdade com as Escrituras, a condescendência do clero com a religiosidade popular pagã e a doutrina de que a Igreja que Jesus construiu é a instituição católica romana e não sua Igreja mística, composta por todos os que branquejaram suas vestes no sangue do Cordeiro.

 

6. Sob o ponto de vista protestante, quais são as divergências doutrinárias mais sérias entre católicos e protestantes?

Ebenézer Soares Ferreira – Julgo que sejam a missa, a posição do Papa como vigário de Cristo e a confissão auricular.

Bertil Ekström – A maior crítica do ponto de vista protestante é a declaração aberta da Igreja Católica de que a tradição da Igreja (conforme sua interpretação ao longo da história) é tão normativa quanto as Sagradas Escrituras. Aí entram as questões da hierarquia da Igreja, o papado, a posição de Maria, etc.

Valdyr Carvalho Luz – São os que se relacionam com os pontos a que me referi no ítem anterior – a autoridade e infalibilidade do Papa, a pretensão da Igreja Católica de ser a única verdadeira, a devocionalidade mariana e hagiológica e a missa – e seus corolários e aplicações.

Dom Moacyr Grechi – Depende muito de igreja e igreja. Mas, certamente, o conceito católico de Eucaristia como sacrifício e alguns aspectos da mariologia. O problema da justificação está sendo estudado e se prevê em breve uma compreensão comum.

Augustus Nicodemus Lopes – Seria injusto dizer que a Igreja Católica Romana de hoje é exatamente a mesma da época da Reforma, quando Lutero afixou as 95 teses na porta do Castelo de Wittemberg. Algumas modificações doutrinárias aconteceram, especialmente após o Concílio Vaticano II. Creio que algumas foram para melhor. Entretanto, alguns dos principais pontos da teologia católica medieval que provocaram a polêmica de Lutero, e posteriormente a saída (ou foi exclusão?) dos protestantes aparentemente não sofreram, durante estes últimos cinco séculos, alterações substanciais ou significativas. No meu entender, as divergências mais sérias foram (e continuam sendo) na área de autoridade religiosa, na doutrina da igreja (eclesiologia), e na doutrina da salvação (soteriologia). Quanto à primeira área, protestantes conservadores continuam discordando de que possa haver outra fonte de autoridade em matérias de fé e de prática que não as Escrituras. É verdade que o Concílio Vaticano II procurou suavizar as implicações da declaração do Concílio de Trento, de que a tradição da Igreja tinha a mesma autoridade que as Escrituras. Mas a posição final do Vaticano II ainda não parece suficiente para muitos protestantes, pois afirma que “a tradição sagrada, as Escrituras Sagradas, e o ensino autoritativo da Igreja… estão tão intimamente ligados, que um não pode subsistir sem o outro”. Muitos protestantes desconfiam que esta posição não fechou totalmente a porta através da qual entram na Igreja Católica ensinos como a transubstanciação (1215), adoração da hóstia (1220), a imaculada conceição de Maria (1854), o dogma da infalibilidade papal (1870), e da ascensão de Maria (1950). Quanto ao conceito do que seja a Igreja, aparentemente houve algumas modificações no ensino da Igreja Católica desde o Vaticano II. Falou-se da Igreja, não tanto como meio de salvação, mas como um sacramento e um mistério (embora a distinção nos pareça apenas semântica). Procurou-se diminuir a distância entre os leigos e a hierarquia, embora as ordens continuem a ser vistas como um sacramento. Admitiu-se que o reino de Deus é maior que a Igreja Católica, e os protestantes passaram a ser chamados de “irmãos separados” (entretanto, o Concílio continua afirmando que é a única igreja). E mesmo o papel do papa foi revisto, embora, ao fim, o dogma do Concílio Vaticano I permanecesse basicamente inalterado: o papa é infalível (imune de erro) quando fala ex catedra (da cadeira) sobre matérias de fé e moral, com o propósito de juntar a Igreja Católica como um todo. Portanto, já que não houve modificações substanciais, o conceito católico de Igreja (e do papa) continua representando uma séria divergência doutrinária entre protestantes e católicos hoje, como foi no século XVI. E finalmente, a controvérsia sobre o caminho da salvação permanece séria, já que a Igreja Católica (mesmo após Vaticano II) ainda ensina a cooperação de Maria na obra da salvação dos pecadores, conforme mencionado acima. Segundo João Paulo II em sua carta encíclica Redemtoris Mater (1987), Maria “… como serva do Senhor,coopera sem cessar na obra da salvação realizada por Cristo, seu Filho.” A despeito de todas as negações em contrário, os protestantes temem que este ensino (que não se encontra na Bíblia) acaba por ofuscar (e mesmo anular) o ensino bíblico da suficiência da obra de Cristo para salvar o pecador.

 

7. Sob o ponto de vista católico romano, quais são as divergências mais sérias entre católicos e protestantes?

Ebenézer Soares Ferreira – Não posso dizer nada a esse respeito.

Bertil Ekström – Do ponto de vista católico, parece que a maior preocupação está justamente em que os protestantes não se enquadram debaixo da autoridade da Igreja Mãe. Em muitos aspectos, a Igreja Romana vem imitando a Protestante, por exemplo, na forma do culto: cânticos, oração intercessória, participação leiga, etc. Mas a aparente superficialidade protestante no tratamento dos sacramentos (incluindo as funções sacerdotais) certamente são motivos de preocupação da parte dos católicos.

Valdyr Carvalho Luz – Cabe a um católico esclarecido responder a esta questão. Contudo creio que serão os mesmos que mencionei nos dois ítens anteriores, mudada a perspectiva e revertido o teor.

Dom Bonifácio Piccinini – A questão do ministério ordenado, o ministério universal do Papa, o número de sacramentos instituídos por Jesus e a interpretação das Escrituras.

 

8. O relacionamento entre católicos e protestantes em países não cristãos é o mesmo que em países cristãos?

Dom José Ivo Lorscheiter – Não me parece possível responder com uma avaliação geral. Por exemplo: conheço um pouco o Japão, onde os cristãos são uma pequena minoria. Não creio que lá o relacionamento entre católicos e protestantes seja melhor do que na Alemanha, na Inglaterra, no Brasil. A realidade e suas causas devem ser procuradas em outras fontes ou razões.

Valdyr Carvalho Luz – Não, em geral, porquanto em atmosfera desfavorável é de mister apresentar o mínimo factível de atrito, sob pena de tácita ou explícita rejeição dos “briguentos”… que se dizem todos cristãos.

Bertil Ekström – Em países cristãos a tolerância entre protestantes e católicos é menor. Em países onde ambos são minoria, existe uma abertura para diálogo, cooperação e até ajuda mútua. (Ver o terceiro parágrafo do artigo Evangelismo ou Proselitismo, na p.40.)

Ebenézer Soares Ferreira – Pelo que conheço, o relacionamento é bem melhor.

Antonia Leonora van der Meer – Trabalhei em Angola de 1984 a 1995. Entre missionários católicos e protestantes existem relacionamentos amistosos. Entre as igrejas católicas e protestantes há muito pouco contato. Mas é preciso diferenciar as igrejas protestantes: as que pertencem à Aliança de Evangélicos de Angola (AEA) têm muitas reservas em relação a qualquer forma de ecumenismo; e as que pertencem ao Conselho de Igrejas Cristãs de Angola (CICA) abertamente apoiam e promovem o ecumenismo. Creio que a explicação está no fato de que os missionários no passado preferiram desencorajar tais contatos para manter o controle do rebanho, em vez de permitir e ensinar uma maturidade capaz de avaliar tudo e reter o que é bom (1 Ts 5.21). Devo, contudo, esclarecer que, segundo as estatísticas, 60% dos angolanos são católicos e 20% protestantes. Em muitos católicos e em muitos protestantes, existe uma dependência espiritual-emocional de práticas religiosas tradicionais.

Valdir Steuernagel – Esta é uma pergunta difícil de ser respondida, uma vez que não vivemos esta experiência em nosso contexto. O conhecimento que tenho, no entanto, é que em situações tais onde os cristãos são absolutamente minoritários, a tendência é que haja uma maior propensão para que as diferenças sejam menos ressaltadas e caminhos de aproximação sejam, onde possíveis, buscados.

 

9. O relacionamento entre católicos e protestantes em países de predominância protestante é o mesmo que em países de predominância católica?

Ebenézer Soares Ferreira – Não. Há tolerância para católicos.

Valdyr Carvalho Luz – Não, porque em países de predominância protestante, dado o seu espírito mais tolerante, mais democrático, mais ecumênico, não são os católicos vistos como adversários ou inimigos, mas antes, como adeptos de uma corrente religiosa díspar, com iguais direitos e privilégios que os protestantes arrogam para si. Nos países de predominância católica o clima é outro e os protestantes são vistos como heréticos e inimigos da religião verdadeira, não muito de tolerar-se, jamais de aceitar-se.

Dom Lúcio Ignácio Baumgaertner – Historicamente, em países de predominância protestante, iniciou-se antes o relacionamento ecumênico, fraterno, enquanto que em países de predominância católica, o movimento ecumênico começou mais tarde.

Bertil Ekström – É difícil ser genérico. Se compararmos países onde as duas igrejas são antigas e possuem número significativo de adeptos nacionais, parece que não há muita diferença no relacionamento se a Igreja Católica ou a Igreja Protestante domina. Onde a Igreja Protestante é mais antiga e a Igreja Católica consta quase que exclusivamente de imigrantes de países católicos (o caso da Escandinávia), o relacionamento é fraternal e muito aberto. Inclusive a Igreja Católica integra os órgãos ecumênicos. Pode ser que haja uma mudança de atitude à medida que a Igreja Católica conquista o povo do país para o seu rol de membros. Onde a Igreja Católica é mais antiga, a tendência parece ser a mesma. Enquanto a Igreja Protestante fica entre as colônia de imigrantes não há maiores problemas, porém, à medida que avança entre os católicos e se torna uma ameaça, a reação tende a aumentar.

Valdir Steuernagel – Quando eu fui estudar nos Estados Unidos, tive a oportunidade de fazer alguns cursos num seminário católico. Ao ouvir alguns dos meus colegas de classe conversarem, eu os percebia usando uma linguagem que me era familiar. Ou seja, eles falavam no estudo da Bíblia e no grupo de estudo bíblico como eu estava acostumado a fazê-lo. A  minha percepção, pois, foi a de que num país de forte influência protestante, como os EUA, a Igreja Católica é bastante diferente do que na América Latina. Afinal, neste contexto ela precisa trabalhar a evangelização e não pode contar com um mercado “cativo” natural, como tem sido o caso por muito tempo no Brasil.

 

10. Para ter o perdão de pecados e a salvação eterna, o católico que crê no sacrifício expiatório de Jesus tem que abandonar o catolicismo e passar para a Igreja Protestante?

Guilhermino Cunha – Sim, tem. Pelas razões que mencionei ao responder duas perguntas anteriores a esta. Creio que um católico nascido de novo que passe a examinar a Bíblia com profundidade e compromisso de adotá-la como única regra de fé e prática, não tem como permanecer na Igreja Católica.

Ricardo Gondim – Não. Entretanto, deve se preparar para enfrentar preconceitos e ostracismos. Conheço diversas pessoas que tentam viver algumas verdades fundamentais do cristianismo (na ótica protestante) na Igreja Católica e sofrem tremendamente. Eles perdem espaço e passam a receber apelidos de “protestantes” no sentido pejorativo da palavra.

Caio Fábio d’Áraújo Filho –  Não, mas certamente terá grande dificuldade em crescer nesse caminho. Porém, a salvação é fruto da correta relação com o Senhor Jesus e não com a Igreja Protestante.

Bertil Ekström – Não, mas será difícil manter uma posição coerente com sua fé em Cristo e, ao mesmo tempo, conviver com o culto a Maria dentro do catolicismo popular brasileiro. Creio que existem muitos dentro do catolicismo que tiveram uma genuína experiência de salvação.

Ebenézer Soares Ferreira – Não é a igreja que salva. Se o pecador se arrepende de seus pecados, pede perdão e crê no sacrifício expiatório de Cristo Jesus, será salvo. Irá, logo em seguida, ou aos poucos, buscar um ambiente que esteja mais em sintonia com os ensinos bíblicos.

Dom Lúcio Ignácio Baumgaertner – Não, porque a Igreja Católica crê no sacrifício expiatório de Jesus para o perdão dos pecados.

Valdyr Carvalho Luz – Não necessariamente. A crença é matéria de foro íntimo e pode um católico perfeitamente crer só no sacrifício expiatório de Cristo para sua plena salvação, sem ter de filiar-se a uma Igreja Protestante. O problema é que sentir-se-á desambientado na órbita da Igreja Romana e, dada a natural afinidade de crença com a fé evangélica, melhor haverá de sentir-se no ambiente de uma Igreja Protestante. É uma conseqüência natural, não um fim precípuo.

Hugolino de Sena Batista – Para ter o perdão de pecados e a salvação, qualquer pessoa (católico, protestante ou espírita) precisa tão somente crer que Cristo levou a culpa dos seus pecados na cruz. Quanto ao sair ou não da Igreja Católica, vejo isso mais como conseqüência do que como condição. Creio que isso é uma decisão pessoal e, pelo que tenho notado, na maioria esmagadora dos casos, as pessoas saem da Igreja Católica e vão para a Protestante mais por afinidade de idéias do que por imposição de alguém.

Nephtali Vieira Júnior – Entendo que a segurança do perdão de pecados e da salvação eterna não está nesta ou naquela organização eclesiástica, mas no sacrifício expiatório de Jesus. Há sempre o perigo de pensarmos e agirmos como os discípulos de Jesus, que tolheram a liberdade de um expulsador de demônios sob a alegação de que ele “não segue conosco” (Lc 9.49).

 

11. A Igreja Evangélica brasileira ainda é acentuadamente anticatólica? Deve continuar assim?

Harry Bacon – Não acho que a Igreja Evangélica tem sido anticatólica. É a Igreja Católica que tem sido anti-evangélica, atitude hoje menos acentuada.

Bertil Ekström – A Igreja Evangélica tem sido anticatólica em muitos aspectos. Parece existir hoje uma crescente abertura, mas ainda achamos mais fácil aceitar movimentos extremados do pentecostalismo do que os católicos. A Igreja Evangélica não deve ser anticatólica, e, sim, pró-indivíduos. Isto é, não ganhamos nada colocando barreiras e enfatizando diferenças. Precisamos ser claros  em nossa base doutrinária e reafirmar a centralidade e singularidade de Cristo como único caminho de salvação. Não vejo a Igreja Católica como o nosso grande inimigo. Este tem outro nome!

Valdyr Carvalho Luz – Exceção feita de certos círculos mais estreitos e fechados, apesar de muita experiência negativa do passado, a Igreja Evangélica brasileira não é anticatólica, uma atitude negativa. É assinaladamente pró-bíblica, uma postura positiva. Em outros termos, a genuína Igreja Evangélica não estará preocupada em atacar ou combater a Igreja Católica, mas em semear o evangelho, proclamar a Cristo, a redenção na cruz do Calvário, a ensinar a verdade das Escrituras a todos sem distinção, esforçando-se sinceramente por que seu irmão católico venha a gozar da mesma liberdade vitoriosa em Cristo de que goza todo verdadeiro crente em Jesus. Não creio que deva a Igreja Evangélica mudar de atitude e rumo.

Dom Lúcio Ignácio Baumgaertner – O quadro das Igrejas Evangélicas no Brasil é muito complexo. Há no Brasil várias Igrejas Evangélicas que têm uma abertura ecumênica e não são anticatólicas.

Ebenézer Soares Ferreira – Em parte é, e deve continuar assim, em virtude da sua responsabilidade e missão de manter intangíveis os princípios bíblicos.

Caio Fábio d’Araújo Filho – É e provavelmente continuará assim, pois a igreja brasileira está cada vez mais neo-pentecostal, que tem um traço nitidamente anticatólico.

Robinson Cavalcanti – Em razão de vivermos sob a hegemonia religiosa do Catolicismo Romano, a Reforma do Século XVI se mantém atual. Por sua fidelidade aos postulados reformados é compreensível uma certa tensão com a Igreja Romana. Lamentavelmente temos visto um certo emocionalismo e irracionalismo, uma certa compulsão, não apenas anti-romana, mas também anticatólica, no sentido da universalidade histórica do cristianismo, de sua herança e dos seus símbolos. As divergências – profundas, até – não devem ser minimizadas, mas devem se dar em um clima de respeito e bom senso.

Ricardo Gondim – A Igreja Evangélica não é mais acentuadamente anticatólica. A apologia contra o catolicismo arrefeceu muito. A ênfase bíblica concentra-se muito mais nos cultos afro-brasileiros. Talvez porque para contestá-los não se exige maior profundidade de conteúdos; basta o zelo. A Igreja Evangélica deve continuar caminhando em termos mais amigáveis com a Igreja Católica, para ser ouvida e poder evangelizar os “católicos nominais”. A própria Igreja Católica admite que a maioria dos que emigraram para o protestantismo não eram católicos convictos; ela nunca os teve. Se o que importa é ganhar vidas para o Reino de Deus, a Igreja Protestante compensa falhas do próprio catolicismo evangelizando os “batizados”.

Valdir Steuernagel – Eu percebo a Igreja Evangélica brasileira como sendo, ainda, bastante anticatólica. Este, afinal, é um componente importantíssimo em sua história. É, porém, uma tendência que deve diminuir. É interessante observar, por exemplo, o quanto a Igreja Universal do Reino de Deus usa de uma linguagem e de símbolos que são importantes na tradição católica. Isso, apesar dos “chutes na santa”, que continuam a ser um efetivo instrumento de marketing. No entanto, à medida que o Brasil deixar de ser um país católico, os próprios evangélicos terão de perceber que não basta ser “contra algo” para ganhar a adesão de alguém. Para os evangélicos, eu diria, tem sido até cômodo afirmar sua identidade em contraposição ao ser católico. Esse tempo, no entanto, está chegando ao fim e os evangélicos terão de ficar em pé em função da sua própria proposta, da sua própria palavra e das suas próprias pernas.

 

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Ultimato perguntou ao missionário americano Frank Arnold se o anticatolicismo dos evangélicos brasileiros é algo trazido na bagagem dos missionários estrangeiros que implantaram o protestantismo no país no século passado e obteve a seguinte resposta: “Sem dúvida a pregação do Evangelho por parte dos missionários americanos pioneiros continha uma dimensão polêmica contra a igreja dominante na América Latina. Não obstante o sentimento pessoal dos missionários quanto a Igreja Católica (que, por sua vez tinha forte dimensão antiprotestante), era inevitável que a Igreja Protestante brasileira nas primeiras décadas tivesse uma característica distintivamente anticatólica. Isto seria o resultado natural da necessidade de quem se converte de uma fé para justificar uma ação. A intensidade desse zelo anticatólico dos convertidos foi revelada no Congresso do Panamá, realizado em 1916. Nessa ocasião, os norte-americanos se mostraram esperançosos de união, inclusive com a Igreja Católica. Esta tese não foi aceita pelos latino-americanos presentes”.

 

12. Poderia dar-se o caso de tanto a Igreja Católica como a Igreja Protestante estarem mais ciosas de suas tradições históricas e de sua sobrevivência do que de seu zelo e entusiasmo pela pessoa de Jesus?

Dom Bonifácio Piccinini – Principalmente em nosso tempo, pode ser uma tentação – para sobreviver – apegar-se às próprias tradições. Mas isso, geralmente acontece, ou pode acontecer, ao interno de certos grupos. Todavia não é a posição da Igreja oficial, nem católica nem protestante. Na verdade as igrejas devem buscar sempre, em primeiro lugar, o seguimento de Jesus Cristo no hoje da história.

Bertil Ekström – Sem dúvida. Porém a Igreja Protestante tem sido mais clara em sua mensagem acerca de Jesus.

Valdyr Carvalho Luz – Pode, infelizmente, e, em certos casos, tem acontecido. É preciso sempre lembrar que a Igreja é o instrumento da implantação do Reino de Deus, somente Jesus Cristo é o Senhor. A lealdade do cristão é primacialmente a Cristo, não à Igreja, por maior respeito que se lhe deva.

Ebenézer Soares Ferreira – Em parte, talvez.

Robinson Cavalcanti – Em muitos casos isso é verdadeiro. Ambos os lados têm que rever a sua eclesiologia. No lado protestante, o denominacionalismo e o sectarismo estreito e fragmentador. No lado romano, a reiteirada auto-imagem de ser a Igreja, única fundada pelo próprio Cristo, etc. Por outro lado, a onda neo-liberal enfatiza a competição e o mercado. As instituições religiosas não estão imunes a esse espírito do século.

Ricardo Gondim – Sim, infelizmente esse é o caso mais comum nos dois arraiais. Do lado protestante o sectarismo não se dá apenas em relação ao catolicismo, mas entre eles próprios. Batistas não aceitam o batismo dos presbiterianos; assembleianos proibem casamentos “mistos” com metodistas; pastores pentecostais necessitam voltar ao seminário para terem suas ordenações reconhecidas em igrejas históricas. A Igreja deve se preocupar em evangelizar e não em fazer prosélitos, em fazer discípulos e não em perpetuar sua instituição, em mudar ao mundo e não em gastar suas energias em guerras fúteis. (Veja Evangelismo ou Proselitismo?, p.40)

Paulo Leite – Este é um risco que todo zeloso corre, tanto na Igreja Católica quanto na Igreja Protestante.

Padre Carlos James dos Santos – É verdade, sim, que tanto católicos quanto protestantes parecem estar muitas vezes preocupados com suas próprias igrejas e instituições e não com o Reino de Deus. Isso ocorre toda vez que um acentua contra o outro a diferença em nome não sei de que “identidade”. A “identidade” de ambos é dada por Cristo e o critério de verificação de sua autenticidade é o amor ao próximo. Acentuar demais as diferenças não parece ser uma atitude autenticamente cristã. Por outro lado, afirmar a unidade não representa perder as diferenças. Católicos e protestantes devem encontrar razões para estarem unidos num mundo extremamente materialista e hedonista.

Valdir Steuernagel – A Igreja, antes de ser instituição, é e quer ser “corpo em movimento”. Mas é natural que esse corpo se institucionalize. Que crie suas estruturas e estabeleça os necessários mecanismos para o seu funcionamento. E, no momento seguinte, é quase inevitável que a instituição comece a se preocupar consigo mesma, zelar por suas tradições e lutar por sua sobrevivência. Este processo e esta experiência não são diferentes com a Igreja, seja ela a Católica Romana ou uma das múltiplas Igrejas Evangélicas.  O Evangelho de Cristo, no entanto, não se deixa enquadrar em processos de institucionalização. O Evangelho é livre e solto. É vitalmente dinâmico. A própria Igreja nasce com fruto do encontro com esse Evangelho e tem a vocação de colocar-se a serviço deste mesmo Evangelho. Conseqüentemente, para que o processo de institucionalização da Igreja seja saudável ele precisa ser aberto, criticável e relativizável. A Igreja, pois, busca por uma institucionalização que se coloque sob a constante avaliação do próprio Evangelho. Historicamente falando, todas as igrejas, católicas ou protestantes têm dificuldades com estes processos de institucionalização aberta. No caso da Igreja Católica Romana, este processo acaba sendo mais complicado e difícil porque ela é mais antiga e a maior igreja institucionalizada. Eu creio, no entanto, que Deus dificilmente desiste de nós e das nossas instituições. Portanto, enquanto o Evangelho encontrar alguma brecha e espaço para habitar entre nós, Deus insiste em se relacionar conosco na perspectiva de nossa conversão e conseqüentemente, de esperança.

 

13. O primeiro brasileiro a se ordenar pastor protestante foi o ex-padre José Manoel da Conceição, em 1864. Teria sido melhor para a causa do evangelho que ele continuasse na Igreja Católica e lá desenvolvesse uma reforma religiosa?

Bertil Ekström – A pergunta é hipotética e difícil. Lutero tentou permanecer na Igreja Católica Romana, mas foi expulso. Outros casos parecidos são encontrados em grande número na história. Uma reforma de dentro para fora seria melhor. Todavia não se muda facilmente a estrutura de uma igreja milenar.

Valdyr Carvalho Luz – Não, por certo. Conceição não teria condições de desencadear um movimento reformador de impacto. A história está pontilhada de casos de cléricos e grupos que, fugindo à rigorosa linha de obediência e sujeição às autoridades superiores da Igreja, não tiveram êxito em sua causa por mais santo que lhes tenha sido o propósito. Um movimento reformador da Igreja Católica somente se processará se o Espírito Santo iluminar o Vaticano, o cérebro da Igreja, levando papa e cúria a abraçar a verdade do Evangelho, o que humanamente parece improvável.

Ricardo Gondim – Dificilmente Conceição sobreviveria no catolicismo de 1864. Nos idos do século passado a Igreja detinha o monopólio religioso brasileiro e deixava bastante claro que não nutria simpatia pelo protestantismo. Em várias cidades, colportores que vendiam Bíblias foram apedrejados. Crentes tiveram dificuldade de enterrar os seus mortos e igrejas foram danificadas. A intolerância era tamanha que se José Manoel da Conceição permanecesse no catolicismo, teríamos apenas uma lembrança de seu martírio.

Dom José Elias Chaves – A Igreja como realidade divina mas também humana necessita constantemente de uma renovação para permanecer sempre fiel ao Evangelho. No tempo de José Manoel da Conceição certamente também era necessária esta renovação. Por exemplo, uma vida cristã mais inspirada na Bíblia do que somente em devoções populares, talvez. Conceição optou passar para a Igreja Presbiteriana, enquanto tantos outros optaram e optam por permanecer na Igreja Católica e contribuir permanecendo dentro dela, para essa renovação.

Boanerges Ribeiro – Não tenho meios de opinar como teria sido a história se, 130 anos atrás, um fator tivesse sido alterado. Quanto a Conceição, ele próprio fala, naquela época. Suas palavras vêm transcritas na página 121 do livro José Manoel da Conceição e a Reforma Religiosa. (Veja o depoimento de José Manoel da Conceição, sobre o título O que devia eu fazer, na p. 30).

Frank Arnold – Creio que não. Se Conceição tivesse permanecido na Igreja de origem, a hierarquia não lhe daria abertura para tal reforma, por causa de suas convicções sobre a Bíblia. Não podemos esquecer que Conceição ganhou o nome de “Padre Protestante”, quando ainda agia como sacerdote romano. Como pastor protestante, ele não foi aquele implantador de igrejas, como queriam os missionários pioneiros. Por demonstrar um estilo missionário e evangelizador que respeitava e valorizava a cultura, Conceição nos legou um exemplo vivo de missão verdadeiramente “encarnacional”. (Veja uma pequena biografia de Conceição em O Padre José, na página seguinte).

 

14. Sabe-se de vários padres que se tornaram protestantes. Existem casos conhecidos de pastores que se tornaram católicos?

Bertil Ekström – Não conheço nenhum caso, porém deve existir. Sei de evangélicos ativos que se tornaram católicos ardorosos.

Ebenézer Soares Ferreira – Conheço um único caso: o do pastor Eurípedes Cardoso de Menezes, que se tornou grande líder católico.

Valdyr Carvalho Luz – Uns poucos. No exterior, mormente na Alemanha luterana e na Inglaterra anglicana, casos que tais têm havido. No Brasil, sei apenas de dois: Eurípedes Cardoso de Menezes e Salomão Ferraz.

Dom José Elias Chaves – Sim, existem fora do Brasil e no Brasil também. Alguns nomes são bem conhecidos: Max Thurian, da Comunidade de Taizé, o Cardeal Newman, que era anglicano. Mais recentemente, depois da decisão da Igreja da Inglaterra de ordenar mulheres, muitos ministros anglicanos e um bispo pediram para ingressar na Igreja Católica. No Brasil, entre os pastores convertidos para a Igreja Católica mais conhecidos, estão Erípedes Cardoso de Menezes e Francisco de Almeida Araújo, este com toda a sua família.

Robinson Cavalcanti – Não conheço, nem nunca ouvi falar. Simples membros de igreja, sim. Conheci um frade ex-batista e uma noviça oriunda de família assembleiana. São casos muito raros.

 

15. É certo dizer que no Brasil há um catolicismo oficial e outro popular?

Caio Fábio d’Áraújo Filho – Sim. E é bom acrescentar que o catolicismo oficial não tem controle sobre o catolicismo popular.

Valdyr Carvalho Luz – Talvez não seja bem essa a nomenclatura. Preferia falar de nominal (gente que se diz católica, entretanto, em completa alienação para com a Igreja) e de praticante (a minoria que leva a sério seus deveres religiosos).

Bertil Ekström – Sim. O catolicismo popular brasileiro, fortemente sincretista, domina a vida religiosa do “povão”católico.

Dom José Elias Chaves – Poderíamos dizer que existe sim um catolicismo popular e um catolicismo oficial, mas como duas dimensões da mesma fé católica, do modo de viver essa fé católica. O catolicismo popular sem o catolicismo oficial se esvaziaria de sentido e se tornaria pura religiosidade. Enquanto que o catolicismo oficial sem o catolicismo popular, correria o risco de se tornar letra morta, puro intelectualismo.

Ebenézer Soares Ferreira – Sim. Getúlio Vargas, quando deputado, já apontava essa diferença: “A alta sociedade adota um catolicismo um tanto cético e elegante. A grande massa ignorante está na fase fetichista da adoração dos santos com várias especialidades milagreiras”. (O País, Rio de Janeiro, 29/08/1925.)

Padre Carlos James dos Santos – As expressões “catolicismo popular” e “catolicismo oficial” tornaram-se muito recorrentes na sociologia religiosa dos anos de 1970. Elas foram e ainda são empregadas para dar conta das diferentes práticas e representações que ocorrem no interior da Igreja Católica, opondo, de um lado, o sistema erudito e sacerdotal da hierarquia católica, de outro, os sub-sistemas relativamente autônomos que envolvem diversos tipos de agentes populares religiosos, os quais agem independentemente dos padres e de seus controles sobre as suas crenças e práticas religiosas. É necessário reconhecer, entretanto, que essas oposições não são de exclusão, mas de complementaridade. No caso do “catolicismo popular”, por exemplo, predominam elementos de práticas devocionais, relacionadas sobretudo aos santos, que já fazem parte do “catolicismo oficial tradicional”. Da mesma forma, o “catolicismo oficial” é obrigado com freqüência a integrar elementos da cultura popular, tornando-as de algum modo oficial. Um exemplo mais recente é a autorização oficial para que elementos da cultura afro-brasileira sejam integrados nas celebrações eucarísticas. As relações entre ambos os “catolicismos” variam de acordo com a época e país, ora sendo de maior tolerância, liberdade, respeito e acolhida da parte “oficial” em relação ao “popular”; ora de desmantelamento de suas tradições, de enquadramento de suas práticas e representações segundo moldes uniformizantes, sobretudo quando definidos unilateralmente por Roma. O Evangelho de Cristo é sempre normativo para todos, tanto para os que se imaginam os mais “ortodoxos” e “oficiais”, como para os que lutam para preservar sua autonomia e valores.

Valdir Steuernagel – Há, certamente, vários tipos de catolicismo no Brasil. O próprio catolicismo oficial não é monolítico. O catolicismo é certamente maior do que o Papa, seu líder maior. As diferentes ordens religiosas, por exemplo, não deixam de ser oficiais, mas elas podem ser bastante diferentes entre si. Quanto à expressão popular do catolicismo, eu apontaria em duas direções. Numa delas, o catolicismo se apropriou de elementos de expressões religiosas indígenas, negras e mesmo espíritas, num esforço catequizador, gerando uma espécie de catolicismo popular sincrético. Mas o reverso também aconteceu. As religiões afro-brasileiras, no afã de conquistarem espaço, aceitação – e até mesmo como disfarce – acabaram incorporando, na sua expressão religiosa, elementos do catolicismo. É por isso que é possível encontrar os mesmos santos, mas com nomes diferentes, tanto na Igreja Católica como na expressão religiosa afro-brasileira.

 

16. No Brasil, a tolerância católica com os cultos afros é muito grande e estes são muitas vezes admitidos como manifestações “culturais”, enquanto no meio protestante em geral tais cultos são fortemente rejeitados e considerados de inspiração demoníaca. Qual postura lhe parece mais adequada para alcançar os praticantes dos cultos afros?

Dom Amaury Castanho – De fato há muitos católicos que participam de cultos afro-brasileiros sem estarem conscientes da contradição que isso representa. Na história, a Igreja Católica nem sempre assumiu uma atitude de tolerância e de respeito quanto aos cultos afro. Hoje em dia, de fato, na Igreja Católica há uma busca de diálogo com todas as religiões e também com os cultos afro. No meio protestante, a rejeição é muito grande, embora entre as Igrejas Protestantes históricas estejam mais abertas as possibilidades de diálogo com estes cultos. A postura mais evangélica e adequada é a atitude de respeito, de diálogo e de caridade para com todos, o que não implica em aceitação das crenças afro-brasileiras.

Bertil Ekström – Uma atitude de tolerância e de abertura sincretista não ajuda o avanço da Igreja Cristã. Cria apenas confusão e superficialidade na fé. Creio que é necessário clareza quanto à mensagem bíblica e uma clara definição do que é cultura e do que é religião. Por outro lado não existe cultura neutra de influências religiosas, o que torna a aceitação dos elementos culturais problemática. Mas a tentativa de separar as coisas precisa ser feita, senão nada de cultural pode ser utilizado.

Valdyr Carvalho Luz – Fiel ao princípio de soberania absoluta da Bíblia como regra de fé e prática, o protestante esclarecido rejeita influências e tradições espíritas, fugindo a todo e qualquer sincretismo religioso. Por isso, ainda quando não os veja como satânicos, descarta manifestações culturais, litúrgicas ou devocionais de cunho afro (ou oriental) como estranhos ao Evangelho puro.

Valdir Steuernagel – Qualquer tarefa evangelizadora requer o apurado exercício de discernimento no que se refere à assimilação e à ruptura. Dependendo do que se trata, ambos são legítimos e necessários. Qualquer exercício evangelizador também requer a denúncia e a ruptura no que se refere a crenças, práticas e costumes de um determinado contexto. No caso das religiões afro-brasileiras, a fé evangélica tem dito que a ruptura é necessária porque, neste caso, se está tratando de uma prática religiosa que é incompatível com o conteúdo e os valores da fé cristã. Ou seja, com a idolatria não é possível compactuar. No caso histórico da Igreja Católica, ela tentou fazer pontes e se deu mal. Não evangelizou devidamente e foi engolida por uma cultura e prática religiosa e profunda, gerando o que chamamos anteriormente de sincretismo. A postura bíblica requerida neste contexto é a ruptura, o que não significa dizer que a cultura tipicamente brasileira é per se, demoníaca. A cultura brasileira, como uma expressão cultural entre tantas outras traz elementos, tanto da mão criadora de Deus como da queda humana.

 

17. Não poucos católicos brasileiros professam crenças espíritas e continuam oficialmente católicos. O mesmo fenômeno ocorre no ambiente protestante?

Valdyr Carvalho Luz – Não, porque o crente em admitindo só o ensino das Escrituras, não pode conciliar sua fé na verdade do Evangelho com a filosofia e prática do espiritismo, completamente díspares e conflitivos. Ou se mantém crente, infenso ao espiritismo, ou deixa de ser crente para seguir o engano do espiritismo.

Dom Amaury Castanho – Realmente, não poucos católicos aceitam, por exemplo a reencarnação e continuam declarando-se católicos. Tal atitude é contraditória, explicada pelo infantilismo religioso dos mesmos. Há um esforço para o seu esclarecimento. Pode ser que existam protestantes que professem alguma crença espírita, porém não parece ser um fenômeno freqüente. Não há estatísticas confiáveis a respeito.

Caio Fábio d’Araújo Filho – Não creio, pois o protestantismo exige envolvimento pleno. Se acontecer é exceção e, provavelmente, dá-se entre os protestantes mais próximos do estilo católico.

Ebenézer Soares Ferreira – Até hoje não soube de nenhum caso.

Bertil Ekström – Não na mesma proporção, porém existe muito de superstição e magia no meio protestante.

Robinson Cavalcanti – A tradição protestante brasileira é de militância, exclusivismo e doutrinação. A permanência de crença residuais espíritas pode até ser possível entre neófitos mas de certo nunca entre veteranos.

Valdir Steuernagel – A presença de crenças e práticas espíritas é muito profunda no contexto brasileiro, permeando setores enormes e significativos da nossa sociedade. Como a Igreja Católica não trabalhou com a postura de ruptura, ela acabou gerando uma grande confusão, da qual não consegue se libertar. É por isso que se pode encontrar tantos “católicos espíritas” entre nós. No ambiente protestante isso não acontece na mesma proporção, justamente porque o protestantismo em sua grande maioria apregoou a necessidade de ruptura, afirmando a impossibilidade da convivência entre a fé cristã e as expressões religiosas de cunho espírita. Do ponto de vista de visão do mundo e da prática cotidiana, no entanto, não se poderia dizer que as Igrejas Evangélicas estão livres de que a sua gente pense e aja em termos espíritas. À proporção que o cristianismo vai passando a ser nominal, por exemplo, a Bíblia já não é aprofundada e estudada e a evangelização passa a ser meramente quantitativa, a influência da cosmovisão e das práticas espíritas passa a ser uma realidade também entre fileiras evangélicas. Eu diria ainda que à medida que a prática evangelizadora evangélica passa a trabalhar simplesmente com a ênfase na cura, nas manifestações excepcionais, seja a nível de expressão dos dons ou de batalha espiritual, ela está introduzindo elementos de uma religiosidade de negociação e de resultados, de consumo e de mínimas conseqüências éticas, que a própria Palavra de Deus desconhece. Pois esta prática religiosa que não conduz nem desafia os seus “consumidores” a uma ruptura profunda a nível de transformação de mente e de vivência dos frutos do Espírito, acaba confundindo e relativizando a própria natureza e os princípios básicos da fé cristã. Este não é um caminho, mas apenas um beco sem saída.

 

18. Desde 1977, a Editora Ultimato envia a revista Ultimato a mais de cinco mil paróquias católicas do Brasil. Nossa intenção não é ver padres abandonando a Igreja Católica e ingressando na Igreja Evangélica, mas ver padres católicos e pastores protestantes cada vez mais comprometidos com Jesus Cristo e dependentes da instrução e da edificação da Palavra de Deus, em matéria de fé e prática. Nossa estratégia lhe parece correta?

Ebenézer Soares Ferreira – A estratégia tem seu mérito.

Caio Fábio d’Araújo Filho – Sim, sem dúvida. Quanto mais informações tiverem sobre a Palavra de Deus melhor para eles tanto como pessoas como enquanto ministros. Além do mais, isso certamente reverberará para as ovelhas.

Dom Amaury Castanho – Se esta é a intenção, ela é boa e louvável. Quanto à estratégia, não basta enviar a revista para que os padres e pastores fiquem mais comprometidos com Jesus Cristo. Talvez seja mais produtivo estimular mais o diálogo ecumênico, o conhecimento e a estima recíprocos em Cristo, promover ações comuns e a meditação da Palavra de Deus juntos.

Bertil Ekströn – Sem dúvida. Se os padres católicos tiverem uma experiência genuína com Cristo e descobrirem os fundamentos bíblicos da fé, haverá uma revolução dentro da Igreja Romana e da sociedade brasileira. Creio, inclusive, que existem padres que já estão neste caminho, escolhendo ficar dentro da Igreja para pregar aos que, quem sabe, nunca ouviram.

Valdyr Carvalho Luz – Sim. Esse é o espírito e esse é um bom caminho. Prouvera o Espírito de Deus iluminasse a tanto padre sincero e dedicado para que visse a verdade do Evangelho, recebesse a Jesus como seu único e real Salvador e Senhor e passasse a gozar desta vida abundante de redimido do Senhor.

Harry Bacon – Aprecio muito esse esforço de enviar Ultimato aos padres. As cartas deles que aparecem na revista têm sido animadoras e, às vezes divertidas. Não é preciso visar uma finalidade ecumênica. A reação deles e a sua atuação em seguida fica lá com eles.

Paulo Leite – A estratégia me parece correta, pois não basta ser chamado de padre ou pastor somente. É preciso que ambos tenham compromisso com o Senhor Jesus.

Guilhermino Cunha – Entendo que sim. Se Ultimato fosse sectária, não seria lida. Falaria apenas a um gueto. A verdade bíblica liberta. Uma revista que veicula a Palavra de Deus e que fala de Jesus com clareza e coragem, abrange e transforma tanto a protestantes, quanto a católicos e espíritas.

Augustus Nicodemus Lopes – Sim. Evidentemente, padres católicos e pastores protestantes que venham a se comprometer com Jesus Cristo, e a depender mais e mais somente da instrução das Escrituras (e não das tradições católicas e protestantes), desejarão servir a Cristo dentro de estruturas religiosas e doutrinárias que reflitam cada vez mais acuradamente o ensino bíblico sobre culto, oração, fé e prática pastoral. Neste caso, não é impossível que padres católicos decidam passar para igrejas que se aproximem mais do ensino das Escrituras. E certamente pastores protestantes que desejam guiar sua vida e ministério somente pela palavra de Deus acabarão por perceber que há formas de protestantismo que contradizem o ensino das Escrituras em algumas partes, e possivelmente desejarão (se não puderem reformá-las) servir a Cristo dentro de formas mais puras de igreja.

 

19. Apenas 12% dos católicos brasileiros são praticantes. Quem vai levar a Cristo a multidão de católicos não praticantes?

Ebenézer Soares Ferreira – O grande escritor e líder católico Gustavo Corção dizia que no Brasil só havia 10% de católicos praticantes. Por isso, os evangélicos devem redobrar seus esforços para levar-lhes o genuíno evangelho de Cristo Jesus.

Caio Fábio d’Araújo Filho – Essa é uma tarefa que está sendo levada a cabo por evangélicos e por católicos carismáticos. E essa vai ser a “briga” pelos próximos anos.

Dom Marcelino Correr – A Igreja Católica está assumindo a sua responsabilidade com relação aos católicos não praticantes através de inúmeros meios, tais como: 1) uma nova evangelização rumo ao terceiro milênio; 2) formação de agentes pastorais, visando um trabalho de evangelização das “massas afastadas”; 3) multiplicação e revitalização das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs); 4) Revalorização da religiosidade popular; e outros meios utilizados nas diversas regiões. Ultimamente, um meio de grande importância na evangelização, e que está sendo utilizado em quase todas as dioceses do Brasil é a TV Vida, através de antenas parabólicas (3.500.000), já com trinta repetidoras e 148 novas concessões. Além das 170 emissoras católicas de rádio, das quais duas cobrem todo o território nacional: a Rádio Aparecida e a Rádio Canção Nova.

Valdyr Carvalho Luz – Essa é uma pergunta angustiante, dolorosa, cruciante, que corta o coração. Esses milhões no Brasil e no mundo, vivendo ou vegetando sem Deus, sem Cristo, sem a experiência salvífica da genuína conversão, desperdiçando a vida nos enganos do mundanismo, animalizados e entregues às seduções do pecado, clamam por mensageiros que lhes levem as boas-novas da salvação. É isso o que nós, evangélicos, nos propomos a fazer. Entretanto, como seria diferente, se no âmbito da Igreja Católica do Brasil soprassem as auras de uma nova era de visão espiritual e todos, em comunhão com Cristo, e sob iluminação do Santo Espírito, se voltassem à verdadeira evangelização! Então, seríamos uma só Igreja, a fiel Igreja por que Cristo deu a vida. Se outra coisa não podemos fazer, podemos, ao menos, orar instantemente a que venha esse despertamento. Que os anjos digam amém.

Bertil Ekström – Em parte é responsabilidade dos católicos que conhecerem a Cristo como Salvador e Senhor pessoal e resolverem permanecer no meio católico. Porém, temos como Igreja Evangélica o enorme desafio de alcançar os secularizados de nossa sociedade. Por isso não precisamos, em primeiro lugar, colocar os católicos praticantes como alvo de nosso trabalho, mas os secularizados, os espíritas e os de outras religiões existentes no país.

Nephtali Vieira Júnior – Católicos e protestantes cristãos praticantes têm a responsabilidade de levar católicos não praticantes e protestantes frios ao encontro de Cristo, “pois não há sob o céu outro nome dado aos homens pelo qual devemos ser salvos” (At 4.12 em a Bíblia de Jerusalém).

Valdir Steuernagel – A tarefa de evangelização não é uma questão de rótulos. Não é a vocação de uma determinada sigla religiosa. É tarefa de toda a igreja. Igreja esta que está espalhada entre tantas diferentes igrejas. E, historicamente, se pode dizer até que quando uma determinada igreja não evangeliza mais, o Espírito de Deus levanta outra que se dispõe a fazê-lo. A multidão de brasileiros que não conhecem o Evangelho deve, pois ser evangelizada por aqueles que, tendo conhecido esse mesmo Evangelho, sentem-se desafiados a transmití-lo e vivê-lo, por assim dizer, em tempo e fora de tempo. O mandato de evangelização não obedece a critérios de mercado. Ou seja, o fato de vivermos num país de memória católica não significa nem que este povo de memória esteja evangelizado e nem que ele já não precise ser evangelizado. Aliás, a tarefa evangelizadora nunca acaba. Ela precisa ser uma tarefa contínua da igreja. Cada nova geração, por exemplo, precisa do seu próprio encontro com a evangelização. Com essa afirmação, eu estou dizendo duas coisas: 1) A Igreja Católica não tem o direito de acusar as Igrejas Evangélicas de estarem “roubando” os seus membros, quando estes não têm a consciência e a experiência de serem membros de um corpo que, para eles se chame de igreja. 2) E nem os evangélicos têm a vocação para “roubar” da Igreja Católica aquelas pessoas que têm consciência de terem sido vocacionadas por Deus para a tarefa evangelizadora em meio e a partir do seu próprio contexto, por mais difícil que isso possa parecer, em determinadas situações. A evangelização é coisa de Deus. Coisa que Deus confia a pessoas como nós. Pessoas que precisam e tendem a institucionalizarmos caminhos da confiança evangelizadora que Deus nos confiou. E pessoas que tendem a esquecer-se deste ato de confiança e começam a se preocupar, prioritariamente, com a sobrevivência de sua própria instituição. Mas, como Deus é livre para cumprir com o desejo do seu próprio coração, ele bate a qualquer porta de sua escolha, confiando a quem queira ouvir e ver o privilégio de “proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.10).

 

20. Há movimentos dentro da Igreja Católica brasileira esforçando-se pela prática de um cristianismo autêntico?

Ebenézer Soares Ferreira – Sim. Tenho sentido que tem havido grandes esforços por parte de alguns para deixar para trás o grande número de inovações, impurezas, que se lhes apegaram, durante os séculos, com o propósito de voltar às origens bíblicas.

Caio Fábio d’Araújo Filho – Sim, os católicos carismáticos por um lado, e, por outro lado, a seu jeito, uma ala libertacionista.

Valdyr Carvalho Luz – Certamente os há, mas, até onde sei, não assumem proporções notórias, o que é muito de lamentar-se.

Alan Pieratt – Nunca tive muito contato com o catolicismo praticado no Brasil, nem com os movimentos de renovação que estão despontando hoje. Mas estudei muito os pais católicos da Igreja (Agostinho, Anselmo, Aquino e outros) e, como muitos outros teólogos protestantes, beneficiei-me grandemente com as obras deles. Esses teólogos iluminam para nós, de modo profundo, a natureza e a obra maravilhosa de Cristo. Somente posso dizer que, à proporção que esses movimentos de renovação seguirem os ensinos dos teólogos católicos clássicos, acredito serem autênticos e plenamente cristãos. Por outro lado, o problemas que nós protestantes temos com as instituições e com os movimentos católicos é que eles carregam nos ombros o peso acumulado de vinte séculos. Desde a época de Cristo, a Igreja Católica recusa-se a se reformar e, assim, acumulou uma enorme quantidade de doutrinas, práticas, costumes e instituições desnecessárias e inúteis. Assim, mesmo ao se renovarem, os grupos católicos carregam um peso lamentável de ensinos distorcidos.

Dom Marcelino Correr – Sem dúvida, inúmeros são na Igreja Católica brasileira os Movimentos e as Pastorais que promovem a prática de um cristianismo autêntico, principalmente nas periferias, entre os excluídos. Pelo Brasil afora as Pastorais (da Família, da Juventude, C.P.T., Sociais) conscientizam os participantes a respeito de um testemunho cristão. Cursos bíblicos, catequese em todos os níveis, encontros de liturgia e Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) visam formar líderes para atuar nas massas afastadas. Além disso, aumenta em toda parte o número de movimentos de espiritualidade que levam os participantes a assumirem seu compromisso missionário. Assim tempos grupos de Renovação Carismática Católica (RCC), grupos de catecumenato, Legião de Maria, Movimento dos Focolares e outros mais tradicionais. Voltam, além disso, as missões populares que arrebanham os mais afastados com os quais realizamos um trabalho contínuo de evangelização depois das missões.

Bertil Ekström – Vejo partes da Renovação Carismática Católica no Brasil indo por este caminho. Questões centrais do Evangelho, como justiça e paz, também são enfatizadas pelas Comunidades Eclesiais de Base.

 

21. A Renovação Carismática Católica é obra do Espírito Santo?

Alan Pieratt – Não vejo nenhuma razão para não crer que o Espírito encheria um católico tão prontamente quanto um protestante. Somos salvos pela graça, não pela precisão doutrinária. Qualquer pessoa que pense o contrário não entendeu bem a natureza de nossa salvação, que se dá sola gratia.

Robinson Cavalcanti – A obra do Espírito Santo é sobre o conjunto da Igreja, povo de Deus na segunda Aliança. Em cada episódio ou movimento em que o Espírito esteja presente, permanece, simultaneamente, a obra da carne e a tentação demoníaca. Há que discernir com o tempo e pelos frutos. Muitos ex-católicos carismáticos têm se tornado protestantes. Positivamente, na Renovação Carismática Católica, registramos o louvor, o estudo bíblico e a santificação. E, negativamente, uma certa alienação conservadora sócio-política e a permanência de crenças e doutrinas da tradição romana (papado, marianismo, etc).

Ricardo Barbosa – Houve um tempo em que responder a uma pergunta como esta era razoavelmente simples. Hoje não é mais. Da mesma forma como não é simples afirmar se algumas igrejas evangélicas “neo-pentecostais” são ou não uma obra do Espírito. Acredito que a Renovação Carismática Católica é uma obra do Espírito Santo na medida em que promove dentro da igreja uma renovação na devoção e relação pessoal com Deus na mediação de seu Filho Jesus Cristo, e um resgate da centralidade da Palavra de Deus como fundamento para a fé e missão. Isto tenho percebido no testemunho de alguns católicos carismáticos que conheço pessoalmente.

  1. Parabéns à Equipe da Revista ULTIMATO pela excelente discussão entre os representantes dos diversos seguimentos religiosos… Considerando que o nosso DEUS – criador do céu e da terra é único – e que todos nós somos filhos de Deus, não era para haver “essa divisão” entre as igrejas… Mas entendo que, “essa divisão” – com certeza – não agrada a Deus, nosso Criador, porque é fruto de interpretações equivocadas das Sagradas Escrituras (Bíblia Sagrada), traduzidas por homens, com todas as suas deficiências naturais dos seres humanos falíveis e não por “anjos”… No entanto, com o devido respeito a todas igrejas e religiões, penso e acredito que “IGREJAS” devem ser vistas como “ESCOLAS” que ensinam qual o “melhor caminho” de nos levar até DEUS … seguindo os exemplos e os ensinamentos de JESUS, o Cristo … é questão de FÉ … o resto é vaidade, arrogância, presunção, prosopopeia e insídias do satanás, para dividir o povo de DEUS…

  2. Trabalho parcial e forçado. Tendendo ao protestantismo.
    Não vejo neutralidade algum neste trabalho, a começar pelas perguntas elaboradas. Com todo respeito.
    Exemplo: quando se pergunta: “Na Teologia Católica Romana a obra vicária de Cristo é tão central como na teologia Protestante?” Já está se afirmando que a Obra Vicária de Cristo no protestantismo, colocando em dúvida somente a Igreja Católica. E quase todas as perguntas forçam um lado de certeza de uma em detrimento de outra religião.
    A pergunta deveria ser feita de forma genérica.
    Enfim, não há neutralidade, é há uma tendência, um lado do elaborador deste trabalho. Sendo portanto um trabalho tendencioso.

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