Há muito tempo não experimentava a satisfação de desbravar o mato e caminhar pelas terras que rodeiam o Centro Evangélico de Missões, em Viçosa (MG). Nos anos em que fui estudante, alguns amigos e eu gostávamos de aproveitar o final de tardes ensolaradas para “subir o monte” e compartilhar bons momentos juntos cantando, tirando bonitas fotografias ou orando e louvando a Deus por suas maravilhas. Como em todo grupo, tínhamos os corajosos exploradores que, empunhando uma vara qualquer, iam à frente e os mais tímidos que, comedidos, iam atrás, seguindo.

Hoje não foi diferente: subimos  o monte com corajosos e tímidos, mas, ao contrário de outras vezes, não fomos contemplar o pôr-do-sol nem orar; fomos descobrir de que maneira podíamos ajudar três bombeiros da Universidade Federal de Viçosa que lutavam incansavelmente contra focos de fogo que se espalhavam mata afora. Éramos Heather, Juliani, Laís, Paulo, Sara, alunos do CEM; o adolescente Guilherme e eu.

Por volta do meio-dia observávamos, do quintal da escola de missões, o fogo consumir o mato e suas grandes chamas se alastrarem pelo monte. Lamentávamos pelos animais, pelas árvores e pelo que restava de prados verdes. Temíamos também que, por conta do vento e da seca – há muitos meses não temos chuvas fortes nesta região –, o fogo chegasse até onde estávamos e pensávamos em várias alternativas para socorrer a nós mesmos e alguns de nossos bens. Mas felizmente não ficamos só no pensamento e decidimos ir até o problema. Queríamos fazer algo para ajudar e, conquanto nenhum de nós fosse bombeiro, socorrista ou coisa semelhante, entendemos que talvez nossa presença e um pouco de água fresca pudesse ser útil para aqueles homens que de longe admirávamos.

E partimos para nossa missão. Nunca subimos o monte tão rápido como desta vez: a necessidade e a urgência nos impulsionaram a despeito de qualquer receio – o sol escaldante do início da tarde, a possível presença de cobras e carrapatos, a lama do córrego etc. Ao chegar perto das chamas ficamos admirados com a extensão do problema. Fomos muito bem recebidos e logo começamos a trabalhar ajudando a eliminar pequenos focos de fogo e a carregar extintores (duro exercício!).

Para cima e para baixo, para a esquerda e para a direita, obedecendo às ordens de um dos bombeiros seguimos aquecidos por todos os lados e sentindo-nos cansados, mas sem esmorecer. Fizemos o que pudemos e ficamos muito felizes por isso. Os três admirados profissionais de socorro agradeceram muito a nossa iniciativa e disposição em “carregar o fardo” junto com eles e nós agradecemos por nos deixarem participar.

Na hora da despedida, um deles nos disse que devíamos ligar para o Corpo de Bombeiros da Universidade e dar os nossos nomes para que fossem escritos em seus registros de eventos. Diante do convite, percebi que todos silenciamos, para concluir em seguida que isso não seria preciso. Estávamos simplesmente felizes pelo que compartilhamos ali.

Mesmo deixando ainda algumas chamas e um pouco preocupados voltamos jubilosos para o nosso posto de observação. Falávamos, sorríamos e seguíamos colhendo limões, encharcando o pé na lama e salvando na própria pele alguns carrapatos. Sorte deles!

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Ariane Gomes é assistente de redação da Editora Ultimato

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