Enviado por Ageu Heringer Lisboa*

Acompanhamos pela TV o noticiário da trágica queda do avião da Air France. Perplexidade. Tinha toda a sofisticada tecnologia, estava preparado para todos os problemas previstos de antemão, com garantias de sobra. Raio não derruba avião (?), os pilotos eram preparados, as revisões de rotina rigorosas estavam em dia.

Mistério. O Titanic um dia não afundou? A usina atômica de Chernobil não vazou? A nave Apolo não explodiu? Surge em todos a frustração diante das tragédias. Elas pareciam estar definitivamente afastadas por "obra e graça" do rigor científico e tecnológico. Entretanto, sempre existem importantes variáveis não percebidas ou apenas fracamente consideradas.

Os familiares das vítimas apresentam-se com múltiplos sentimentos. Quem perdeu o avião dá graças a Deus. E quem morreu, como fica? Quem quis ou permitiu que acontecesse? Foi graças a quem?

Em acidentes assim, alguns sobrevivem e dizem graças a Deus; outros morrem, e quem dirá graças a Deus por eles? Então, graças a quem? Ou a ninguém, apenas uma fatalidade, que o próprio Deus não evitou? Quando ele quis, sustou o final do desfecho, como no sacrifício de Isaque quase consumado por Abraão.

Como ficam os parentes dos mortos quando escutam alguém que não foi atingido dizer que foi salvo graças a Deus? Ele selecionou alguns? Desígnio de sua soberania? Não é esta uma resposta humana para justificar Deus por tão grande ausência de sentido? Não seria melhor guardar silêncio e simplesmente agradecer por estarmos vivos?

Fico inquieto com estas questões. Concluo que não se pode evocar o nome de Deus sem muita reflexão antes. Será que todos usamos em vão o seu nome?

Talvez não devamos falar nada. Apenas, como Jó, entregar os pontos e exclamar: "Nada sabemos, apenas nos inquietamos; o Eterno sabe, Ele dá , Ele tira. Um dia saberemos".

Vejo Jesus como resposta a este e outros mistérios. Ele não veio explicar, veio estar com aqueles que sofrem, com os perplexos. Sua própria morte pode até ser entendida como ato de loucura de Deus cumprida por mãos humanas. Morte que depois foi vencida na ressurreição.

Que nele todos descansem em paz, mortos e vivos!

* Ageu Heringer Lisboa é psicólogo, membro fundador e ex-presidente do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos.

  1. Em relação à perplexidade que um desastre como a do avião da ar france nos provoca, creio que tragédias como esta, derrubam por terra todas as nossas teologias. A teologia da soberania total de Deus me parece totalmente sem sentido, pois que sentido pode ter a morte de milhares de pessoas numa tragédia qualquer? E os milhões que morrem de fome? Do alto da sua soberania Deus simplesmente olha e permite? Qual o sentido do Soberano deixar crianças morrerem em pele e osso? Por isso a teologia do processo vem ganhando algum espaço. Particularmente, creio que Deus deu a terra aos homens, e tudo o que aqui acontece é responsabilidade nossa. Até as tragédias causadas pelas forças da natureza que nos atingem, muitas vezes nos atinge por falta de planejamento nosso. Talvez por isso, alguns vejam na teologia do processo uma opção de pensamento mais viável para entender a relação homem-Deus. Para mim, todas as nossas teologias jamais poderão perscrutar um miléssimo da realidade divina. Portanto, façamos como Jesus; amemos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, trabalhando para buscarmos incansavelmente a paz e a justiça, e deixem o Mistério ser Mistério..

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