o autor

Francis A. Schaeffer (1912-1984) foi um dos pensadores cristãos mais influentes do século 20. Fundou a comunidade L’Abri na Suíça, ministério de alcance internacional, e escreveu diversos livros, entre eles “O Deus que Intervém” e “A Morte da Razão”, com milhões de exemplares vendidos em todo o mundo.

Francis Schaeffer hoje

Por Augustus Nicodemus em “O Tempora, O Mores
(12 de maio de 2008)

[Essa foi, na íntegra, a entrevista que concedi à revista Cristianismo Hoje para matéria sobre o legado de Francis Schaeffer, especialmente diante das críticas feitas a ele pelo próprio filho, Franky. A revista não publicou a entrevista na íntegra, mas reproduziu fielmente o teor da mesma.]

CH – Na sua opinião, qual é o legado deixado por Scheaffer para a Igreja Evangélica do século 21?
Schaeffer foi um homem que viveu à frente de seu tempo. Sua análise crítica da cultura e da sociedade da sua época continua relevante e atual. Schaeffer percebeu como poucos os efeitos a longo prazo, no Cristianismo e na sociedade global, da pós-modernidade, a qual começava a se manifestar em seus dias. Os temas aos quais Schaeffer se dedicou e sobre os quais escreveu são os mesmos temas que estamos discutindo hoje, como ecologia, ética na tecnologia, a globalização, o pluralismo e o relativismo. O legado de Schaeffer são suas obras sobre esses temas escritas a partir da cosmovisão cristã reformada. Partindo do referencial bíblico, Schaeffer submeteu a um severo escrutínio os argumentos, conceitos e idéias da pós-modernidade. Todos hoje que buscam uma análise social e cultural crítica consistente, justa e inteligente, do ponto de vista evangélico, encontram nas obras de Schaeffer um apoio inestimável. É claro que muitos o consideram fundamentalista por sua aderência à autoridade e infalibilidade das Escrituras. Mas é exatamente por isso, por partir do referencial bíblico, que sua obra permanece relevante para hoje..

CH – É justo atribuir-se a este legado o comportamento da chamada direita evangélica americana?
Acho que não, embora muitas das idéias de Schaeffer coincidiam com as idéias de vários da chamada direita evangélica. Schaeffer era um pensador independente e capaz de oferecer críticas inclusive à chamada direita evangélica americana. No livro How should we then live (1976) ele critica inclusive o movimento reformado. A tentativa de enfraquecer o legado de Schaeffer associando-o à direita evangélica é feito obviamente pela esquerda evangélica, que por sua vez, está sujeita a críticas severas do ponto de vista do Cristianismo histórico, como por exemplo, a defesa do aborto, do homossexualismo do ecumenismo de todas as religiões. Hoje, com a politização, ideologização e enviezamento das posturas, é praticamente impossível deixar de associar figuras públicas, como Schaeffer, a um partido, um grupo ou movimento. Mas o mesmo pode ser feito com relação aos críticos de Schaeffer, que geralmente podem ser identificados com a esquerda evangélica.

CH – O que ficou, de bom e ruim, da obra de Francis Schaeffer?
De ruim, eu não saberia dizer, pois sempre me beneficiei do seu legado. Sua abordagem pressuposicionalista das posturas teológicas e filosóficas me ajudou bastante, desde a minha época de estudante de seminário até hoje. Como já mencionei acima, Schaeffer continua como referencial de análise social e cultural crítica a partir de pressupostos cristãos reformados. Recentemente, virou moda criticar Schaeffer, inclusive pelo seu próprio filho, o que é lamentável. Para alguns, ele é “muito cartesiano”, “fundamentalista”; uma pessoa superada e que empolga apenas os noviços e incautos. Muitos dos críticos brasileiros de Schaeffer são pessoas que se tornaram deslumbradas com o liberalismo e que voltaram as costas à sã teologia, procedente das Escrituras. O fato de Schaeffer utilizar referenciais reformados para interpretar a história e estruturar a sua teologia incomoda a muitos. Assim, escrevem textos chamando Schaeffer de “mente predeterminada” e uma pessoa que dava “importância à Igreja”. Tudo isso é anti-evangelicalismo contemporâneo, que prefere um evangelho fluido, indescritível, debaixo de uma graça espúria que não é a graça divina encontrada na Bíblia, mas antes um cobertor gigantesco para deixar a todos felizes e acomodados em seus pecados, enquanto se abraçam uns aos outros.

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