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James Wiliam: ele está brincando ou trabalhando?

Continuo minha entrevista imaginária com professor David Elkind.  Ele tem hoje 83 anos, é professor emérito de desenvolvimento infantil da Universidade de Tufts, Medford, Massachussets, EUA. e foi aclamado por seus colegas quando se aposentou como uma pessoa conhecida principalmente por sua sabedoria. Tem mais de 500 artigos, pesquisas e livros publicados na área de desenvolvimento infantil. Sua obra “The Power of Play” me inspirou a imaginar esta entrevista com ele.

Veja a próxima pergunta  abaixo: (Se quiser começar a ler a entrevista desde a primeira pergunta, clique aqui)

Qual é o papel do brincar para as criancinhas menores? 

Nos primeiros dois anos de vida, brincar, amar e trabalhar são quase indistinguíveis, sendo que o brincar ocupa um lugar central. A curiosidade do bebê e seus interesses determinam em que atividades ele se engajará. Nesta fase a criança recria a realidade—uma realidade já conhecida pelas crianças maiores e pelos adultos. O bebê não só cria a realidade (ato de brincar), ele também se adapta à nova realidade (ato de trabalhar). No final do primeiro ano de vida, o bebê já desenvolveu a noção de permanência (um objeto existe mesmo quando não se está vendo). Agora o bebê chora quando sua mãe desaparece porque ele tem uma imagem mental da mãe ausente. O bebê  também usa esta nova criação mental para se adaptar ao mundo externo. Quando o conceito da permanência dos objetos é conquistado pelo bebê, ele procurará objetos escondidos e mostrará prazer nesta atividade. Brincar, amar e trabalhar estão portanto estreitamente interligados nas interações iniciais do bebê com o mundo.

De 2 a 6 anos, brincar, amar e trabalhar se tornam um pouquinho separados ainda que mantenham uma ligação bem próxima. Nesta fase as crianças são capazes de aprender e criar símbolos. Elas aprenderão nomes de pessoas, de lugares e das coisas, além de números e letras. Ao fazer isto elas se adaptam às exigências do seu ambiente—trabalho. As crianças pequenas no entanto, também criam sua própria linguagem, que elas usam como se tivessem aprendido do ambiente. … A criação de novas palavras é um bom exemplo de como uma criação pessoal (brincar) pode ser uma adaptação prática (funcionar como trabalho). Quanto ao “amar”, as crianças pequenas têm muito prazer em criar e usar palavras novas, símbolos e desenhos.

Quando criancinhas pequenas criam uma nova palavra, elas a usam como se todos a compreendessem. Elas não distinguem com clareza o que surge de dentro delas mesmas daquilo que vem do lado de fora. E isto se aplica tanto ao brincar quanto às outras experiências. Quando um dos meus filhos era bem pequeno, ele teve uma dor de dente e eu perguntei se estava doendo muito. Ele ficou irritado e disse: “Claro, você não está sentindo a dor?” As criações geradas do brincar são reais para as crianças e elas esperam que tratemos seus coleguinhas imaginários como se existissem de verdade. Elas ficam bravas quando menosprezamos ou tratamos como superficiais aquilo que elas criaram durante o brincar.

Brincar, então, é o modus operandi dominante e diretivo que orienta o aprendizado das crianças nesta fase e elas aprendem melhor quando as experiências de aprendizado foram criadas espontaneamente por elas mesmas.

Para refletir: As criancinhas ao seu redor têm a oportunidade de explorar o mundo livremente? E, é seu hábito valorizar o que elas falam e levá-las a sério em suas fantasias e criações?

Não pare por aqui, minhas próximas perguntas serão:

Qual é o papel do brincar para as crianças maiores e adolescentes?

Como a forma de brincar das crianças mudou?

Como a indústria de brinquedos trata as crianças e a sua necessidade de brincar?

 

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