Fé, obras e jejum

Fé, obras e jejum

texto básico: Isaías 58.1-14

texto devocional: Isaías 58.6-14

versículo-chave: Isaías 58.4
“Eis que jejuais para contendas e rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto”

alvo da lição:
Mostrar que “a fé, se não tiver obras, por si só está morta”.

leia a Bíblia diariamente:
seg Tg 2.14-26
ter Mt 6.5-18
qua Tg 4.1-10
qui  Tg 1.19-27
sex Sl 15.1-5
sáb  Tt 3.4-11
dom Is 58.1-14

Até certo ponto, esse capítulo é um desdobramento de Isaías 1.15‑17. A diferença principal talvez seja o contexto no qual foram escritos. Possivelmente Isaías 58 remonte ao período do cativeiro mesmo (Is 58.12 com sua menção das “antigas ruínas”. Também sugere uma data após o cativeiro), pois sabe-se que naquele período, após a queda de Jerusalém, o número de jejuns aumentou (Zc 7.5; 8.19). Não é difícil entender a causa disso – no exterior, sem possibilidade de oferecer sacríficios no templo (lembre‑se de que Isaías 1 enfatizou o sistema sacrificial no templo), a única opção religiosa era partir para uma vida de jejuns. É doloroso constatar quão pouco o povo de Deus aprendeu com o cativeiro, e que a mensagem de Isaías é a mesma, desde o início do livro.

 I. A religião que é perda de tempo (Is 58.1-3)

 1. A voz do profeta (Is 58.1)

Esse versículo nos dá uma ideia de como trabalhava o profeta naqueles dias.

Sem possuir um sistema de som, ele dependia de seus “plenos pulmões”, de sua voz, forte que nem uma trombeta. E dependia também do chamado de Deus para anunciar Seu recado ao povo, o mesmo recado de Isaías 1.2,4,18.

2. A religião do povo (Is 58.2)

Aqui Deus descreve a incoerência da situação, pois “mesmo neste estado” de pecado, o povo procura Deus “dia a dia”.
a. Tem prazer em saber os caminhos de Deus.
b. Pratica a justiça.
c. Não deixa o direito de seu Deus.
d. Até pergunta a Deus acerca dos direitos da justiça.
e. Tem prazer em se chegar a Deus.

Enfim, haja religião! Eles capricharam para praticar sua religião de maneira rigorosa, com um zelo exemplar (“até pergunta… acerca dos direitos”, das minúcias da Lei, talvez). Mas foi um “zelo por Deus, porém não com entendimento. Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (Rm 10.2-3).

3. A cobrança do povo a Deus (Is 58.3)

E não ficou somente nisso. Jejuavam e cobravam resultados. Jejuavam para torcer o braço de Deus? Parece até que eles estavam chateados com Deus: faziam tudo certinho, e não dava em nada, Deus nem Se interessava. Não é preciso dizer que lhes faltava o entendimento fundamental do porquê do jejum. Nas palavras da Bíblia Vida Nova: “O único jejum imposto aos israelitas na Lei era o do grande Dia da Expiação (Lv 16). Isto quer dizer que o jejum se relaciona com o arrependimento e com o perdão divino”.

Isaías para hoje
É possível ainda se enganar, se convencer de que nossa prática religiosa está agradando a Deus? Como se precaver contra um grande equívoco aqui?

II. O jejum que atrapalha a oração (Is 58.3-5)

Deus não aguentou mais e decidiu dar Seu parecer. Evidentemente o bom judeu da época deixava de lado sua vida secular por um período para dedicar-se à vida espiritual de jejuns, viajando até onde ficavam os sacerdotes para fazer isso (cf. Zc 7.5). Mas para não perder tempo e deixar seus negócios parados, ele cuidava “dos seus próprios interesses” enquanto lá, e, ainda, deixava o pessoal de casa com uma lista de tarefas a serem executadas em sua ausência – “exigis que se faça todo o vosso trabalho”. O mundo dos negócios não parava só porque ele ia jejuar! Dar folga aos trabalhadores para que eles também jejuassem? Nunca! Negócio é negócio! Não podemos ser tão espirituais!

E Deus percebia ainda um outro problema. Tente imaginar como eram esses seus cultos (v.4), com “contendas… rixas… (o) ferir… com punho iníquo”. Só faltavam pontapés! Mas estavam jejuando! Uma das finalidades do jejum é se aproximar mais de Deus, e assim fazer com que nossa voz seja ouvida lá no alto, no céu (Is 58.4), mas a maneira deles agirem tornou isso impossível. Perceba suas prioridades – “vossos próprios interesses,…vosso trabalho… vossa voz”. Perceba sua interpretação do jejum – “afligir a alma,… inclinar a cabeça como o junco,… estender debaixo de si pano de saco e cinza” (Is 58.5) – ou seja, era uma interpretação voltada para o externo. Deus não Se agradou, não “escolheu” esse tipo de jejum, nem o chamou de jejum. A crítica de Cristo não era diferente (Mt 6.16-18).

Jesus também examinou a ligação entre jejum e oração – é fascinante notar como Mateus 6 percorre os mesmos assuntos de fé, obras e jejum de Isaías 58 – entendendo as duas práticas como práticas espirituais, observadas no secreto, visando maior comunhão com o Pai, e recompensadas. O nó da questão é essa recompensa. Ou ela vem do público espectador que se impressiona (os empregados sabiam do jejum do patrão – e como! – eles trabalhavam dobrado em sua ausência), ou vem do Pai que “vê em secreto” (Mt 6.6,18), que “sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais” (Mt 6.8). Desse jeito, jejuar nunca vai torcer o braço de Deus.

Isaías para hoje
Seria preciso revisar nosso conceito de jejum hoje em dia?
Como realizar um jejum escolhido por Deus em sua igreja?

III. As obras da fé verdadeira (Is 58.6-10)

Tudo indica que Jesus, na mensagem inaugural de Seu ministério (Lc 4.16-30), teve em mente esse trecho, bem como Levítico 25.8-34 e Isaías 61.1-3. Sem dúvida, a resposta à última pergunta passa por esse trecho que descreve o ideal de Deus, Seu jejum escolhido.

1. As exigências de Deus (Is 58.6-7)

Podem ser divididas em dois grandes grupos:
–– posturas nossas que visam pôr fim à opressão do ser humano (Is 58.6);
–– atitudes de verdadeiro amparo aos necessitados.

2. As exigências de Deus (Is 58.9-10)

Podem ser divididas em dois grandes grupos:
–– posturas nossas que visam acabar com a falta de amor, com a censura maliciosa (Is 58.9), e, novamente,
–– atitudes de amparo aos necessitados.

 “Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade,desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos, despedaces todo jugo?…que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados,e, se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante?“ (Isaías 58.6-7)

Isaías para hoje
Então… promessas! (Is 58.8-9)

Se tirares do meio de ti o jugo, o dedo que ameaça, o falar injurioso; se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então…” (Isaías 58.9-10)

Isaías para hoje
Então… promessas! (Is 58.10-12)

Não é preciso nem dizer que é bem mais fácil jejuar do que fazer ao menos uma só dessas coisas. Mais uma vez, Jesus também falava dos “preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia… devíeis fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mt 23.23). Nossa tendência é fazer o contrário – manter a máquina religiosa do jejum, etc. funcionando, e omitir de vez a misericórdia. Deus não Se impressiona nunca – e as bênçãos não chegam a nós!

Isaías para hoje
Fazendo muitas contas, tenho a ligeira impressão de que há mais mandamentos nesse capítulo do que promessas.

IV. Promessas de bênção (Is 58.8-12)

Para quem gosta de uma “caixinha de promessas”, esses versículos têm de estar entre os melhores! Observe os “(Se…)” que aparecem no próximo tópico. Eles expressam as condições das promessas de todo o trecho (Is 58.8-11).

1. Promessas acerca de nossa vida espiritual (Is 58.8-10)

(Se…) “Então, romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem detença, a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda; (Is 58.8)

(Se…) então, clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás por socorro, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o dedo que ameaça, o falar injurioso; (Is 58.9)

(Se…) se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia.” (Is 58.10)

São promessas pessoais – “tu” – ligadas mais a nosso testemunho perante outros, centradas na maior promessa de todas, a promessa de ouvir Deus dizer “Eis-Me aqui”, e, novamente, relacionadas à oração respondida.

Isaías para hoje
Procure se imaginar atravessando esta vida com a justiça do Senhor na sua frente, qual uma enorme bandeira a anunciar sua chegada em todo e qualquer lugar, com a Glória do Senhor atrás – e você, bem protegido e feliz, no meio.

2. Promessas acerca da nossa vida na família e na sociedade

Estas são um pouco diferentes:

“O Senhor te guiará continuamente, fartará a tua alma até em lugares áridos e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas jamais faltam” (Is 58.11). 

“Os teus filhos edificarão as antigas ruínas; levantarás os fundamentos de muitas gerações e serás chamado reparador de brechas e restaurador de veredas para que o país se torne habitável” (Is 58.12).

Isaías para hoje
Guiar, fartar, fortificar – o que mais você precisa para viver bem neste mundo?

V. As condições estipuladas por Deus (Is 58.13-14)

O intercalar de mandamento/promessa continua: não sei se a “caixinha de promessas” de Isaías venderia muito bem nas livrarias evangélicas! Nessa ocasião a ênfase recai sobre o guardar o sábado (cf. Is 56.1-2,6) e fica patente que o povo tratava o sábado como tratava o jejum – profanava-o, e usava-o para “cuidar dos seus próprios interesses” (Is 58.13). A opção proposta por Deus – vamos aproveitar a palavra bíblica aqui e dizer logo meu santo dia domingo – era diferente:

“Se desviares o pé de profanar o sábado (domingo) e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado (domingo) deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs” (Is 58.13). Então, te deleitarás no Senhor. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei…” (Is 58.14).

Perceba que o capítulo começa com a descrição de uma religião que não passa de um dever mecânico e termina com uma religião expressa em termos de deleite espiritual. E em toda esta dinâmica fé/obras/jejum essas são as únicas opções que temos. Querendo as bênçãos de Deus, a escolha é óbvia, mas parece que há muito do judeu ritualista, não compassivo, condenatório em cada um de nós. Por certo há também menos da oração respondida, da alma farta, do país habitável, do que poderia existir, caso fôssemos mais fiéis à palavra falada pela “boca do Senhor” (Is 58.14).

Conclusão

Você pode ser “um restaurador de veredas para que o país (Brasil) se torne mais habitável”? É promessa bendita, não pesadelo!

Isaías para hoje
Isole um dos desafios acerca do domingo no versículo 13 e tente trabalhar sobre isso durante esta semana.

 

Autor da lição: Dra. Joyce Elizabeth W. Every-Clayton
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cristã Evangélica. Usado com permissão.

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