A igreja servindo ao seu próximo

A igreja servindo ao seu próximo

Texto básico: João 13.1-20

Leitura diária
D Fp 2.3-11 Seguir o exemplo de Cristo
S Mt 20.20-28 Jesus exorta a servir
T Gl 6.2-10 Semear através do serviço
Q Mt 5.38-48 Expressando a fé cristã
Q Lc 17.11-19 Dez curados, um salvo
S Jo 10.23-42 Obras que testificam
S 2Co 9.1-15 Mordomos generosos

Introdução

Como o serviço ao próximo está relacionado à nossa vocação cristã? Nossa dedicação ao serviço ao próximo não seria perda de tempo, recursos e energia? As pessoas não estão carentes é da graça da salvação? Cuidar dos cidadãos não é responsabilidade das autoridades competentes? Não nos diz a Palavra de Deus que nós teríamos sempre os pobres conosco? A igreja não deveria se dedicar, no máximo, ao auxílio dos irmãos na fé somente? Ela não perderia o seu foco se começasse a se dedicar também a servir às outras pessoas em suas carências? Perguntas como estas podem se multiplicar até que, intimidados pelo risco que o serviço ao próximo pode trazer, cheguemos à conclusão prática da inviabilidade do envolvimento da igreja com algum tipo de responsabilidade de serviço ao nosso próximo. Contudo, a pergunta que devemos corajosa e humildemente fazer é: o que a Palavra de Deus diz sobre o serviço que a igreja deve prestar ao próximo?

 I. A vocação serviçal da igreja

O texto que serve de base para este estudo é profundamente tocante porque nos apresenta uma grandiosa lição de humildade da parte do nosso Senhor Jesus. Sendo quem era, o glorioso e eterno Filho de Deus, Cristo humilhou-se a ponto de exercer um serviço próprio de um escravo, que era o de lavar os pés do seu senhor. Com tão eloquente lição dada na mesma noite em que seria traído e entregue para ser crucificado, o Filho de Deus nos deu o exemplo da atitude espiritual que deve nortear e acompanhar a atuação da sua igreja na sua relação com o mundo (Fp 2.3,5). O gesto de Jesus segue na contramão do entendimento de grandeza e honra conhecido pelo presente século (Mt 20.25-28), pois a humilhação de Cristo ocorreu voluntariamente para a redenção do seu povo (Mt 1.21; Jo 10.11,17). Embora rejeitado pelo antigo povo da aliança, Cristo trouxe a adoção espiritual para todos quantos creram na sua obra, segundo a vontade de Deus Pai (Jo 1.11-13).

 a) Observando o exemplo de Cristo

O exemplo dado por Jesus diz respeito, primeira e diretamente, ao serviço humilde que os cristãos devem prestar uns aos outros, não limitando a própria ação serviçal pela posição que alguém, porventura, venha a ocupar na igreja. Se Cristo, que é a própria glória de Deus manifesta aos homens (Jo 1.18), submeteu-se até à morte para reconciliar consigo mesmo todas as coisas (Cl 1.18-20), os seus seguidores não deveriam se omitir. Essa mesma atitude serviçal indica a postura própria e adequada de todos os que se tornaram discípulos de Cristo (Mt 20.25-27), ainda que estejam servindo a outros cristãos, como nos indica o texto de João 13.10,11. Em seguida, o Senhor Jesus expressa aberta e claramente que seu exemplo deveria ser praticado pelos seus seguidores e não apenas entendido, uma vez que ele, sendo Senhor e Mestre, corretamente identificado pelos seus discípulos, lhes havia lavado os pés. Assim Jesus demonstra a necessidade de serviço humilde e sincero com relação aos outros, pois a bênção consiste exatamente em ser usado como instrumento nas mãos de Deus para servir ao próximo. Esse serviço evidenciaria quem verdadeiramente foi escolhido por Cristo, mesmo porque Paulo diz que o trabalho decorrente da fé confirma a nossa vocação e eleição (1Ts 1.3,4).

 b) Entendendo a vocação serviçal da igreja

O serviço ao próximo, portanto, deve acompanhar a igreja de Deus como um testemunho concreto de uma vida que foi resgatada do egoísmo pecaminoso terreno e carnal, reinante no coração do homem não regenerado (Fp 3.19), para uma vida voltada para Deus e o próximo (Lc 10.26-28). Começando pelos da família da fé (Gl 6.10), ou seja, os nossos irmãos em Cristo, a igreja tem um papel importante para desempenhar na sociedade e o fará quando unir o seu discurso sobre o amor à prática do serviço ao próximo.

A palavra serviço (ministério; Rm 12.7) aparece 34 vezes no Novo Testamento, sendo usada principalmente por Paulo para descrever um serviço amoroso, atitudes concretas que expressem o amor ao próximo, tanto aos cristãos, quanto aos incrédulos. Essa palavra indica literalmente o “serviço à mesa” apontando para a ideia de um serviçal assistindo ao seu senhor, o que exige humildade, mas também expressa a grata satisfação de servirmos livre e espontaneamente a quem amamos e somos gratos (Mc 1.30,31). Contudo, o aspecto mais impactante é quando esse serviço é uma demonstração legítima da nova vida que temos em Cristo Jesus (2Co 5.17), a qual nos capacita a servir também a quem não é nosso irmão em Cristo, inclusive aqueles que, porventura, tenham nos prejudicado (Mt 5.39-44). Tais atos de serviço, ainda que possam não ser legitimamente expressões de amor cristão (1Co 13.3), comumente são poderosos testemunhos da nossa vida cristã (Rm 12.18-20).

As cidades são centros populacionais onde as pessoas estão praticamente amontoadas. São tantas as carências e tantas as diferenças que, estando nós tão próximos da miséria humana, podemos chegar ao ponto de nos acostumar com as cenas degradantes que revelam quão baixos são os níveis aos quais podem chegar os seres humanos. Isso não apenas por suas irresponsabilidades ou escolhas erradas na vida, mas também pela falta de acesso às condições mínimas de sobrevivência ou meios que lhes ofereçam condições de sair desse estado de miséria. Percebemos então que o serviço ao próximo há de ser um poderoso instrumento divino, não apenas para ajudá-los a suprir as suas carências, mas também para dar respaldo à mensagem sobre o misericordioso amor de Deus que devemos anunciar a esses cidadãos perdidos.

II. A igreja servindo vocacionalmente

O serviço cristão deve ser desempenhado porque é tanto uma obediência à ordem bíblica, como uma expressão legítima da nossa vocação cristã. Sendo assim, quando um cristão age em prol do seu próximo, ele o faz não simplesmente para auxiliar o necessitado ou movido pela compaixão diante da sua dor e miséria, nem como uma simples estratégia para o que verdadeiramente interessa, que é salvar a alma do pecador. O próprio Filho de Deus, que conhecia o coração do homem, manifestou a sua graça servindo a quem ele sabia que não responderia com fé e gratidão (Lc 17.17); contudo, o seu serviço não estava exclusivamente ligado à conversão espiritual daqueles aos quais ajudava. Ele chegou até a usar tal rejeição às suas obras messiânicas para ressaltar a responsabilidade dos beneficiados (Jo 10.24-26; Mt 11.21).

O serviço amoroso não levará todos os beneficiados à fé salvadora, entretanto há virtude no serviço cristão em si mesmo, ainda que devamos fazê-lo também com o propósito último de resgatar para Cristo aqueles aos quais estamos servindo, por sabermos do grande júbilo celestial que ocorre quando um pecador se converte a Deus (Lc 15.7). Do mesmo modo como as obras de Cristo não produziram a fé em todos os beneficiados, mas apenas em alguns que creram e foram salvos, como o leproso samaritano (Lc 17.17-19) ou alguns dos judeus que viram e ouviram a Cristo (Jo 10.26-32,37-42), assim também devemos servir ao nosso próximo, deixando com Deus o atrair a si aqueles que ele quiser.

O serviço cristão não deve ser interpretado nem executado como mero assistencialismo; antes, deve servir de testemunho do amor real que devemos expressar para com o nosso próximo como fruto e evidência sincera de uma vida alcançada para servir aos outros. Para isso, é preciso que conheçamos o nosso próximo, saibamos quais são as suas reais necessidades, onde mora, como é o seu dia a dia, quais são as suas lutas particulares e os seus anseios específicos. O auxílio espiritual que a igreja dá ao pecador, ao apresentar-lhe a oferta de perdão e salvação que o evangelho faz, torna-se mais eloquente quando é exercida por pessoas que já haviam demonstrado sensibilidade para servi-lo procurando suprir as suas necessidades básicas.

O primeiro passo em direção a esse serviço é estabelecer contato com as pessoas, pois como podemos servir alguém a quem não conhecemos, visto que o serviço cristão não é mero assistencialismo? Por isso mesmo, não é razoável que o serviço cristão seja realizado impessoalmente; é preciso que nos envolvamos com aqueles aos quais vamos demonstrar o amor de Deus. Cristo fez assim ao assumir a nossa humanidade e ao viver entre nós, como um de nós, numa aproximação verdadeira de serviço (Fp 2.6-8). Ele chegou ao ponto de entregar a sua própria vida por nós, o que é a única esperança para a salvação dos pecadores, pois a entrega de Cristo foi o sacrifício único e perfeito, oferecido a Deus para nos conduzir ao Pai (1Pe 3.18). Precisamos estar preparados para essa aproximação, visto que haveremos de deparar com situações difíceis. Nos grandes centros urbanos do nosso país, as áreas de maior carência estrutural, como as favelas, também são as de maior desestruturação social. São lugares onde as pessoas convivem muito perto com a absoluta falta de uma condição mínima para se viver uma vida digna. Estamos preparados para servir ao próximo necessitado do nosso amor? Estamos prontos para conhecer pessoalmente a sua vida com todas as suas necessidades? Seremos capazes de lhes falar sobre um Deus de amor e justiça, enquanto eles vivem em circunstâncias tão adversas? Estamos preparados para isso?

Conclusão

Os grandes centros urbanos, além de serem polos de atração para muita gente carente de renda para manter dignamente a sua família, também é palco por onde desfilam muitas pessoas que precisam de voluntários de uma expressão concreta de misericórdia. Elas necessitam de um pouco de atenção e empenho por parte de parte de alguém que as ajudem a se desenvolver nesta vida e a resgatar a sua dignidade humana, restaurando nelas a imagem de Deus maculada pelo pecado. O modelo desafiador que a Palavra de Deus nos apresenta não é apenas importante estrategicamente, mas é coerente tanto com o exemplo de Cristo quanto com a vocação que ele nos deu.

Aplicação

Conheça as pessoas que vivem próximas de você e saiba quais são as suas necessidades reais. Pense em como auxiliá-las, não apenas lhes prestando socorro, mas ajudando-as a superar as suas carências. Elabore um projeto viável para que sua igreja leve simultaneamente o evangelho e auxílio de forma a suprir as necessidades mais básicas das pessoas carentes. Você está pronto para ser um instrumento para aliviar o sofrimento delas?

>> Estudo publicado originalmente na revista Palavra Viva – Sua Cidade Para Cristo, pela Editora Cultura Cristã.

>> Autor do Estudo: Raimundo M. Montenegro Neto

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