Na varanda com o autor | Carlos Queiroz

 

Carlos Queiroz, teólogo e pastor, daqueles que alguém poderia dizer que “não se fazem mais como antigamente”, é conhecido pela sua humildade, generosidade e bom humor. É também marcante a sua palavra bíblica, amiga e cristocêntrica. Pastor da Igreja de Cristo no Brasil, Carlinhos Queiroz foi Diretor Executivo na Visão Mundial e também da Diaconia e tem se dedicado a servir comunidades carentes e aqueles que se comprometem com o serviço aos pobres.

Embora escritor e autor de vários livros, entre eles, Ser é o Bastante – Felicidade à Luz do Sermão do Monte e A Oração Nossa de Cada Dia, ele não deixa por menos: “As pessoas não vão ler o que você diz, elas leem o que você vive”. É com alegria que recebemos Na Varanda com o Autor, nosso querido “dom” Carlos Queiroz.

 

Alguma pessoa ou livro, em especial, influenciou sua aproximação da leitura e da escrita?

Na memória, está registrada a Bíblia como o primeiro livro de leitura. Na infância, participei de uma comunidade que animava crianças e adolescentes a memorizarem porções bíblicas. Aos 11 anos eu tinha mais de 300 porções bíblicas memorizadas.

Edna Medeiros, uma jovem senhora, foi fundamental neste primeiro momento. Ela copiava, em manuscrito num caderninho azul, os textos bíblicos que eu deveria memorizar a cada semana. Depois, entre os 12 a 17 anos, tive acesso as literaturas de José de Alencar, Raquel de Queiroz, Manuel Bandeira, Jorge Amado, entre outros. Mas, foi o professor Edmilson Pinheiro lendo alguns de meus textos e poemas elaborados para cumprir tarefas escolares, quem primeiro passou a me chamar de poeta. Depois meus amigos Marcos Monteiro e Orivaldo Pimentel Junior me incentivaram a escrever o meu primeiro livro.

 

Quando a inspiração para escrever não vem…

Quando não vem inspiração, busco transpiração. Esforço, compromisso, necessidade de resposta a alguma demanda.

 

O que os adultos devem ler para as crianças?

Num primeiro momento, literaturas e práticas que gerem uma aproximação da criança com todo o universo aonde a criança se encontra. Compreender a natureza (mundo animal, vegetal, mineral). Processos de reprodução, sementeira, floração, etc.. Fiz assim com meus filhos. Acompanharam processos de formação de filhotes em ninhos, fora do corpo das aves, tanto quanto me ajudaram a fazer “parto” de cadelas e ovelhas. É muito importante a leitura em textos e nos cenários da vida.

 

Que conselho você gostaria de ter recebido na sua juventude?

Ter lido na juventude várias literaturas que me foram proibidas. Ter assistidos os filmes que me disseram que não poderia. Vivi a adolescência numa comunidade muito conservadora e extremista. Então, tive acesso a alguns conhecimentos da vida, já com uma idade mais avançada. Gostaria que alguém tivesse me ajudado, de maneira mais sistematizada, a planejar a minha vocação e missão.

 

Como você lida com o envelhecer?

Gosto da velhice. Eu a assumi muito cedo. Veio a barba branca precocemente e eu a abracei com alegria. Sinto saudades da disposição física, luto com dores na coluna e articulações, mesmo assim, pratico peregrinações andando dezenas de quilômetros; quando o tempo permite jogo o meu futebol, procuro me alimentar e dormir de forma adequada. Estou com dois quilos a mais de quando tinha 18 anos. Meus dois paletós, um deles, o Brioso com mais de 43 anos, ainda cabe razoavelmente no corpo. Procuro ser amigo de crianças, adolescentes e jovens. E tenho um respeito profundo por pessoas idosas. Sempre me sinto adolescente de maneira muito reverente, diante de pessoas idosas.

 

O que mais o anima e o que mais o incomoda no meio evangélico?

Algumas igrejas locais ainda me animam. Neste espaço acontecem as dores da vida, os erros, e as muitas oportunidades de se expressar amor, reconciliação, cuidado, laços fraternos… conheço alguma poucas comunidades aonde esses sinais do evangelho são evidentes.

As estruturas denominacionais me incomodam – nelas se manifestam as vaidades, tentações de poder que se evidenciam nas necessidades de controle e dominação… O contexto mundial do momento marcado por um espírito de ódio, truculência, terrorismo em suas mais variadas formas; preocupa-me que a igreja esteja batizada por esses mesmos sinais. Estamos diante de um dos momentos mais críticos da integridade e de preservação da essência do evangelho entre nós. Uma comunidade que se diz seguidora do Jesus Cristo de Nazaré, o Príncipe da paz, a expressão mais plena e completa do amor de Deus, não pode se permitir conduzida pelo “espirito deste século” – ódio e violência. Transformar esta realidade no coração e nas comunidades do povo de Deus é uma exigência urgente. (Romanos 12.1-2).

 

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