Tenho recebido muita propaganda de cursos de oratória, prometendo ajuda para falar em público com eficiência. Uma delas me pareceu curiosa. Propunha-se a ensinar oratória emocional. Procurei mais informação, mas não havia; era preciso ir à secretaria do curso, no endereço indicado, para saber mais. Desanimei e deixei de lado. Mas lembro-me de ter pensado: há momentos em que minha oratória é emocional, pois falo emocionado. Mas procuro evitar pelo receio de ultrapassar a fronteira da irracionalidade. Tenho medo de parecer manipulador. Um velho mestre de Homilética (a arte da pregação) brincava, sugerindo a seguinte anotação em um esboço de sermão: “neste ponto, levantar a voz e dar um murro na mesa, porque o argumento é fraco”.

Será que o objetivo dessa oratória anunciada é apenas emocionar? Parece que sim, em grande medida.

Não há dúvida que esse componente é essencial na música e nas artes, pois estes são, por natureza, meios de expressão emocional. Mas vejo que, hoje em dia, esse componente começa a contaminar todas as formas de discurso. Em tempos pós-modernos, mais que convencer, pretende-se emocionar. E esse elemento (agora de convencimento) transforma-se no critério de sucesso para oradores e auditórios, comunicadores e público, vendedores e compradores, acusadores e defensores. Se emocionar, vence, vende, convence.

Nesse momento, revejo meus pudores e penso que o fator emocional precisa estar presente em um bom sermão. Nem tanto em uma aula, mas em um sermão não deve faltar. Talvez por isso haja quem se refira à arte da oratória, à arte de pregar sermões. Porque arte é quase sinônimo de emoção.

De fato, a Homilética ensina que o objetivo principal do sermão é despertar atenção para um tema e provocar uma resposta do ouvinte — de preferência, a resposta esperada. Essa modalidade de oratória teria função análoga à de um cartaz, em que um título em letras grandes diz o principal. Se o leitor parar e se aproximar, lerá informações complementares, em letras menores. Assim seria o sermão, stricto sensu.

Claro, a cada dia surgem novas formas e definições. O sermão expositivo, por exemplo, é de grande valia na edificação da igreja, pois trabalha diretamente sobre o texto bíblico. Pode conter uma oratória emocional ou não.

Penso que embora haja muitas formas de ensinar as escrituras na igreja, cumprindo funções diferentes e complementares, não deve haver melhor momento para um discurso emocional do que um sermão. Nesse caso, “sermão emocional” seria quase um pleonasmo.

Consideremos que temos uma carta de amor aberta diante da igreja; uma carta pessoal e íntima, deixada por um Pai aos seus filhos. Lê-la e considerá-la friamente pode ser uma opção pedagógica, ou mesmo uma necessidade técnica, mas nada nos deve fazer esquecer que ela foi escrita afetuosamente. Se nos imbuirmos da condição de destinatários e filhos, seu conteúdo nos provocará alegria, exultação, choro, riso, arrependimento, esperança, canto e até dança. Sim, a Bíblia é uma carta apaixonada. Retiremos dela a paixão e restará algo como o manual de instruções de um eletrodoméstico.

Se a encarnação do Verbo aconteceu “porque Deus amou o mundo de tal maneira” que nos enviou seu Filho, então tudo o que ali se expressa está contaminado por esse incompreensível amor. E não consigo imaginar esse discurso destituído de forte emoção. Assim também os discursos que se edificarem sobre essa base.

Mais que emocionante, portanto, um sermão precisa ser uma peça afetiva, seja para aprovar seja para condenar. Mas, em termos de objetivo final, sempre uma peça de proximidade, de compaixão; uma peça apaixonada. E aqui, olho para minhas próprias deficiências e me conforto em pensar que há muitas formas de expressar essa paixão. Formas essas que variarão conforme a personalidade e as competências do orador. Mas não tenho dúvidas de que a mensagem que venha do coração chegará com mais facilidade a outro coração. As informações técnicas têm seu lugar, claro; mas esse lugar é o cérebro.

Neste momento, ocorre-me o contraste de um orador magoado com Deus: Jonas. E fico intrigado, imaginando como teria sido sua oratória aos ninivitas. É claro, não sabemos se o profeta já estava irado com Deus, ao tentar fugir para Társis, ou se seus melindres surgiram porque o fogo do céu não desceu como ele anunciara. Por isso, uso seu exemplo apenas para trazer a imagem de um profeta magoado com Deus. O que alguém, nessas condições, dirá ao seu auditório? Como será sua oratória, em termos de proximidade emocional? Como será esse falar de coração a coração? Sabemos que Jonas tinha um discurso correto até mesmo quando contendia com Deus:

Ah! Senhor! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e que te arrependes do mal. Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver. (Jn 4:2,3)

Sim, Jonas está pedindo a morte, em gesto de triste autocomiseração. Interpreto essa situação da seguinte forma: Jonas foi capaz de proferir, eficazmente, um discurso de condenação; ele era capaz de ameaçar e de vociferar o fogo do céu porque esse tipo de palavra e sua correspondente oratória eram compatíveis com seu estado emocional. Mas não estava ao seu alcance proferir uma palavra de esperança, de perdão, de conforto ou de amor. Então, Deus usa esse seu estado de alma — de quem é capaz de louvar, mas não de adorar — para salvar Nínive. Aleluia! E depois, vai atrás do seu profeta. Mas isto já é outra história.

Tenho pena de Jonas. E de todos os pregadores que, eventualmente, encontrem-se em condição parecida. Por razões que variam do simples cansaço à “decepção com Deus”, esse estado de alma entre pastores e mestres da palavra é mais comum do que se supõe. Duríssima coisa é subir ao púlpito para enaltecer aquele com quem se está zangado. Esse discurso terá a beleza e o perfume do cravo-de-defunto. As palavras terão o brilho de um dispositivo legal. E serão tão confortantes quanto um verbete de dicionário.

É confortante pensar que Deus usa até corações fragilizados para levar a bom termo seus propósitos. Acho que ele honra a obediência. Curiosamente, se preciso, ele trabalhará essa área também (Jn 4:4), com a eventual ajuda de um grande peixe. Mas o sermão emocional requer que o orador vá além do ensino correto. Sua oratória se torna eficiente quando estabelece uma ponte de racionalidade, para que a mensagem seja compreendida, e de afeto, para que essa mesma palavra chegue ao coração. Porque um mesmo coração não consegue produzir águas doces e amargas. Em tempos de estiagem afetiva, nossas bocas, se obedientes, falarão do que deve ser dito. Mas em tempos de paixão proclamarão, em prosa e verso, que o Senhor é bom.

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