Semana 71: Lucas 19.28-48

Nas Escrituras Sagradas está escrito que Deus disse o seguinte:“A minha casa será uma ‘Casa de oração’.” Mas vocês a transformaram num esconderijo de ladrões. — Lucas 19.46 (NTLH)

A passagem acima conta três incidentes consecutivos: a entrada de Jesus em Jerusalém em cima de um jumentinho, a sua vista de Jerusalém quando se aproximava e o seu choro consequente, e a sua expulsão dos vendedores do Templo. Os três incidentes precisam ser lidos em conjunto. Aliás, a história das dez moedas na passagem anterior (19.11-27) é também a história dos mesmo incidentes. E não devemos nos apressar em passar daquele Templo (singular e única) para os templos (plural) das nossas igrejas, que por sinal, são mais análogos às sinagogas do que propriamente ao Templo. Eventualmente uma analogia compete. Mas antes disto, vamos manter o enfoque na história. E para tanto, reparemos as reações dos envolvidos nesta história: do povo, dos líderes religiosos, e de Jesus…

As reações do povo. Eram duas. O povo, cheio de alegria, prestava louvores a Jesus na sua chegada em Jerusalém montado no jumentinho (vv.37-38). E mais adiante, o povo que era ensinado por Jesus no pátio do Templo, escutavam com muita atenção.

As reações dos líderes religiosos. Estes reagiam com censura dos louvores do povo (v.39), com cumplicidade com os vendedores no Templo (vv.45-46) e com o desejo de assassinar Jesus depois que Jesus expulsou os vendedores do Templo (v.47). A expulsão, aliás, era o fim da picada, pois ao expulsar os vendedores, Jesus se posicionava como quem mandava no Templo (!), ou divinamente como o próprio Deus ou humanamente como o Sumo Sacerdote. Não sei quais dos dois era pior para os líderes religiosos! Obviamente deveria ser o primeiro, mas temo ter sido o segundo. De todo jeito, este era o incidente que concretamente levou Jesus a sua execução.

As reações de Jesus. Primeiro, chorou à vista de Jerusalém, a “cidade da paz” porque este era o lugar para onde as nações deveriam vir atrás da salvação (paz) segundo o profeta Isaías (especialmente capítulo 66). Isto, porque Jesus já sabia que o querido Sião de Israel seria também o lugar que o rejeitou e onde ele seria crucificado. E assim depois em retrospectiva, a paz, de fato, será conquistada, justamente por meio da crucificação (Efésios 2). Mas a cidade em si, como na parábola das dez moedas na passagem anterior, sofrerá castigo do Rei Deus, uma destruição prevista porque a cidade não reconheceu a hora da salvação (a chegada do Príncipe da Paz). De fato, isto aconteceu no ano 70 d.C. pela invasão do exército romano.

A segunda reação de Jesus era de ira e isto porque a casa de Deus estava sendo usada indevidamente. O Templo representava a presença de Deus entre o seu povo a favor do mundo. Quando Jesus disse “A minha casa será uma ‘Casa de oração’” os seus ouvintes certamente foram arremetidos para a passagem que Jesus estava citando, Isaías 56.7, que por sua vez esclarece que o Templo será uma “casa de oração para todos os povos“. A implicação é clara. O Templo, como uma representação do mundo todo, isto é, a habitação de Deus, era o lugar onde Deus estava presente… na sua casa, isto é, na sua criação, isto é, no mundo todo. Por isso deverá ser chamado e conhecido como uma “casa de oração para todos os povos“. Não é a toa que logo em seguida encontramos Jesus ensinando o povo justamente no pátio do Templo, o lugar especificamente onde os gentios (os povos não judeus) tinha acesso. A mensagem dramatizada por Jesus não poderia ser mais clara: o Templo não é o lugar de exclusão (como os judeus popularmente entendiam) mas de inclusão. Transformar este pátio em mercado público, banalizando a fé pela transformação em trocas econômicas, e isto com a cumplicidade da liderança religiosa, simplesmente não dava.

Bem, não é difícil fazer uma ponte com as nossas igrejas hoje. Para que servem? Servem para juntar o povo de Deus onde seus membros poderão juntar as suas economias a fim de sustentar si mesmo ou servem para trazer as pessoas mais excluídas (lembra da parábola do grande banquete?) para gozarem a presença de Deus e provar a sua paz (redenção). Enfim, servem a missão de Deus ou servem para a sua própria sobrevivência?

Para que serve a igreja?

Oração

Rei eterno, venha habitar no nosso meio, onde quer que reunamos em nome de Jesus e que estes lugares sejam refúgios seguros, casas de shalom, a paz de Deus, para as pessoas mais diversas e até excluídas da terra… e para nós também! No nome santo de Jesus. Amém.

  1. Muito bom e pertinente ensino, mestre.

    Uma das grandes causadoras das crises de nossa igreja é justamente a pressa e a falta de atenção ao texto bíblico e, neste sentido, seus artigos são verdadeiras lições, para nós; pelo menos para mim.

    Sempre agradecido.

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