Semana 44: Lucas 11.5-8

Então Jesus disse aos seus discípulos: — Imaginem que um de vocês vá à casa de um amigo, à meia-noite, e lhe diga: “Amigo, me empreste três pães. É que um amigo meu acaba de chegar de viagem, e eu não tenho nada para lhe oferecer.” — E imaginem que o amigo responda lá de dentro: “Não me amole! A porta já está trancada, e eu e os meus filhos estamos deitados. Não posso me levantar para lhe dar os pães.” Jesus disse: — Eu afirmo a vocês que pode ser que ele não se levante porque é amigo dele, mas certamente se levantará por causa da insistência dele e lhe dará tudo o que ele precisar.

Para avançar e ilustrar estas características de Deus, Jesus faz uma pergunta para seus discípulos, em duas etapas, cada vez começando com: “imaginem tal e tal situação”. A pergunta surge dum caso hipotético. E, diante da prática normal duma aldeia palestina, a resposta somente pode ser a mesma: “Não! Não podemos imaginar …!”

A situação é a seguinte: Um homem recebe uma visita na sua casa bem tarde, algo mais ou menos comum naquela região onde é muito quente para viajar de dia. Os costumes culturais exigem que o homem recebe a visita dando-lhe comida e acomodação. Então, o homem vai para a casa dum amigo para pedir três pães. Detalhe: os pães não são a comida em si, mas servem de garfa e faca para pegar a comida de pratos comuns para todo o mundo. A refeição palestina era feita deste jeito e continua sendo até os dias de hoje nas regiões mais rurais. Agora voltando a nosso caso hipotético.

Jesus pergunta: “imaginem que o amigo responda lá de dentro: ‘Não me amole! A porta já está trancada, e eu e os meus filhos estamos deitados. Não posso me levantar para lhe dar os pães.” No texto os discípulos não respondem, mas neste caso, a razão que não respondem é simplesmente não era necessário. A pergunta era retórica porque só poderia, naquela cultura, haver uma só resposta. E a resposta era, “não, não podemos imaginar tal coisa!” E a razão que era inimaginável era que numa aldeia palestina, uma pessoa assava o pão para todo o mundo e amenizava estes pães num cômodo na divisa da aldeia. Quem estava encarregado com os pães tinha a obrigação social e fornecê-los à comunidade na hora que precisava, e uma hora comum de necessidade era tarde quando as pessoas chegavam das suas viagens. Era inimaginável que o encarregado dos pães daria uma desculpa fajuta como estas para não atender o seu amigo. Era uma questão da sua honra dentro da comunidade e das suas obrigações sociais.

Aliás, a palavra original traduzida comumente no versículo 8 por “persistência” ou “insistência” simplesmente não significa isto e não há nada neste caso hipotético que indica que o amigo está insistindo. A palavra mesmo é “senso de vergonha” (da palavra semítica, kissuf) e se refere não a quem está pedindo o pão mas àquele que está encarregado de dar o pão. Uma tradução bem melhor é a seguinte:

Eu afirmo a vocês que pode ser que ele não se levantará porque é amigo dele, mas certamente se levantará por causa do seu senso de vergonha e lhe dará tudo o que ele precisar.

O encarregado dos pães atende o pedido porque é o seu dever fazê-lo. É uma questão da sua honra em cumprir o seu papel, não porque o amigo está insistindo.

E Deus é assim. É um Deus de honra. Ele é um Pai fiel e honroso. Ele cumpre seus votos. Cumpre suas promessas. Cumpre o seu papel protetor. Ele não só deseja o nosso bem, ele é fiel para tomar todas as providências para fornecer o melhor para nós.

Oração

Graças Te damos, ó Pai, pela Tua bondade e fidelidade para conosco. Descansamos na Tua provisão. Em nome de Jesus. Amém.

Nota: observações exegéticas e culturais extraídas do livro de Kenneth Bailey, A poesia e o camponês.

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