Semana 37: Lucas 9.57-58

Quando Jesus e os discípulos iam pelo caminho, um homem disse a Jesus: — Eu estou pronto a seguir o senhor para qualquer lugar onde o senhor for. Então Jesus disse: — As raposas têm as suas covas, e os pássaros, os seus ninhos. Mas o Filho do Homem não tem onde descansar.

Esta conversa, como as outras duas a seguir, é curta e ocorre no meio das atividades que os discípulos exercem: “quando Jesus e os discípulos iam pelo caminho.” Não é um convite para participar destas atividades. O bonde já está andando e um dos candidatos, enquanto está já caminhando com Jesus, afirma: “Eu estou pronto a seguir o senhor para qualquer lugar onde o senhor for.” Esta afirmação é o sonho de todos os pastores, alguém do rebanho que está disposto a caminhar onde quer que a liderança vá. Não é isto mesmo que nossa liderança deseja…pessoas já caminhando com a gente e dispostas a nos seguir onde quer que a igreja vá? Certamente é isto que qualquer líder cristão iria desejar. Por isso, a resposta de Jesus surpreende tanto. A sua resposta diferente da nossa, é repreensiva: “As raposas têm as suas covas, e os pássaros, os seus ninhos. Mas o Filho do Homem não tem onde descansar.”

Esta resposta indica que, para Jesus, o primeiro candidato ao discipulado, alguém que já está seguindo, não faz ideia do que esta dizendo e fazendo. E esta resposta de Jesus tem o efeito certamente de fazer o candidato não abraçar apressadamente a fé, mas de fazê-lo ponderar se realmente está disposto a pagar o preço. E que preço é este? A negação de algum pecado ou hábito imoral que o candidato precisa vencer? Não é. É algo muito mais difícil e mais profundo. É a disposição de abrir mão duma vida de segurança e conforto material. Eu sei, eu sei. Esta interpretação parece dura demais e entra em conflito direto com o evangelho da prosperidade. Mas é isto mesmo que Jesus está dizendo. Ele é rei, sim. Mas é um rei que cavalga em cima dum jumento, não o carro do ano. É um rei sem castelo material. É um rei cuja coroa é feita de espinhos e sofrimento. É um rei sem-teto.

Uma leitura simples já leva a esta conclusão. E uma vez que a gente repara o uso de certas expressões, esta mesma conclusão é ainda mais inevitável. Por exemplo, Jesus usa a expressão, “O Filho do Homem” para se referir a si mesmo. A expressão era bem conhecida pelos judeus e tem a sua origem no Livro de Daniel onde o Filho do Homem é um ente celestial que reinará vitoriosa e regiamente com o Ancião de Dias, que é o próprio Deus. O uso desta expressão por Jesus parece desmentir a interpretação que afirmamos. Só que poucos versículos antes, no mesmo capítulo 9 de Lucas, Jesus qualifica explicitamente a ideia do Filho do Homem. No versículo 22 diz: “O Filho do Homem terá que sofrer muito. Ele será rejeitado pelos líderes judeus, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei. Será morto e, no terceiro dia, será ressuscitado”. E no próximo versículo 23, Jesus continua dizendo: “Se alguém que ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto cada dia para morrer e me acompanhe.”

Claramente seguir Jesus não significa viver a vida boa. Significa morrer. Significa ser o filho do rei, sim, mas um rei sem-teto e com uma coroa de espinhos.

Mais duas expressões realçam esta conclusão. Primeiro, os “pássaros” referiam-se às nações gentílicas (romanos) para os judeus daquela época. Eles usavam este tipo de expressão da mesma maneira que nós hoje usamos palavras como “laranja” no meio político. Semelhantemente a “raposa” se referia a um amonita, um povo racialmente semelhante aos judeus, entretanto, não judeu. A família de Herodes tinha sangue amonita e Jesus chama Herodes de “essa raposa” em Lucas 13.32 e o capítulo 9, onde encontra-se a nossa passagem, começa falando do Herodes. Logo, Jesus, usando uma linguagem velada mas entendida pelos judeus está afirmando que pessoas corruptas como Herodes têm as suas casas e os povos perverso também. Mas nós somos diferentes destes dois grupos. Não seguimos o mesmo padrão do mundo. Seguimos um rei sem-teto, um rei rejeitado e o mesmo será a sorte de quem queira segui-lo.

Oração

Pai, muitos de nós seguimos o Senhor há muitos anos, mas esta passagem nos desafia e nos faz questionar: sabemos mesmo o preço? Especialmente que tropeçamos a resposta negativa no entristece. Pai, encha-nos do Teu Espírito para que tenhamos ousadia para Te seguir e fidelidade para seguir-Te com integridade. Em nome de Jesus. Amém.

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