Semana 19: Lucas 6.31-35

Façam o contrário: amem os seus inimigos e façam o bem para eles. Emprestem e não esperem receber de volta o que emprestaram e assim vocês terão uma grande recompensa e serão filhos do Deus Altíssimo. Façam isso porque ele é bom também para os ingratos e maus. Tenham misericórdia dos outros, assim como o Pai de vocês tem misericórdia de vocês. (vv.35-36)

Quando eu morrer, conforme a minha interpretação da passagem acima, terei uma enorme biblioteca. Dois ou três livros para cada um que emprestei e não foi devolvido! Brincadeira…tou só mostrando o meu lado ainda egoísta e pecaminoso. Desculpe.

Mas imagino que muitos se identificam comigo. Um dia li esta passagem e resolvi emprestar sem cobrar…pelo menos sem insistir na devolução. Não tem sido nada fácil mas é um bom exercício na libertação das “coisas” (espero não ser bombardeado com pedidos de empréstimo!). Mas a bem da verdade é que eu queria chamar atenção para a primeira parte do versículo, “amém os seus inimigos e façam o bem para eles.” E por favor, reparem a frase anterior, “façam o contrário.” Contrário do quê? O contrário dos exemplos anteriores, nos versículos 31-34 (sim, terás que lê-los).

“Fazer o bem” era um ditado bem conhecido no império romano que orientava o comportamento social numa cultura hierarquizada. Isto é, as pessoas de condição social e financeira tinha uma obrigação moral dentro da cultura romana de “ajudar” os menos favorecidos, semelhantemente aos “benfeitores” do Brasil colonial. Era um sistema de socorro social, porém paternalista. Obviamente “fazia-se o bem” para as pessoas do seu círculo de amizade que precisavam. Estas pessoas estavam dentro do seu alcance justamente porque elas tomavam o devido cuidado de ter o mínimo de consideração por você da mesma forma que hoje as pessoas com pelo menos um pouco de bom senso não ficam ofendendo o seu patrão. Entendeu como funciona?

Mas Jesus radicaliza ao dizer que devemos amar até o nosso inimigo. (Paulo também radicaliza o conceito de “fazer o bem” em Romanos 13, mas de outra forma). O versículo 36 começa a explicar mais: “tenham misericórdia dos outros, assim como o Pai de vocês tem misericórdia de vocês.” Deus teve misericordia da gente que éramos inimigos, logo nós também…

E como fazer isto, como amar o inimigo? Os versículos 36-49 esclarecem mais ainda. Vou resumi-los com um negativo e um positivo…

Primeiro o negativo, não julgar não se refere à pouca importância que se dá pelo pecado, nem à falta de admoestação acerca do mal (Atos 13.44ss; Romanos 1.32; 1Coríntios 5.11ss). A frase deve ser entendida junto com verso anterior e a frase posterior: Deus é o juiz, não nós, portanto não devemos condenar o próximo e, mesmo quando o admoestamos, devemos nos examinar cuidadosamente primeiro. Portanto, “não condenar”: esclarece a frase anterior, “não julgar”.

Positivamente, perdoar: seguindo o exemplo do perdão financeiro, não devemos nos orgulhar da nossa posição certa em detrimento ao próximo ou nos ofender por insultos e injúrias pessoais, mas perdoá-lo, como Deus o faz. Também,define por oposto as últimas duas exortações negativas.

Amar o inimigo não é nada fácil. Vai contra a nossa natureza (pecaminosa). Gosto imensamente e estar com gente que ri junto comigo e me apoia. Não gosto de estar com gente que me vê com suspeito, sempre me desafiando com aquelas condenações veladas ou não.

Mas Jesus exige dos seus discípulos um outro caminho. Iremos com ele?

Oração

Pai bondoso, isto não é nem um pouco fácil, amar o meu inimigo. E sei que eu seria o maior hipócrito ao dizer que não considero ninguém como inimigo. Portanto, SOCORRO! Imprima em mim a imagem de Cristo que ainda amou os seus inimigos e morreu por eles. Em seu nome. Amém.

  1. Realmente Deus coloca para nós provas de fogo assim como essa, só que já teve essa experiencia de amar o seu inimigo é que sabe o quão dificil é. Mas no final vale a pena, Deus nos honra e exalta e as vezes é até na frente daqueles que queriam o nosso mal. Obedecer faz parte da nossa vida! Gostei muito do post!!!

  2. Ontem, recebi a seguinte mensagem da amiga, Jane Vilas Boas, secretária pessoal da ex-senador Marina da Silva. Substitui apenas a referência pessoal por FULANO DE TAL. Tudo isso ilustra a dificuldade e tamanho desafio que Jesus nos deixou:

    Prezado Tim,

    toda vez que abro seu e-mail agradeço intimamente a sua generosidade de continuar mandando mensagens. Isso porque tenho um “ser” em casa, altamente high tech, que acha um absurdo ter que abrir e-mails, essa coisa antiquada.

    Mas escrevo para dizer que quando li a primeira frase da reflexão empaquei, pela milionésima vez, nesse “padrão Jesus” que me deixa muito perplexa.

    Acho que preciso de alguém que me ensine o que é amar o inimigo. Já ouvi tantas fundamentações filosóficas sobre os tipos de amor (fraterno, ágape, romântico, etc.), deve ter um tipo que seja específico para inimigos. Envolve emoção? Aliás, onde a gente coloca a emoção que o inimigo nos causa?

    Compreendo o “não julgar”, ter empatia, respeitar a alteridade (vejo o FULANO DE TAL e a derrocada psicológica que ele ostenta no rosto me convence de que o que ele está passando, a ruína moral, social, financeira talvez, não é algo que se deseje a ninguém e me compadeço), mas “amar”, ô Jesus, não sei o que seja, ou “como se dará isso”, como disse Maria diante do anúncio do anjo.

    Obrigada por tratar do assunto. Aprendo mais alguma coisa. Mas há um monte Kilimanjaro para escalar ainda, nesse tema (e em outros, claro).

    Fraterno abraço,
    Jane

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