Elifaz:
Deus fere, mas ele mesmo faz o curativo; ele machuca, mas as suas mãos curam …. (5.19)

Jó:
…. Será que sou forte como a pedra? Será que o meu corpo é de bronze? Não sou capaz de me ajudar a mim mesmo, e não há ninguém que me socorra. Meus amigos me desapontaram “Uma pessoa desesperada merece a compaixão dos seus amigos, mesmo que tenha deixado de temer ao Deus Todo-Poderoso. Mas eu não pude contar com vocês, meus amigos, que me desapontaram como um riacho que seca no verão. (6.12-15)

Reflexão

Leia com cuidado a passagem acima. Veja a fala de Elifaz que termina em Jó 5.27, e leia a fala de Jó que começa no capítulo 6. São “falas” muito diferentes. A fala de Elifaz é a fala de que “tudo vai dar certo”,  muito diferente da fala de Jó. Talvez você ache a minha avaliação injusta porque somos fortemente tentados a acreditar que a descrição de Elifaz do amor e do cuidado de Deus seja certa. Acreditamos nisto porque esta é a perspectiva que ouvimos muito na igreja. Resumidamente, ela é a afirmação de que “tudo vai dar certo para os crentes”. É a conversa do tudo azul, tudo beleza. É a conversa da teologia da prosperidade (será que vou bater novamente nesta tecla?): Deus deseja riquezas e saúde para o povo dele. E quem não experimenta isto, está em pecado. Esta é a conversa de Elifaz. Qual é o problema?

Simplesmente não é bíblico (eventualmente a perspectiva dos amigos de Jó será rejeitada no Livro de Jó), pelo menos não no sentido do povo de Deus escapar da violência, de doença, e de outros tipos de “desgraça”. Pensem bem: o que dizer dos fiéis que sofrem perseguição e perda em países que não toleram a fé cristã? O que dizer dos desastre naturais que, vira e mexe, atingem uma região e outra e arrastam gente, inclusive crente, para a morte sua e/ou dos seus queridos? Diremos, “tenha fé, tudo vai dar certo!”???

Não me entenda mal. Não estou dizendo que a vida do povo de Deus é tão desgraçada como a vida de qualquer um. Ou Que Deus não deseja ultimamente nos “abençoar”. Claro que ele deseja isto. Mas a Bíblia é clara: a vida de ressurreição em Cristo e o triunfo de sermos filhos de Deus tem que trilhar o caminho da cruz! Passamos por sofrimento por razões que nem sempre podemos até saber por quê. A Bíblia descreve Deus como um oleiro que molda a gente como barro quebrado, e também como um metalúrgico que nos trata como ouro e nos queima pra caramba, para nos purificar. Mas até estas metáforas bíblicas não “explicam” toda a dor que o ser humano passa. Nem sempre “tudo vai dar certo” a não ser no sentido de que no Dia Final não haverá mais entre nós a tristeza, a injustiça e a dor. Sim, em última análise, esta é uma afirmação confortante, mas não nos diz nada a cerca do que teremos que passar para chegarmos lá.

A resposta de Jó era mais acertada que o consolo de Elifaz. Não somos mesmo fortes como a pedra ou feitos de bronze (6.12). E uma pessoa desesperada merece a compaixão dos seus amigos (6.14), não o dedo acusador e esta bobeira que “tudo vai dar certo”.

Oração:

Senhor amado, este Livro de Jó nos assusta. Quem gosta de sofrer? Porém, teu filho amado não fugiu do sofrimento por nós, mesmo quando ele próprio se assustou com a dor. Pai, esteja conosco na dor e na alegria, na pobreza e na riqueza. Conceda-nos a porção plena do Espírito Santo, para nos manter fiel a Ti em todas as circunstâncias. E Pai, livra-nos da tentação de dizer aos aflitos ao nosso redor, “tudo vai dar certo”. Dá-nos um coração quebrantado e compassivo. Em nome de Jesus. Amém.

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