por Mike I. Smith

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Ciência e religião têm se tornado um assunto emocional, tanto na comunidade científica como no interior da Cristandade, em anos recentes. Compreensões inadequadas abundam, tanto no tocante às implicações religiosas das teorias científicas como das implicações científicas da teologia. Uma interação genuína e proveitosa entre estes dois aspectos diferentes mas complementares da vida de um cientista Cristão é necessária e benéfica, caso se queira sustentar as próprias crenças com integridade. O desafio do naturalismo filosófico sentido por alguns Cristãos, tal como amplamente esposado por Richard Dawkins et al, tem resultado em uma interação caracteristicamente negativa entre ciência e religião, na qual o Cristianismo deve ser defendido contra o avanço da maré ateísta (presumidamente o sinônimo de evolucionismo e “Big Bang”). O que tem sido quase apagado da consciência popular é a idéia de que estudar ciência possa realmente fortalecer a fé de alguém, e aprofundar a reverência e o senso de maravilhamento diante de um criador que orquestra o universo com tal variedade bela, complexidade e ingenuidade. Considere as palavras de Thomas Browne:

“A sabedoria de Deus recebe pouca honra daquelas cabeças vulgares que rudemente arregalam os olhos e em completa rusticidade admiram suas obras; o magnificam mais altamente aqueles cuja judiciosa inquirição em seus atos, e pesquisa deliberada de suas criaturas, retribuem o dever de uma admiração devota e erudita.”

O desafio da percepção pública da ciência não se limita à relação com a religião. Não disse alguém, em certa ocasião, que “Um pouco de conhecimento é uma coisa perigosa”? A mídia, um punhado indivíduos falantes, pode ferir um nervo público que é suspeitoso de qualquer coisa que não consiga compreender. Estes indivíduos tem o dom de fazer com que as pessoas acreditem que elas, o público, tem razoabilidade suficiente para captar os “fatos” e tomar uma decisão informada. A retórica é algo poderoso e, se alguém lê um escrito fundamentalista (Cristão ou Naturalista) descobre que a apresentação da informação é, às vezes, distorcida ou abusada. Muito poucas pessoas atingem uma decisão informada e, talvez, seja possível argumentar que ela é raramente razoável, considerando-se a complexidade da ciência.

Compreensões errôneas do Cristianismo e de Cristãos cientistas por cientistas, jamais serão alteradas pela tentativa de conduzir cada pessoa individual a uma consideração racional das questões envolvidas. O problema requer, antes, um assalto estratégico aos fundamentos intelectuais de nossas culturas. Isto pode ser visto nas diferentes formas de pensar da minha geração e da geração de meus pais. A transição da modernidade (racionalismo) para a pós-modernidade começou muitos anos atrás como uma concepção intelectual em universidades, mas tem sido finalmente absorvida na psiquê popular. Similarmente, se queremos voltar nossas mentes e corações para Cristo, será preciso um sério engajamento intelectual com a teologia e a ciência por aqueles colocados como embaixadores para ambas as comunidades – a comunidade científica e a Cristã. Uma mudança de percepção entre a intelligentsia verá, gradualmente, um grande impacto entre o grande público.

Em minhas discussões com colegas cientistas, uma percepção comum dos Cristãos é a de que eles são anti-intelectuais, e que não levam a sério a evidência disponível. Minha resposta deveria, assim, redefinir a integridade intelectual considerando tanto o meu trabalho como minha fé, pontuando, simultaneamente, que a “integridade intelectual” assumida se apóia, por vezes, em uma cosmovisão derivada da cultura circundante que é aceita passivamente, e não, como se costuma pensar, do raciocínio dedutivo. Ao falar com Cristãos, talvez construindo uma apreciação mais positiva de como a minha compreensão da ciência tem enriquecido a minha fé, eles sejam levados a uma visão mais esclarecida do papel da ciência.

Atuar como embaixador a dois mundos diferentes requer compreensão das preocupações e dificuldades de relacionar os dois, um ao outro. Cientistas cristãos estão posicionados de forma singular para elaborar esses assuntos, na medida em que adquirem uma compreensão adequada de ambas as comunidades. Nossa cultura não está perdida, e o Cristianismo e a ciência não são irreconciliáveis. O que se requer é o aumento da compreensão obtida por meio do engajamento inteligente, com a confiança de que, enfim, a sabedoria de Deus será mostrada, tanto na revelação como na criação.

Pois a terra se encherá do conhecimento da glória de Deus, como as águas cobrem o mar.
Habacuque 2.14