O valor da cultura indígena e o evangelho – Entrevista com Henrique Terena
19 de abril – Dia do Índio
Ir para a roça, pescar e caçar, tomar banho no rio. Assim foi a vida de Henrique Dias até seus dezesseis anos, desfrutando de tudo o que um indígena nascido em uma aldeia pode desfrutar. Apreciador da cultura tribal, ele é um dos líderes do movimento evangélico indígena e atuante na promoção da qualidade de vida de seu povo.
Nascido em 24 de agosto de 1962, na aldeia Córrego do Meio Buriti, município de Sidrolândia, Mato Grosso do Sul, Henrique cresceu no seio de uma família indígena da etnia Terena e evangélica. Entregou sua vida a Jesus aos nove anos de idade. Hoje, mais conhecido apenas como Henrique Terena, é pastor, formado em Teologia pelo Seminário Palavra da Vida e presidente do Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas (Conplei).
Em entrevista concedida ao blog Paralelo10, Henrique Terena fala sobre seu encontro com Jesus, sua atuação na Funai e no Conplei; comenta os avanços e desafios da igreja indígena nacional, e a relação do evangelho com a cultura e a identidade indígena.
Como foi o seu encontro com Jesus?
Tive a felicidade de ter nascido num lar cristão, onde o apego à palavra de Deus era a nossa prática diária. Mas a minha conversão se deu por meio de um trabalho com crianças, feito por missionárias que trabalhavam em nossas comunidades. Isso se deu aos nove anos de idade, junto aos demais que naquele dia entregaram suas vidas ao senhor Jesus.
O que você mais aprecia na cultura do seu povo?
Como em todas as culturas há coisas boas e coisas ruins. A cultura tribal é muito bonita, mas as coisas que eu mais aprecio são a língua, a comida típica e as nossas danças.
Como funcionário da Funai, qual a sua percepção sobre as políticas públicas voltadas aos indígenas?
Mesmo diante do caos que ela vem passando nos últimos anos, a Funai ainda tem um papel fundamental na proteção das nações indígenas. A meu ver, o que tem atrapalhado é a intervenção política que coloca dentro do órgão pessoas pouco ou sem nenhum conhecimento das temáticas indígenas. Isso gera desconforto e ingerências nas políticas indigenistas.
Como e quando surgiu o Conplei?
O Conplei nasceu do anseio das organizações missionárias que queriam ver igrejas e líderes indígenas tendo papel de influência nas tribos, não somente na evangelização, mas também na área social.
Quais maiores conquistas do Conplei para a igreja indígena e o avanço na evangelização dos povos indígenas do Brasil?
Creio que foi mostrar para o movimento missionário que há igrejas e lideranças fortes nas comunidades indígenas, e que avanços significativos estão acontecendo por meio delas. Um dos exemplos são nossos congressos que reúnem mais de três mil líderes a cada quatro anos, para um momento de celebração, testemunho e comunhão.
Quais os principais desafios da igreja indígena brasileira?
Alguns dos desafios são a questão geográfica e a língua. Como cada povo tem sua própria língua, mesmo outra pessoa sendo indígena, mas de outra etnia, ela se torna um estrangeiro. Mas há uma grande vantagem no fato de ser indígena. Isso já quebra algumas barreiras e favorece os primeiros contatos.
O que os evangélicos precisam saber sobre os povos indígenas?
Os povos indígenas possuem uma cultura peculiar, mas eles também choram, sentem frio, e têm aspirações de uma vida melhor.
Qual o seu recado para os indígenas evangélicos no Dia do Índio?
Que a tarefa de evangelização continue e que os mais de cem grupos não alcançados possam conhecer a Jesus. Nesse dia, considerado Dia do Índio, espero que seja para reafirmar nossa identidade e celebrar a nossa cultura. E dizer que, como evangélicos, valorizamos muito quem somos.
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