O jornalista Jénerson Alves é autor de “A Reforma Protestante em Literatura de Cordel” e presidente da Academia Caruarense de Literatura de Cordel (Foto: Joyce Lima)

No ano em que se comemoram os 500 anos da Reforma Protestante, várias atividades estão sendo realizadas em todo o mundo. Pelas bandas do nordeste, onde vive um povo criativo e arretado, o aniversário da Reforma também está sendo lembrado e comemorado. Mas de uma forma bem peculiar.

O pernambucano Jénerson Alves, 29 anos, jornalista e membro da Igreja Batista Emanuel em Caruaru (PE), resolveu contar a história da Reforma em cordel, um estilo literário tipo poema popular, muito comum no nordeste brasileiro. Jénerson, que também é presidente da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel (ACLC), diz que o cordel sobre a Reforma é uma opção para memorizar os fatos e apreender os conceitos, e, assim, popularizar um assunto que às vezes fica restrito aos teólogos da academia.

A narrativa do cordel passa pelo nascimento, morte e ressurreição de Jesus, pelo surgimento e primeiros dias da igreja, seguidos pela perseguição romana, relatados em Atos, e chega à oficialização do cristianismo como a nova religião do império romano, feito de Constantino. Depois salta para o século 16, quando “Vê-se o clero corrompido / Com o éter da insensatez / Tão servo do vil metal / Tão longe do ideal”, e, então, surge o movimento que hoje conhecemos como Reforma Protestante.

Confira um trecho do cordel e em seguida a entrevista que Jénerson concedeu ao blog Paralelo 10.

P10 – É o seu primeiro trabalho do gênero?

Jénerson – Escrevo cordéis desde os 16 anos. A Bíblia e os conceitos cristãos sempre estiveram presentes em meus versos, desde os primeiros escritos. Tenho mais de 20 cordéis produzidos, entre eles ‘A História da Igreja Batista no Brasil em Versos de Cordel’, ‘Plantação de Pessoas’ (que foi premiado em um concurso nacional realizado em São Paulo) e ‘Israel e Palestina: Razões do Conflito’ (que consta no acervo da Universidade de Princeton). Ademais, gravei quatro CDs com declamações de cordéis e poemas populares.

Por que usar o estilo de cordel para falar sobre a Reforma Protestante?

Considero a literatura de cordel uma das mais ricas expressões do nosso povo, além de um elemento importante para a construção da identidade do Nordeste e, consequentemente, do Brasil. Além disso, a técnica cordeliana, formada por rima, métrica e oração, traz uma sonoridade às estrofes que garantem um caráter mnemônico à obra. Ou seja, é uma opção para memorizar os fatos e apreender os conceitos, mas também propicia ao leitor uma experiência estética. Afinal de contas, o cordel é um segmento literário e, como dizia o crítico literário caruaruense Álvaro Lins, a literatura possui “o seu heroísmo próprio”.

Como surgiu a ideia e quanto tempo levou para concluir o trabalho?

A ideia surgiu no final do mês de outubro do ano passado, quando fui escalado para ministrar um sermão na igreja onde congrego, em Caruaru. Na ocasião, realizei um estudo sobre a Reforma Protestante, bem como suas influências na sociedade ocidental. Foi então que me dei conta da importância de a Igreja conhecer melhor suas origens, os pensamentos dos reformadores e refletir sobre o papel histórico do protestantismo. Comecei, então, a aprofundar as pesquisas e a redigir as estrofes. O manuscrito foi concluído no início de janeiro, quando dei início aos procedimentos de edição – também semelhantes aos modelos tradicionais, com cópias confeccionadas de modo praticamente artesanal.

Uma das consequências da Reforma foi a popularização da Bíblia Sagrada, antes restrita ao clero católico. Usar um gênero literário popular seria também uma maneira de popularizar um assunto que, às vezes, fica restrito aos teólogos?

Certamente. Ora, os jesuítas usaram, além de esquetes teatrais, a poesia para catequisar os índios nos primórdios da conquista do Brasil. Ao longo da história brasileira, vê-se os cordelistas, além dos cantadores e trovadores, cumprindo o papel de difundir informações por meio da cultura, sobretudo para uma população predominantemente analfabeta. Inclusive, sobretudo no século XX, os cordéis noticiosos ganharam grande destaque. Nos anos 1920 e 1930, por exemplo, muitos folhetos tinham maior credibilidade do que os jornais, no Nordeste.

No que concerne à popularização do tema da Reforma Protestante, este foi o meu intuito ao escrever o folheto. Conhecer as raízes, as origens, do movimento é imprescindível para a construção da identidade. É bom lembrar, todavia, que popularizar não é banalizar. Isto é, mesmo procurando empregar uma linguagem simples e didática, o folheto foi produzido mediante pesquisa, com zelo nas informações. O historiador Justo Gonzáles afirma que a história da igreja é uma espécie de autobiografia coletiva para os cristãos. “Portanto, não se trata aqui de um interesse de antiquário em tempos passados que nunca voltarão; antes, trata-se de uma necessidade urgente de conhecer esses tempos passados que seguem presentes ainda entre nós – limitando nossas opções, determinando nossas perspectivas e assinalando-nos o caminho em direção ao futuro”, observa Gonzáles.

Como tem sido a recepção deste trabalho?

Os caminhos para a divulgação do trabalho não são fáceis. Mesmo assim, muitas pessoas, de diversas partes do Brasil, têm demonstrado interesse em adquirir o folheto. Isto muito me alegra, pois demonstra que ainda há uma valorização da cultura e, principalmente, um desejo de estudar a Reforma Protestante e suas implicações. Espero que esta avidez envolva ainda mais pastores e líderes, que possam enxergar no cordel inclusive uma ferramenta pedagógica para trabalhar esta e outras questões na comunidade. É fundamental que, sobretudo, os jovens sejam orientados e estimulados a conhecer a história da Igreja, a fim de que a Mensagem do Cordeiro seja proclamada com cada vez mais ousadia e segurança. Afinal de contas, é através deste estudo que podemos perceber o quanto Deus cuida do Seu povo e da Sua Mensagem ao longo dos tempos. Tais fatos servem de consolo e esperança. Basta confiar que o mesmo Deus que conduziu Sua Igreja no passado é fiel e justo para nos conduzir no presente e no futuro.

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Quem tiver interesse em adquirir o cordel basta entrar em contato com o autor pelo e-mail jenersonalves22@gmail.com.

  1. Show do Jenerson. Utilizando um estilo literário amado pelo nordestino para transmitir uma das maiores historia do mundo _ a reforma protestante.

  2. Olá!
    Como consigo o cordel inteiro para apresentar na igreja em que sou membra no dia da reforma protestante?

    Obrigada, Ana

  3. Olá, Ana Paula! Você pode entrar em contato com o próprio autor, pelo e-mail citado ao final da matéria. Obrigado por entrar em contato.

  4. Erickson Pinheiro souza

    O Jénerson foi muito criativo e aproveitou um gênero muito usado por nós nordestino para ilustrar um momento marcante para todos os protestantes. Entrei em contato com ele solicitando o material para que possamos apresentá-lo no nosso grupo e na igreja.

  5. FRANCISCO PAIXÃO BEZERRA CRODEIRO

    Parabéns! Muito bem feito! Peço permissão para lê-la na Sessão Solene, em comemoração aos 500 da Reforma Protestante, aqui em Fortaleza. Destacarei o autor, claro!

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