Missão, ensino e transformação social no sertão nordestino
Por Ildemar Nunes de Medeiros
O analfabetismo como obstáculo à obra missionária
A preocupação com os ouvintes do Evangelho, no sentido de que não apenas ouçam, mas tenham condições de ler pessoalmente a Bíblia, é crucial nos frutos da obra de evangelismo e missões. Tendo em vista que o analfabetismo dificulta na evangelização o uso de material didático, como folhetos, livretos, livros, Novos Testamentos e Bíblias, resta ao missionário o método da pregação. Por isso, este deve aprender a pregar mensagens no nível da compreensão do povo, fundamentando-as nas Sagradas Escrituras e relacionando-as com os problemas e interesses diários dos ouvintes. Na evangelização, pregação e ensino, o missionário deve aprender a falar os termos próprios, o linguajar dos seus ouvintes, e usar as ilustrações mais familiares possíveis, à semelhança de Jesus quando pregava e ensinava as verdades do Reino por meio de parábolas.
Para o Senhor Jesus, era relevante que os seus ouvintes soubessem ler. Percebemos isso quando ele disse: Em verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha palavra, não verá a morte, eternamente (Jo. 8.51, grifo nosso). Pergunto: Como alguém guardará a Palavra se não a ler? Embora se saiba que a fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus, a fim de que haja crentes maduros é necessário discipulá-los como diz as Escrituras: E o que de minha parte ouviste, através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros (II Tm. 2.2). O discipulado essencialmente passa pela alfabetização. Para tanto, é que missionários e organizações missionárias no mundo inteiro têm se dedicado a traduzir a Bíblia para a língua dos povos evangelizados. Se o povo não souber ler, todo esse esforço será em vão.
Para a superação das limitações impostas pelo analfabetismo, a obra missionária deve ser acompanhada de um projeto de ação educacional, que pode incluir atividades educativas, escolas de alfabetização e orientação para o desenvolvimento das potencialidades e aptidões de cada pessoa. Tal projeto deve priorizar crianças, adolescentes, jovens e mulheres. Entre os adultos, os idosos devem fazer parte deste objetivo educacional missionário.
Entendendo-se o ensino das Escrituras e a educação como um processo para a libertação do homem, Torres Novo afirma que: “a teologia deveria estar envolvida com a educação libertadora e uma educação libertadora deveria estar envolvida com a teologia”. As Escrituras, a verdade absoluta de Deus acerca do homem e para o homem e acerca de toda a vida do homem, afirmam sobre si mesmas: E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (Jo. 8.32). Essa libertação, por meio do ensino das Escrituras, não se dá apenas na questão das crenças, mas na libertação concreta nos âmbitos espiritual, material e físico.
Usar as Escrituras como texto básico para alfabetizar e para aprofundar os conhecimentos gerais é um processo de aprendizagem revolucionário que irá gerar expectativas naquele que está aprendendo em toda a sua vida, para toda a vida! A esse respeito, é interessante o que o autor Myers menciona sobre a alfabetização feita por missionários quando fazem evangelismo:
Há uma alta correlação estatística entre alfabetização adulta feminina e mudança social positiva. Isto inclui coisas como taxas de mortalidade infantil mais baixas e desenvolvimento econômico.
Os missionários, portanto, devem estar preparados para efetuar mudanças sociais pelo ensino, seja no interior do Nordeste, especialmente no sertão, e em outras comunidades no mundo em que o analfabetismo afete a vida das pessoas. Conscientes de que o Evangelho é capaz de promover mudanças significativas em todas as áreas da vida das pessoas e transformar a realidade de desesperança em que elas se encontram, os missionários, movidos por essa esperança, devem se engajar no ensino, na instrução e na formação tanto dos novos convertidos como daqueles que estão sendo evangelizados.
Nota: Texto retirado do livro Missionários Para o Sertão Nordestino.
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