Viva ao povo mais arretado do Brasil!
O que seria do Brasil sem a gastronomia, o sotaque, a música e o calor do povo mais arretado que conhecemos? É melhor nem imaginar! Mas o Nordeste, mesmo com toda sua beleza, só é o que é por causa da sua gente. Por isso, aproveitamos a comemoração do Dia do Nordestino (8 de outubro) para festejar junto com o nordestino e lembrar que esse povo é “um povo feito por encomenda”, como disse Sérgio Ribeiro, da missão Juvep.
Leia a seguir o artigo do Sérgio, que fala da riqueza e especificidades dos nordestinos, essa gente tão singular, mas que carrega uma necessidade universal: o encontro com Criador!
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O sertão nordestino é um lugar de grandes desafios e beleza. Sua beleza se revela tanto na estiagem quanto na estação chuvosa. Nos períodos de seca, seu encanto toma uma coloração quase monocromática, dramática com suas paisagens assumindo a cor misturada de cinza-bege do barro e da poeira. Quando desce a chuva, que lava tudo, reverdece o mato, brotam as flores e renasce a lavoura, fazendo que o colorido tome conta da terra de Seu Zé e Dona Maria, de Ciço e de Damiana e a boniteza do lugar atinge o topo da exuberância.
Os desafios do sertão são muitos, mas o maior deles é ser sertanejo, nascer, viver, sobreviver, morrer, fincar descendência, enraizar e perpetuar sua história nesse pedaço de chão cheio de dramas e tramas, de lágrimas e risos, tristezas e alegrias, aventuras, venturas e desventuras.
O povo do sertão nordestino foi feito de encomenda, não tem outro igual, e só esse povo poderia fazer desse lugar um canto tão querido e tão rico de histórias e saber, com suas singularidades que o fazem único e admirável.
O povo sertanejo tem sofrido as influências irresistíveis da globalização e faz parte dessa aldeia global em que o nosso mundo se tornou. O sertão mudou muito, e em cada canto tem uma lan house com crianças acessando coisas boas e porcarias do mundo todo. Veja o que um dos seus poetas[1] diz: “O meu sertão hoje em dia/Está muito diferente/O progresso aqui chegou/Para distorcer a mente/Da cabocla Sertaneja/Que antes era inocente”. Outro poeta[2] canta: “Aquele velho jibão/Também o nosso jumento/O menino barrigudo/Com o olho remelento/Já não se vê por aqui/Caiu no esquecimento/O sertão de alma pura/Do matuto nalfabeto/Da casa velha de taipa/Que de palhas era o teto/Hoje quase não se vê/Só existe o dialeto”. Eu acho que esse último exagerou um pouco, não é que tais coisas não existam mais, mas diminuiu muito! Todavia, tem preservado inúmeros dos seus traços culturais e costumes.
O povo sertanejo continua amável, hospitaleiro, festeiro, político e politiqueiro, com o coração cheio de esperança, embora fatalista. Luís da Câmara Cascudo afirma que o sertanejo admira o homem valente, o que explica sua admiração pelo cangaço e Lampião como um dos seus principais personagens históricos. Para ele não há maior desonra que ser envergonhado em público. O cabra macho do sertão não leva desaforo para casa, lava a honra com sangue, todavia corre de medo de alma penada. É determinado, religioso, sincrético, católico, cheio de superstições.
Esse povo tem as mesmas vicissitudes de todos os povos da terra, traz consigo os mesmos dilemas existenciais, os mesmos pecados, as mesmas virtudes presentes nos seres humanos de todos os tempos e lugares. Na essência, não é diferente: tem o coração repleto de desejos, busca um lugar ao sol, preza sua família, lida com suas incoerências todo dia, tem seu lado humano e seu lado desumano, é gente, gente como a gente, só mora num lugar diferente e um tanto difícil.
Esse povo é alvo do amor de Deus, como todos os povos. Precisa conhecer Jesus Cristo para deixar de dobrar seus joelhos diante das falsas imagens da mãe de Jesus e dos padroeiros de suas cidades. Esse povo precisa ouvir a mensagem do Evangelho para deixar de lado os falsos evangelhos que lhes foram ensinados desde que nasceu. Precisa de um encontro com o Senhor, valente verdadeiro, que deu a Sua vida pela salvação e transformação de cada um deles.
A igreja evangélica brasileira, que por muitos anos esteve alheia ao sertão, tem se movimentando em favor dele, por isso nos últimos 20 anos houve um significativo crescimento do número de sertanejos discípulos de Jesus Cristo. Todavia, o desafio da evangelização desse pedaço de Brasil ainda é enorme: possivelmente, apenas 6% dos sertanejos conhecem a Cristo, e na zona rural tal percentual chega a menos de 2%. Por isso, urge que o povo de Deus em nossa nação foque parte significativa de seus esforços para o plantio de igrejas nos sertões nordestinos. E, afirmo sem medo de errar: um dos resultados da evangelização do sertão é que teremos muitos sertanejos convertidos em missionários para levar o Evangelho a outros sertões, do Nordeste, do Brasil e do mundo.
[1] Davi Calisto
[2] Damião Metamorfose
• Sérgio Ribeiro trabalha com plantio de igrejas no sertão nordestino desde 1983. É presidente e fundador da Missão JUVEP.
Imagem: Nação Nordestina.
Paulo Conde
O chamado é intransferível e urgente, é da minha geração para o mundo e suas gerações