Os desafios e os sonhos do pastor de uma igreja indígena
Meu sonho é ver a igreja indígena caminhando saudável espiritualmente; ver uma igreja apaixonada por Jesus, avivada e missionária, enviando novos obreiros indígenas para o campo missionário, e sustentando os que foram.
As palavras acima são de Jaimeson Rodrigues, 38 anos, indígena da etnia Sateré-Mawé, pastor da Igreja Indígena de Santa Isabel, Amazonas. Convertido aos 14 anos de idade, Jaimeson conta que no início do seu exercício pastoral ele era humilhado por outros pastores por não ter um diploma de teologia. “O que me sustentava era a convicção do meu chamado em Jesus”, lembra o pastor, que hoje faz parte do ministério Amanajé, um projeto da WEC Brasil/Missão Amem, em parceria com Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT). Atualmente, após ter passado pela Capacitação Bíblica Missionária Indígena (CBMI), oferecida pelo Amanajé, o pastor indígena está terminando a formação em teologia e concluindo também um curso avançado em teologia, cultura e direito, promovido pelo Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas (Conplei).
Em entrevista ao Paralelo 10, Jaimeson fala sobre a descoberta da sua vocação, o início da evangelização dos indígenas em sua região e os desafios que enfrenta como pastor de uma igreja que reúne indígenas de cinco etnias diferentes.
Como foi seu encontro com Jesus?
Meu encontro com Jesus foi aos 14 anos de idade. Mesmo eu nascendo em uma família cristã e frequentando a igreja, eu não tinha compromisso, eu precisava conhecer Jesus. Lembro que certo dia, eu estava profundamente doente, pois tinha me acidentado com uma espingarda em minha boca, o que me deixou com poucas chances de vida. Através da mãe de um amigo pastor, Deus falou a mim que tudo o que tinha acontecido não era para a minha morte, mas para eu testemunhar o que Deus fez em minha vida. Naquela noite, clamei por socorro do Senhor. Ele me ouviu e meu vida novamente – uma nova vida em Cristo.
Como foi a descoberta da sua vocação?
Foi viajando com meu pai e minha mãe, fazendo missões no rio Negro. Eles são plantadores de igreja eu sentia prazer em testemunhar de Jesus, em ajudar os parentes e ensinar o que eu sabia. Naqueles momentos eu percebia o quanto Deus me capacitava e me levava a entender a minha missão.
Há alguma incompatibilidade ou incoerência entre ser indígena e cristão?
Não há nenhuma incoerência em ser indígena e cristão, pois Deus também fez o indígena para glorificar ele. Sou cristão com Amor.
Como começou a evangelização entre os indígenas na sua região?
O plantio da igreja indígena começou em 2005, quando eu e minha família fomos para Santa Isabel para apoiar um amigo pastor. Antes da viagem, fomos informados pelo pastor Ronaldo Lidório, nosso líder de campo, que o pastor nosso amigo não poderia mais ir, por problemas de saúde, então estávamos com a missão de começar o plantio da primeira igreja evangélica indígena naquela região. A primeira coisa que fizemos foi pedir direção de Deus para ver como começaríamos o tão grande desafio. Começamos ter contato com o povo Yanomami, depois com o povo Nadeb, e começamos a fazer atividades evangelísticas com crianças em nossa casa e nas comunidades, investindo em bons relacionamentos, fazendo amigos e parceiros. Depois de muito esforço, vieram os primeiros convertidos da etnia Desano, Baré e Baniwa, causando um grande impacto, pois muitas pessoas, até mesmo outras igrejas não nos viam como um grupo cristão. Hoje somos mais de 200 membros, temos algumas etnias representadas, como Desano, Tukano, Baniwa, Baré e Werikena, somos respeitados e vistos como uma igreja que ama a Jesus.
Como a igreja ajuda o indígena a crescer em fé e, ao mesmo tempo, reafirmar sua identidade indígena?
Para manter os parentes indígenas na fé, temos uma turma que trabalha com estudos bíblicos, discipulado e visitas nos lares, para fortalecer a comunhão. Para preservar a identidade indígena, temos incentivado a fala da língua e alguns eventos culturais, como os encontros do Conplei, Dia do Índio, e outros eventos, sempre com muitas comidas regionais.
Quais os principais desafios atuais da igreja indígena em Santa Isabel?
O primeiro maior desafio é o espiritual – lutas fortes contra as forças malignas que atuam em nossa região, tentando nos desmotivar para não falar de Jesus. Segundo, trabalhar para conseguir um bom relacionamento com outras etnias que ainda estão ligadas em suas pajelanças e rituais. Outros desafios são enfrentar as fortes corredeiras ou os caminhos pela mata, que nos fazem demorar dois dias para chegar a outras aldeias; também os recursos que, muitas vezes, nos limita a ir mais longe. Mas temos trabalhado pela fé com os recursos preciosos que Deus tem enviado.
Como outras igrejas poderiam apoiar vocês?
Estamos orando para Deus tocar em igrejas que possam somar conosco nesta obra, nos ajudando na evangelização entre o nosso povo e com recursos para sustentar obreiros indígenas que já estão pregando para seus parentes. Se uma igreja sente direcionamento de Deus para ser nossa parceira, basta entrar em contato com projeto Amanajé ou direto conosco, pelo meu e-mail: jaimeson.rodrigues@yahoo.com.br, ou pelo Whatsapp: (92) 991181492.
Confira outras fotos da Igreja Indígena em Santa Isabel
Sérgio Paulo Martins Nascimento
Só uma correção importante o projeto Amanajé foi desde seus planejamento e é um projeto em parceria com a APMT
Agência Presbiteriana de Missoes Transculturais da IPB favor fazer a correção.
Editor
Olá, Sérgio.
Obrigado pela visita em nosso blog e pela informação. Já fizemos a correção.
Abraço.