Arte, terapia e comunhão à margem do rio Amazonas
Deixa Deus entrar nos cômodos
A primeira coisa que se vê da varanda é o rio amazonas. Ele é considerado um rio perene – aqueles em que há sempre água fluindo em seu leito, diferente dos rios intermitentes, nos quais a água desaparece nos períodos de estiagem. Isso fala muito ao meu coração, porque o amor de Deus é assim. Perene. Do outro lado da varanda é possível ver um dos braços do rio, a Lagoa da Francesa. É um rio intermitente. Ele seca no período da estiagem. Mas com a chuva, ele enche. Eu creio que Deus é a chuva e o rio que flui em meu coração e gera vida. Engraçado pensar que de cada lado se tem um rio com diferentes características. A varanda é o último cômodo da minha casa, e isso traz uma analogia interessante, pois para chegar a ela você tem que passar pela sala e pela cozinha. Normalmente, a sala é o lugar onde recebemos as visitas, mas meus amigos estão convidados a entrar na varanda, e acredito que isso é a comunhão que deve ter no corpo de Cristo. Adentrar e se mostrar ao outro. Compartilhar. Sair da superficialidade, tirar o véu, adentrar na casa. E é desafiador. Deixar Deus entrar nos cômodos e restaurar mostra ao corpo de Cristo a obra que Ele tem realizado. Sem vergonha, mas com amor.
As palavras acima são de Trícia Freitas Rossy. Moradora do município de Parintins, no Amazonas, aos sete anos de idade ela começou a fazer crochê, com sua mãe. Na adolescência, aprendeu pintura em tecido e outras artes, tudo por meio de revistas e vídeos. Hoje, na varanda da sua casa, que fica à margem do rio Amazonas, ela reúne semanalmente um grupo de amigas e irmãs da igreja para produzir artesanatos diversos. Além da arte, são momentos de terapia e muita comunhão.
Além da “Varanda do Artesanato”, que reúne quatro amigas, Trícia conta que também há um grupo que funciona duas vezes ao mês em sua igreja local, a Primeira Igreja Batista de Parintins. Esse segundo grupo surgiu a convite da educadora cristã da igreja, irmã Elisângela Lessa.
Tarde com Arte
Segundo Elisângela, os encontros na igreja têm o objetivo trazer equilíbrio emocional através da arte, da comunhão e da reflexão da Palavra de Deus. Temos a proposta também de servir sempre que possível um chá para nossas alunas (visto que esse tem uma função terapêutica) para acompanhar nossas tarde “Tarde com Arte” e agora, “Noite com Arte”.
“Na época do ArteTerapia, antigo projeto, nós atendíamos Mulheres da comunidade que vinham encaminhados dos mais diversos setores da cidade, inclusive, médicos da cidade que encaminhavam mulheres com depressão ou outro tipo de problemas emocionais e de saúde porque entendiam que nossa proposta era ajudar mulheres a enfrentarem esses momentos difíceis de sua vida. Tivemos muitas histórias de mulheres que encontraram nesse curso, alívio para suas dores físicas e emocionais e muitas que puderam ajudar suas famílias financeiramente através da venda de seus próprios trabalhos. Além de realizar a comunhão entre as mulheres da igreja que antes não tinham tanto contato, unindo laços”, conta a psicóloga.
Pequenos instrumentos. Obras lindas e cativantes
Ensinar e fazer artesanato têm sido uma experiência muito edificante para Trícia. “O que mais me alegra é ver os frutos desse trabalho que faço para o Senhor: ver mulheres que não tinham relacionamentos na igreja sendo integradas à comunhão, passando a criar laços com o corpo de Cristo; ver Deus usando esses encontros para colocar ordem ao caos que existia no coração de cada uma; vê-las se encorajando e animando mutuamente a continuar, e isso traz alívio a todo peso e cansaço do dia a dia. Assim como pequenos instrumentos como uma agulha, fita e pano servem para criar obras tão lindas e cativantes, Deus tem nos usado, como instrumentos, para ser e gerar a vida, espelhando nas conversas, nas orações, nos chás, nos sorrisos, nos abraços”, descreve a artesã.
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