O uso da arte como terapia
Para órfãos e crianças vulneráveis
Por Julie Hefti
Criar arte e falar sobre ela pode ajudar as crianças a se recuperarem de experiências difíceis. As atividades podem incluir desenho, pintura, modelagem, colagem e qualquer outro tipo de arte. As atividades abaixo podem ajudar os órfãos e crianças vulneráveis a expressar suas emoções, crescer em autoestima e lidar com memórias difíceis.
O cuidador precisa ouvir bem, expressar compreensão e mostrar plena aceitação e amor. É importante perceber até que ponto a criança quer compartilhar. A atmosfera deve ser descontraída e amigável, e as crianças devem divertir-se enquanto fazem as atividades (por exemplo, usando diferentes cores e materiais).
Ideia 1: o lugar seguro
Um bom lugar para começar com as crianças que passaram por algo traumático é fazê-las desenhar um “lugar seguro”. Esta atividade também é útil para as crianças que estão ficando ansiosas. Incentive a criança a fechar os olhos e imaginar um lugar onde ela se sinta muito segura. Este poderia ser um lugar real ou imaginário. Dê-lhe bastante tempo para imaginar este lugar: isso pode ser difícil para crianças recentemente traumatizadas. Diga-lhe que, neste lugar, só estarão as pessoas que ela quiser e que nada de ruim poderá acontecer com ela. Faça perguntas para ajudá-la a criar uma imagem do lugar, como: “Dê uma olhada ao redor. O que você vê? Que cheiro você sente? O que você ouve? Você está muito feliz e seguro (a)… O que você está fazendo?”. Pergunte “O que mais?” para incentivar a criança a dar mais detalhes. Quando a criança tiver terminado de imaginar o lugar, ela poderá desenhá-lo ou criá-lo com canetas coloridas, lápis, tintas ou materiais diferentes. Incentive-a a se lembrar desse lugar e pensar nele quando sentir medo ou estiver triste.
Ideia 2: sou eu!
Esta atividade pode ajudar a fortalecer o senso de identidade da criança e desenvolver sua autoestima. Peça à criança que se olhe no espelho. Enquanto ela ainda estiver se olhando, faça as seguintes perguntas:
- O que você vê?
- Quem o (a) criou?
- Quantas pessoas no mundo se parecem exatamente com você? (Saliente que Deus criou a criança de uma maneira única e especial. Diga-lhe que tudo que vem das mãos de Deus é bom e bonito – inclusive a criança).
- Como é sua aparência? Você pode se descrever?
- Do que você gosta em si mesmo (a)?
- O que é especial?
Em seguida, crie um trabalho de arte com a criança sobre esse tema. Aqui estão algumas ideias, mas você pode usar suas próprias ideias.
- Com tinta ou nanquim não tóxico, peça à criança para fazer uma impressão da palma da mão no meio de uma folha de papel. Alternativamente, a criança pode desenhar o contorno da mão e colori-lo por dentro.
- Peça à criança para escrever sobre a impressão ou em torno dela “Sou único (a)”.
- Incentive a criança a escrever, em cada dedo da mão, as coisas de que gosta em si mesma.
- Meça a criança e escreva o resultado no papel, com a data.
- Peça à criança para colar uma mecha de seu cabelo no papel.
Esta pode fazer parte de um conjunto de atividades artísticas sobre temas como “De onde eu venho”, “Amizades” e “Minhas esperanças para o futuro”. As crianças podem colocar esses trabalhos de arte em uma pasta e decorar a capa.
Ideia 3: mudar a lembrança
Esta atividade pode ajudar as crianças a lidar com as coisas assustadoras que aconteceram em sua vida.
Simplesmente permitir que as crianças desenhem ou pintem o que quiserem e mostrar interesse no que elas criarem irá ajudá-las a expressar seus pensamentos e sentimentos. Faça perguntas como: “Conte‑me sobre seu desenho”, “Quem está nele?” e “O que eles estão fazendo?”. Se isso revelar que a criança está com medo, você pode usar a seguinte atividade. Conte à criança uma história sobre pessoas ou animais que tinham muito medo de alguma coisa. Em meio a essa situação, algo acontece que os tira do perigo. Talvez outra pessoa ou animal apareça na história e, assim, seu medo desaparece. (Um exemplo da Bíblia é a história de Jesus acalmando a tempestade quando os discípulos estavam com medo.) Volte para o desenho que a criança fez da situação em que sentia medo. Pergunte‑lhe o que a ajudou nessa situação e como seu medo foi embora. Se a criança não conseguir pensar em nada que a tenha ajudado, incentive-a a imaginar alguma coisa perguntando: “O que o (a) teria ajudado?”. Peça à criança para acrescentar essa pessoa ou coisa que a ajudou ao desenho para mudar a lembrança.
Nota: Conteúdo extraído da revista Passo a Passo 101, publicada pela Tearfund. A revista pode ser baixada gratuitamente aqui.
• Julie Hefti estudou recreação terapêutica e trabalhou com crianças colocadas em famílias de acolhimento. Ela também trabalhou no Quênia, com meninas maasai traumatizadas, na Suíça, com usuários de drogas, e na Jordânia, em uma pré-escola para crianças refugiadas sírias.