No dia 20 de novembro é comemorado o Dia Mundial da Criança. A data  foi reconhecida pela ONU com o objetivo de chamar a atenção para os problemas que as crianças então enfrentavam.

O Dia Internacional da Criança nos força a lembrar que o destino destas crianças não foi pré-determinado, foi tecido pelas escolhas dos homens e das mulheres do mundo em que vivem.

Todos nós, devemos zelar para que todas elas, independente de raça, cor, religião, origem social, país de origem, têm direito ao afeto, amor e compreensão, alimentação adequada, cuidados médicos, educação gratuita, proteção contra todas as formas de exploração e a crescer num clima de Paz e Fraternidade.

Nesta data, convidamos nossos leitores a refletir e lutar pelas crianças. Para ajudá-los, indicamos uma entrevista que revaloriza a criança na biografia de Jesus e na história da Reforma Protestante. “A infância de Jesus nos ensina algo sobre como as crianças devem crescer hoje?“, com Harold Segura.

 

  1. Quando falamos de Jesus como modelo de humanidade, sempre pensamos no Cristo já adulto. Mas o Jesus menino pode nos ensinar alguma coisa?

Não tenho dúvidas, sobretudo vendo que os evangelistas, em especial Mateus e Lucas, mostram em detalhes a grandeza da sua pequenez. Ana e Simeão, por exemplo, o adoraram ainda menino (Lc 2.38). Nossa espiritualidade evangélica tem uma grande dívida com o modelo de Jesus menino como referência de vida cristã.

 

  1. Como o Jesus menino pode ser modelo de desenvolvimento para as crianças de hoje?

Se por um lado os Evangelhos dizem pouco sobre os anos da infância de Jesus, por outro, aquilo que dizem é de enorme significado e importância. Vamos nos fixar em Lucas 2.52, que nos mostra o modelo de desenvolvimento de Jesus. Ele é assim descrito: “Jesus ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens”. O modelo de desenvolvimento de Jesus como pessoa humana se dá em quatro dimensões integradas: sabedoria, estatura, graça diante de Deus e graça diante da comunidade. Esse desenvolvimento envolve tanto a dimensão biológica quanto a psicológica, a social e a transcendente – esta última relacionada aos valores, à religião e à espiritualidade. Essas dimensões são inter-relacionadas; são agrupadas em um só conjunto para mostrar o desenvolvimento de Jesus.

 

  1. Como esta perspectiva sobre Jesus nos ajuda no trabalho com as crianças?

O diferencial cristão ao se trabalhar pelo desenvolvimento da infância é a perspectiva integral, que não reduz meninas e meninos a meros alvos de compaixão assistencialista, mas que os aceita como pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus e sujeitos participantes da própria transformação. A criança é mais que um ser carente de alimentação, saúde e escola – é alguém que tem sede de vida plena, de algo mais, de Deus. Ela anseia crescer como um todo – como crescia Jesus.

 

  1. A infância foi uma questão importante na Reforma Protestante?

Por algum tempo pensei que não. Contudo, não é assim. Lutero, por exemplo, preocupou-se com o ensino integral das crianças e apelou aos governantes alemães para que assumissem o compromisso público de abrir e manter escolas cristãs. Calvino e demais reformadores clássicos também expressaram a mesma preocupação pastoral com a infância do seu tempo. Tomaram iniciativas – algumas bem corajosas para a sua época – voltadas para a educação das crianças e para sua proteção social.

 

  1. O que eles falavam teria a ver com o que hoje chamamos de “teologia da criança”?

A verdade é que para eles a infância era uma área de atenção pastoral (que é primordial), mas não tanto um tema de interesse teológico. Quase sempre a referência às crianças era para debater a idade do seu batismo ou para determinar a capacidade da sua fé. Eram debates abstratos que serviam mais para acalmar as angústias filosóficas dos teólogos do que para solucionar as necessidades presentes e reais das crianças. Para a teologia, elas eram um tema indireto e secundário.

 

  1. Você encontra na Bíblia base para dar uma importância à infância maior do que a dada pelos teólogos da Reforma Protestante?

Se estudarmos com mais detalhes o contexto de Mateus 18.1-5 e passagens paralelas (Mc 9.33-37; Lc 9.46-48), veremos o que a criança significa para nossa atividade teológica e para nossa vida de fé. O Mestre inverte as coisas; os menores em termos legais, pequenos, insignificantes e fracos, são considerados por ele e usados como exemplos daquilo que Deus pede. A justiça, a integridade e o cumprimento da lei, que eram os parâmetros da fé judaica, são resumidos em uma só atitude: mudar e tornar-se como uma criança. Os educandos passam a ser educadores, e o ingresso no reino depende de sua acolhida!

 

 

Acesse o E-book Uma criança os guiará e leia na íntegra!

 

Nota

* Entrevista feita por Lissânder Dias, adaptada dos capítulos 3 e 13 do livro Uma Criança os Guiará (DIAS, Lissânder, FASSONI, Klênia, PEREIRA, Welinton, org. Viçosa, MG: Ultimato, 2010).

*Harold Segura é um dos mais entusiasmados teólogos evangélicos da América Latina. Militante social trabalhando há muitos anos na ONG cristã Visão Mundial, ele escreve livros, artigos e ajuda educadores na tarefa de ensino aos pequeninos. Com a mente afiada e o coração compassivo, nesta entrevista,* ele revaloriza a criança na biografia de Jesus e na história da Reforma Protestante.

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