Sonhos meus…
Por Rogério Santos Souza
Era uma vez um “menino-criança” que sonhava sonhos para outras pessoas. Uma vez ele pensou… pensou… e sonhou. Teve uma grande ideia para seu tio que era feirante e precisava melhorar seus
negócios… Se ele soubesse bastante matemática, então poderia negociar suas frutas e verduras sem prejuízos! Poderia aplicar o dinheiro e reinventar doces de frutas muito maduras e assim por diante. Então o menino-menino decidiu que estudaria bastante matemática e se tornou muito bom, para então ensinar ao seu velho tio, que alguns anos depois foi levado por Deus e com ele aquele sonho. Mais tarde, o agora menino-adolescente, viu que seu amigo pobre sonhava ser professor de história, mas não tinha o conhecimento necessário para competir à vaga. Então ele pensou… pensou… e sonhou. Teve uma grande ideia de como tornar seu amigo professor! Montou uma turma de preparação para escolas técnicas, onde ele ensinaria matemática e convidou seu amigo para dar aulas de história. E eles, sem formação, estudavam os conteúdos juntos. Não demorou, seu amigo ingressou na faculdade de Filosofia e ele continuou no ensino por bastante tempo. Percebeu, o menino-jovem, que havia tantos outros meninos e meninas que desejavam ser engenheiros, químicos, físicos, matemáticos… mas não eram bons o bastante em exatas. Então ele pensou… pensou… e sonhou. Iria ensiná-los física e torná-los construtores de pontes e prédios! Então estudou e estudou, e sonhou ingressar no curso de física para que o sonho daqueles meninos e meninas se tornasse realidade. Três anos depois, ele ingressou na Universidade e em mais sete anos concluiu seu intento. Durante todo este tempo ele ensinou… e ensinou matemática… e física… e química também. Não se sabe ao certo se engenheiros, matemáticos, físicos… surgiram daí. Agora o que inquietava o menino-homem era a quantidade de crianças e velhos de sua pequena congregação e o quanto eles ficavam à margem da vida comunitária. Então ele pensou… pensou… e sonhou. Que tal um pastor só para as crianças e velhinhos da igrejinha? Buscou amigos no Seminário Teológico, pesquisou como se dava isso, fez currículo e planejamento, apresentou tudo para seu jovem pastor. E logo lá estava ele: de joelhos, sendo consagrado ao ministério pastoral. O, agora, menino-homem conversou como uma irmã chorosa por ver que muitas crianças da cidade estavam como ovelhinhas sem pastor. Então ele pensou… pensou… e sonhou. Que tal uma igreja para aquela irmã, onde crianças e adolescentes fossem os protagonistas da história e da dinâmica daquela comunidade de fé? Então, chamou alguns amigos e pediu que sua igreja o liberasse para um trabalho missionário na periferia da cidade, com a amada irmã do ministério infantil. Rápidos oito anos depois, ele se torna o pastor da igreja mais contemporânea de sua região, sendo a maioria de seus frequentadores crianças e adolescentes que, inclusive, são responsáveis diretos por seu funcionamento. Como havia muita criança, um tanto ociosa, na igreja e nas ruas da comunidade, um capoeirista de rua, irmão bem-intencionado, mas sem nenhuma didática ou preparação pedagógica para esta arte, desejou ter um grupo de capoeira na igreja. Então o menino-pastor pensou… pensou… e sonhou. Transformaria aquele irmão bem-intencionado em um mestre de capoeira! Com seu grupo de capoeira, bem organizado, preparado, quem sabe até ganharia um prêmio… Então ele se inscreveu para a capoeira junto com outros meninos e meninas e aos poucos foi ensinar aquele irmão métodos e formas de ensino. Todos se desenvolviam mutuamente, até que um ano mais tarde o irmão bem-intencionado teve que partir. O menino-capoeirista deu continuidade ao grupo. Três anos se passaram, ele mudou de corda três vezes, o grupo evoluiu e recebeu duas premiações, tornou-se palestrante em eventos sobre a cultura negra e igreja evangélica. Foi então que um discípulo, menino negro-pobre, destacou-se, não por sua habilidade na arte da capoeira, mas por seu desempenho e determinação em aprender. Perguntou ao menino-capoeirista: “Pastor, será que eu poderia conhecer outros lugares deste mundo?” O menino-mentor pensou… pensou… e sonhou. Aquele menino negro-pobre, um dia semianalfabeto, que aprendeu a ler na comunidade, sem nenhuma coordenação motora ou senso de direção, destaque na arte da capoeira e agora aprendendo a tocar bateria, teria sim uma grande chance de se tornar um capoeirista internacional! O primeiro passo seria montar uma escola de inglês para
dezenas de meninos pobres-negros da comunidade! E lá se foi, mais uma vez, o menino-sonhador sonhar mais um sonho de outros…
Essa história foi uma das selecionadas no Prêmio Cida Mattar 2017, do Rogério, do CADI. Recebemos histórias lindas e abençoadoras. Agora, esperamos as histórias de 2019! O tema desse ano é: Coragem da alma – a virtude dos resilientes.
O Prêmio Cida Mattar é a nossa forma de dizer: “Continue firme, estamos com você nesta luta”!