Discernimento é a capacidade de compreender situações com bom senso e clareza. Uma pessoa com discernimento consegue separar o universal do passageiro, o importante do urgente, o certo do errado.

Veja a historia abaixo:

O menino não parava de puxar a barra da saia da mãe. A mãe, conhecida pelas crianças como Tia Jô, se agitava prá lá e prá cá tentando fechar a igreja depois da programação para as crianças. Ela adorava o trabalho que realizava nas tardes de sábado com a meninada da comunidade. Depois de várias tentativas, finalmente a mãe parou, abaixou-se para olhar nos olhos do seu filhinho e disse:

Tô aqui, tia!

– Fala, Davi, o que você quer?

– Cadê o Pedro? – foi a resposta simples e objetiva.

– Ele não veio, meu filho. Alguém disse que ele se machucou, mas não deve ter sido nada grave. Sábado que vem, com certeza, ele aparece.

Davi não se deu por satisfeito. Na hora que a mãe finalmente deu a última volta na fechadura da porta de entrada, o menino pegou em sua mão e a puxou em direção à casa de Pedro.

– Vamos ver o Pedro — disse com firmeza.

A mãe olhou para cima, como se estivesse pedindo inspiração divina para lidar com o pequeno. Olhou de volta para o filho e disse:

– Tudo bem, vamos lá.

Pedro não morava com a mãe, uma jovem marcada pela bebida e por decisões não muito bem pensadas. Uma das consequências destas decisões era triste: ela não tinha condições de cuidar de seu filho e por isto Pedro, com apenas 5 anos, foi obrigado a morar com a tia. Davi e sua mãe bateram na porta da casa da tia. Ninguém atendeu. O pessoal na rua informou que a tia tinha levado seu esposo para o hospital na capital. A vizinha tinha se comprometido a cuidar do Pedro durante a ausência da tia. Mãe e filho se dirigiram então à casa da vizinha. Tia Jô bateu na porta. Os dois esperaram um bom tempo.

Quando já ia bater novamente, a porta se abriu, mas apenas pela metade. Uma mulher com uma expressão fechada olhou em silêncio para Tia Jô e o pequeno Davi. Não sorriu, não abriu a porta para eles poderem entrar, não perguntou o que queriam.

Tia Jô perguntou:

– O Pedro está? Meu filho queria falar com ele.

A mulher respondeu secamente:

– Ele tá dormindo.

“Dormindo? Às seis da tarde?,” pensou Tia Jô. Percebeu que a mulher ia fechar a porta e sentiu uma vontade muito forte de chamar em voz bem alta pelo menino. Algo estava errado e ela não queria voltar para casa sem ter certeza de que Pedro estava bem. Tia Jô olhou para seu filho no mesmo instante em que ele disse:

– Chama, mãe, chama pelo Pedro!

– Pedro – ela disse bem alto, dirigindo sua voz por cima da cabeça da mulher. – Cadê você? O Davi veio te ver!

– Tô aqui, tia – respondeu o menino.

– Então vem cá para a gente te abraçar – disse tia Jô.

Do lado de trás da casa, pela porta da cozinha, saiu um menino. Por alguns instantes, nada aconteceu. O choque foi tão grande que Tia Jô sentiu que tudo a seu redor estava se movendo em câmara lenta. Recobrando-se um pouco do susto, ela correu ao encontro dele e o abraçou. O rosto de Pedro estava todo queimado. De um lado do rosto sua pele estava desprendendo, do outro lado e na testa havia duas enormes bolhas. O rosto estava muito inchado de forma que o menino quase não conseguia manter os olhos abertos.

– O que aconteceu com o menino? – perguntou Tia Jô dirigindo-se à mulher. Esta, ainda parada na fresta da porta, parecia uma estátua. Continuou muda.

– A gente ia assar castanhas de caju, eu e o o Guilherme – contou o menino – Aí, ele pegou o fósforo e eu o álcool…

– Quem é o Guilherme? – perguntou Tia Jô.

– É o filho dela – disse Pedro apontando para a dona da casa.

– Meu Senhor! Quando foi que este acidente aconteceu? – perguntou Tia Jô.

– De manhã – ele afirmou.

A mulher continuava parada, sem nenhuma ação. Tia Jô, no entanto, percebeu mais uma vez, um puxão insistente na barra de sua saia. Davi, olhando para ela com um olhar muito preocupado para uma criança tão pequena, disse:

– Vamos, mãe. Leva ele pro hospital.

E foi assim que Tia Jô, deixando o pequeno Davi em casa com o pai, se colocou na estrada para a capital, a cidade de Macapá. Foram cinco horas de viagem, uma viagem regada à oração e súplica pela vida de Pedro. No hospital, ele foi dirigido rapidamente ao setor de queimaduras. O médico que o atendeu relatou que Pedro tinha sofrido queimaduras de segundo e terceiro graus. Corria graves riscos de infecção. Todos ficaram impressionados com a coragem do menino diante de tanta dor. Tia Jô ficou com ele por três dias.

No terceiro dia, Pedro recebeu a visita de Davi e seu pai. Tinham vindo buscar a Tia Jô. Atrás deles, entrou uma visita inesperada.

– Vim buscar você pra morar comigo – disse uma moça com um olhar triste.

– Mãe! – disse o menino emocionado.

Depois de abraçar a mãe por muito tempo, Pedro se afastou um pouco, olhou bem no fundo dos olhos dela com uma expressão muito séria e disse:

– Eu volto a morar com você sim, mas você vai ter que parar de beber e pedir para Jesus ir morar junto com a gente.

A mãe com os olhos cheios de lágrimas, disse simplesmente,

– Eu aceito o teu Jesus.

Tia Jô, emocionada, demorou para perceber os puxões na barra de sua saia. Finalmente abaixou o olhar e lá estava o Davi, querendo a sua atenção. Desta vez ele disse com um certo orgulho na voz:

– Vamos embora mãe. A nossa missão aqui acabou.

 

Observação: todos os nomes nesta história foram mudados para preservar a identidade das crianças.

Observação 2: a criança que aqui chamamos de Davi, é na vida real uma criança com autismo. Deus fala através de pessoas portadoras de necessidades especiais?

Será que o pequeno Davi foi usado por Deus para infundir discernimento numa situação de perigo?

 

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  1. neuza do carmo silva

    com certeza Deus usou o pequeno davi para salvar e socorrer o pequeno pedro que estava em perigo.
    E Deus usa sim crianças com necessidades especiais.Deus usou uma mula para falar com balaao quanto mais uma crianças.

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