A benção desprezada por muitos…(parte 2)
Por James Gilbert
Na perspectiva bíblica as crianças são bênçãos de Deus. Não apenas uma bênção para o moderno núcleo familiar, mas também para a tribo, nação e até para o mundo inteiro. Isso parece contrariar muitas visões de mundo modernas. Hoje parece que as crianças são fofas, adoráveis, mas são também um fardo inconveniente e não muito prático.
Portanto, o senso comum estabelece que precisamos limitar o número de filhos. Na China isso faz parte da legislação: uma criança por casal. No Ocidente livre, a cultura parece ditar: ter um filho é prudente, dois filhos é bom, três é exagero, quatro é um pouco de loucura. (Quando digo às pessoas que tenho quatro, há um momento de avaliação silenciosa, quando me olham e tentam perceber se sou rico, negligente, um viajante do passado, ou só gosto de viver perigosamente!) Claro que mais de quatro rotula o casal como irresponsável.
Conclusão: parece que o equilíbrio entre fofo e adorável por um lado e inconveniente, inviável por outro, diz aos cidadãos conscientes para terem uma ou duas crianças.¹
Em nossa economia de desigualdades, eles podem estar certos. Ter crianças “extras” significa que você provavelmente terá de abrir mão das bênçãos do progresso tecnológico e do livre mercado: tablets, telefones celulares, carros de última geração; viagens de avião, aparelhos nas mais diversas cores, aplicativos, upgrades, etc. Para se dar o direito de ter mais filhos, o casal teria de praticar as antigas virtudes de negar a si mesmos, viver com limites e escolhas responsáveis. Claro, abrir mão dessas bênçãos modernas pode dar a entender que são amaldiçoados.
Cada vez mais Estados modernos nos “abençoam” ao fornecerem técnicas seguras para sacrificar crianças que ainda não nasceram para proteger a prosperidade e a felicidade dos cidadãos. Aqui no Brasil elas tais técnicas ainda são ilegais, mas não incomuns. Com dinheiro é possível ter acesso a essas técnicas, aos profissionais e às clínicas onde esses rituais acontecem. Assim, garante-se aos adultos seus direitos à conveniência, às escolhas sem consequências na área sexual, e à infinita busca pela prosperidade.
Em comparação à benção de Deus para os casais, a benção de “crescer e multiplicar”, vivemos num tempo sombrio em que assassinamos crianças inocentes ainda não nascidas para garantir um outro tipo de benção. Tão sombrio quanto eras passadas nas sociedades antigas em suas crianças eram sacrificadas a uma divindade em troca de proteção e prosperidade. Neste ponto, a diferença entre essas duas sociedades é mínima, a nossa é mais eficiente pois não temos nem que esperar a criança nascer.
A questão aqui não é condenar o sexo fora do casamento, gravidez não planejada, e evidentemente não é tornar culpadas as vítimas de estupro. Nem é julgar o tanto de filhos que você tem, ou dizer quantos você deveria ter. O que desejo é uma refletir num nível mais básico: como nós, como sociedade, como brasileiros e, principalmente, como cristãos, vemos as crianças?²
Podemos realmente considerá-las bênçãos de Deus?
Notas
1. A média do Brasil é de 1,9 crianças por casal.
2. A população de cachorros supera o número de crianças no Brasil, diz levantamento inédito do IBGE. Existem mais de 50 milhões de cães no país.