Por Elsie Gilbert

A maioria dos professores sabe que os profundos problemas que afligem a educação brasileira são estruturais e estão acima deles, num mundo político onde nós temos apenas o poder do voto mas nenhum poder de veto. Mesmo assim, é possível fazer algo importante e relevante que muda a vida das crianças e tem grandes implicações para a vida futura deles.

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Ela procura ajudar as crianças solitárias

Uma professora nos Estados Unidos resolver agir depois da tragédia num colégio em Columbine, CO,  EUA, acontecida em 1999. Dois adolescentes entraram na escola munidos de armas de fogo e mataram 13 pessoas, feriram 20 e depois se mataram. Desde então as escolas nos Estados Unidos vivem em estado de alerta. Este tipo de raiva incontida se alastrou pelo mundo chegando ao Brasil quando em 2011 um jovem fez o mesmo em Realengo, Rio de Janeiro, matando 12 adolescentes e depois cometendo o suicídio.

Naquele dia, em 1999, uma professora de quinta séria teve uma ideia. Ela passou a pedir a seus alunos, toda sexta-feira, que escrevessem num pedaço de papel os nomes de quatro colegas com quem elas gostariam de se sentar na próxima semana. Ela avisava que os pedidos poderiam ou não ser atendidos. Ela também pedia que eles colocassem no papel o nome de um aluno que na opinião deles tinha sido um “cidadão excepcional” nos últimos 5 dias.  Todos os papéis eram então entregues a ela de forma sigilosa.

E toda sexta-feira, depois que os alunos iam embora, ela pegava os papéis e estudava as informações ali contidas: Quem não tinha sido mencionado por ninguém? Quem não tinha conseguido nem pensar em alguém com o qual queria se sentar? Quem nunca era mencionado como “cidadão excepcional”? Quem tinha perdido amigos da semana passada para esta?

De 1999 até a sua aposentadoria recente, mais de uma década de trabalho, esta professora dedicou alguns momentos de TODAS as sextas-feiras a este exercício.  Era como se com esta estratégia simples ela pudesse tirar um Raio X do coração de cada criança. Ela conseguia perceber as crianças que precisavam de ajuda para aprender a como fazer amigos, como chamar o outro para brincar, como se inserir em um grupo, como compartilhar de si mesmos. E como esta estratégia prevenia o bullying? Ora, todos nós sabemos que os maus tratos entre crianças acontecem justamente quando os professores não estão presentes e que as crianças afetadas geralmente não conseguem delatar. Mas a verdade sempre aparecia naqueles papeizinhos.

Por que tanto esforço? Porque ela sabia que a violência tem sua raiz na amargura de alguém ao se ver excluído e incapaz de se conectar num vínculo de amor com os outros ao seu redor. Toda violência tem como raiz a solidão cósmica! E tudo no mundo tem um padrão, inclusive as relações sociais de um grupo de crianças de 10 a 11 anos em uma sala de aula. Os matemáticos procuram padrões no universo, esta professora procurava os padrões das relações de amor e ódio das crianças ao seu redor com o desejo de contribuir, a seu modo, pela paz! Admirável, cidadã excepcional!

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História publicada na revista Reader´s Digest. Você pode ler a versão original em inglês aqui.

  1. “E como esta estratégia prevenia [sic] o bullying? Ora, todos nós sabemos que os maus tratos entre crianças acontecem justamente quando os professores não estão presentes e que as crianças afetadas geralmente não conseguem delatar. Mas a verdade sempre aparecia naqueles papeizinhos. ”

    O artigo postado reflete em parte o que foi publicado no Reader’s Digest que aparece indicado no final do artigo. Fui ler, especialmente os comentários postados, em sua maioria, inteiramente favorável.

    No meu tempo tinha bullying. Especialmente quando cursava a ‘quarta’ série (nomenclatura antiga). Era terrível. E se sabiam que você era protestante, aí que a coisa pegava mesmo.

    Aqui no condomínio — classe alta — corre uma ação judicial contra os pais de dois garotos de 13 anos que seguraram e pisaram na cabeça do outro de 12 e o espancaram com um cabo de vassoura e depois colocaram ele sentado em um formigueiro. Aqui dentro do condomínio, tudo isso.

    Meu sobrinho, QI+ e 15 anos, me conta que bullying é a norma no colégio onde estuda, aqui perto, caríssimo.

    Minha cunhada é professora de português do estado e da prefeitura e ensina na periferia. Ela tem pavor de ‘gato’. Pois jogaram um vivo sobre ela! Conclusão, entre Março e Junho deste ano esteve de licença para tratamento de saúde.

    Se falar para ela que tem um cara lindo, inteligente, um verdadeiro gato, ela pira!

    É positivo o comentário que a June fez, mas tal qual o artigo, é apenas uma gotinha no oceano. A coisa é série demais para reduzir-se a soluções pontuais, é trágica para implicar em ação judicial, e bullying parece que veio para ficar.

    Uma ‘voltinha’ pela internet e basta digitar algo como ‘professor-aluno-espanca’ e você tem vontade de nunca mais ter filho. É estarrecedor!

    O que fazer?
    Não sei.
    Eu sobrevivi ao bullying e poucos de meus filhos também, exceto um deles que eu tive que tirar da escola e fazer home schooling.

    Meus netos aparentemente não sofrem bullying. Isso tem a ver também, com o lugar onde, no caso dos Estados Unidos se mora, com o tipo de pais, com a qualidade dos professores. Tudo isso se bem trabalhando, melhora, mas não resolve o problema.

    Ainda aqui no condomínio alguns pais resolveram entrar em contato com outros pais que não sabiam que seus filhos faziam bullying contra seus filhos. O computador foi a prova. Uma boa conversa e o ‘bulista’ deu uma parada.

    Outro, que eu não recomendo, coronel da polícia militar, buscava, fardado, a filha na escola e dava aquele olhar mortal para as coleguinhas dela.

    Quem é solteiro, é que tem sorte! (rs).

    • Eduardo, o artigo escrito aqui tem de refletir apenas uma parte do que foi publicado no Reader´s Digest, se não eu estaria cometendo o plágio. Sobre o problema da “gota no oçeano”, concordo plenamente com você e acho também que bullying é uma palavra nova para um problema muito antigo. Eu também sobrevivi ao bullying virando “mulher macho sim senhor”. Depois meus pscicólogos tiveram de me convercer a “largar a peixeira”. Acho que guardei, mas de vez em quando ela reaparece inesperadamente!

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