Há um lema em nossa igreja: “Acolhidos por Deus, acolhendo pessoas”. Ainda fazemos muito pouco, mas já ouvimos bons testemunhos. Temos feito o possível para tornar o ambiente mais agradável para as crianças. Às vezes sou chamado de “pivete”. Não é um apelido, mas uma forma de acolhimento carinhoso de quem me percebe igual.

Lara, 9 anos, continua me chamando carinhosamente de “patô”. Diz que gosta de cantar junto com outras crianças lá na frente da igreja, de participar das peças de teatro, e confessa: “Eu gosto mesmo quando tem comida… Até o Pedrinho meu irmão pequenininho, quando tem comida, ele pega com as duas mãozinhas e come rindo”. Na ótica da Lara, todo mundo gosta quando tem comida.

Nossas crianças testemunham gostar de receber atenção e carinho. Há outras falas interessantes. Tiago, 8 anos, me disse que “não gosta do culto dos adultos”. E ele reclama da bagunça das crianças no culto. Mateus, 11 anos, disse o quanto se sente bem com as aulas sobre a Bíblia, não sabe como poderia ser melhor, mas nos recomendou fazermos as coisas mais diferentes. Ele gosta de correr depois do culto com os amiguinhos, mas reclama que o único lugar para fazer isso é no salão de cultos, o que gera reclamações dos adultos. Levi, quando tinha 4 anos, trazia sua “guitarra” aos domingos para tocar com o grupo de louvor de nossa igreja. Uma vez reclamou de minhas ausências. Perguntou-me se eu havia mudado de igreja.

Durante a celebração da ceia, nossa comunidade vai à frente para pegar o pão e o vinho. As crianças participam desse momento com sinais de avidez e devoção. Na pequena comunidade de crianças que se reúnem em minha casa, elas comem pão e tomam suco de laranja. É a liturgia da vida com elementos pedagógicos diferentes, nos ensinando sobre amor, acolhimento, solidariedade, partilha. Afinal, a igreja em Jerusalém partia o pão de casa em casa. Eu não acredito que as crianças ficassem com fome… Honestamente entendo quando elas são excluídas das nossas burocracias religiosas. Com tanta complexidade não cabe a singeleza das crianças.

Já fiz celebrações de ceia onde as crianças serviram as pessoas. As crianças se sentem participantes do Corpo de Cristo quando têm acesso a momentos assim. Em uma ocasião na Igreja Batista de Bultrins (Olinda, PE), quando menos esperei, sem nenhuma orientação, as crianças assumiram as tarefas geralmente atribuídas exclusivamente a diáconos ou diaconisas.

Nossas crianças precisam ser mais amadas e acolhidas. Primeiro de tudo, depende de nossa atitude e compreensão sobre a importância das crianças. Jesus disse que elas são as pessoas prioritárias em seu reino. Se a igreja é uma expressão do reino de Deus, as crianças possuem a primazia neste reino. Além do ambiente acolhedor e inspirador para o bem-estar de nossas crianças, precisamos também proteger e defender as crianças vitimadas pela violência e toda forma de exploração.

Conto com meus colegas pastores e com todas as pessoas engajadas na luta em favor das crianças. Vamos oferecer a elas ambientes agradáveis, seguros e batizados de vida. Faça da sua casa ou da sua igreja um ninho de vida para as crianças que você pode alcançar.Pulpito-
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Carlos Queiroz, casado, dois filhos, é pastor da Igreja de Cristo, em Fortaleza, CE. É diretor executivo da ONG Diaconia e autor de Ser É o Bastante – felicidade à luz do Sermão do Monte (Editora Ultimato, Encontro Publicações, Visão Mundial, 2006).

 

Artigo publicado originalmente na Revista Mãos Dadas, Edição 23, em maio de 2009.

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