A qualidade de vida da criança ribeirinha é o reflexo de diversos fatores!
A qualidade de vida de uma população é o reflexo de diversos fatores, dentre os quais podem ser citados a educação de qualidade, a disponibilidade de trabalho e renda, a preservação ambiental, o acesso aos recursos sanitários (coleta de esgoto e água tratada) e a assistência em saúde. Nas comunidades ribeirinha da grande Amazônia a promoção da qualidade de vida é um desafio, já que muitos dos fatores citados acima não estão disponíveis a essas populações, como: recursos sanitários, assistência em saúde e renda. Desta forma, no que se refere à promoção da saúde, cabe aos moradores ribeirinhos as medidas de prevenção.
A comunidade de São José do Arara reflete bem esse desafio de promover saúde aos seus moradores, pois muitos não têm acesso ao trabalho, à assistência médica e as condições sanitárias são precárias. Durante a visita feita à comunidade pela Asas de Socorro em parceria com a UniEvangélica e Terre des Hommes, além de todo o trabalho de assistência odontológica, médica e outras, também foi desenvolvida uma pesquisa microbiológica e sanitária. Esta pesquisa analisou os principais indicadores de qualidade sanitária e os resultados indicaram que a água é o principal veículo das doenças entre os moradores, apesar de haver fossas sépticas na maioria das residências e poços artesianos com água de boa qualidade. As análise microbiológicas e parasitológicas encontraram um alto nível de contaminação fecal ao longo da margem do rio (lago) que banha a comunidade, muito acima do permitido pela ANVISA, tornando a água imprópria para o consumo, higienização de utensílios e roupas e também para a recreação.
Nesse sentido, as crianças da Comunidade Arara são as mais afetadas, já que se valem da água para muitas de suas atividades recreativas. Tal fato pode ser comprovado pelo alto índice de queixas de sinais de verminoses durante as consultas médicas (mais de 70%). O problema não está no consumo da água dos poços artesianos, mas no contato com a água do rio, porém a vida da comunidade gira em torno do rio. As doenças parasitárias reincidentes quando associadas à subnutrição podem, ao longo da vida do indivíduo adulto, desencadear diversos outros problemas crônicos de saúde.
O que fazer? São muitas as ações mitigadoras que poderiam ser tomadas pela comunidade, tais como:
- Canalização dos resíduos sanitários das residências que margeiam o rio (as flutuantes e demais) para uma fossa séptica ou para um biodigestor construído em terra firme. O biodigestor converte os resíduos fecais em adubo orgânico e produz o gás metano. O adubo orgânico pode ser utilizado na fertilização de plantações diversas; já o gás metano pode ser canalizado para os fogões residenciais e para o gerador de eletricidade. Desta forma, para potencializar ainda mais a produção de gás, toda a comunidade pode canalizar os seus resíduos para o biodigestor.
- Não depositar resíduos sólidos no rio. Estes servem de abrigo para vermes e bactérias.
- Caso seja inevitável o uso da água do rio para qualquer atividade doméstica (banho, lavar vasilhas e roupas, consumo etc), esta tem que passar por três processos de sanitização: Não depositar resíduos orgânicos (restos de alimentos, animais mortos, fezes de animais) próximo ao leito do rio.
- Filtração.
- Fervura.
- Cloração.
- Desenvolver um permanente trabalho de educação sanitária com os moradores da comunidade, afim de sensibilizá-los à mudança de hábitos.
- Caso as medidas sanitárias não sejam efetivadas, deve-se proibir a utilização da água do rio para consumo, recreação e outras atividades domésticas e comerciais.
Artigo enviado por Dione Inácio que é Biólogo, Planejador Ambiental e Microbiologista, professor da UniEvangélica nas áreas da saúde e meio ambiente, pesquisador em saúde pública e meio ambiente.