Por meio de uma parceria entre Rede Mãos Dadas e Asas de Socorro, Talitha, Thiago, Luciana e Tiago puderam participar de trabalho comunitário no Rio Mamuru, Baixo Amazonas. Veja o que cada um trouxe como aprendizado para a vida. Asas de Socorro realiza clínicas com atendimento médico e dentários há mais de 20 anos para comunidades ribeirinhas isoladas.  Durante as clínicas são realizadas oficinas de prevenção ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes que conta com a participação de crianças e adultos.

 

Talitha Kumi Silva

Quando viajei para o Amazonas, estava feliz por conhecer um lugar diferente, mas sem expectativas, pois não sabia nem o que iria fazer lá, foi tudo uma surpresa.

Cheguei ao avião de Manaus para Parintins senti que ali começava a minha aventura, pois nunca tinha andado em um aviãozinho tão pequenininho e que balançava tanto. Mas foi chegando em Parintins que descobri que ali teria uma experiência única, começando pelo fato que dormiria em uma rede dentro de um barco.

Ficar com as crianças durante o dia era ótimo, mas as melhores partes da viagem eram quando acabava nosso trabalho, pois ficávamos apenas brincando com as crianças, jogávamos rouba bandeira, rodávamos pião, nadávamos no rio. Era muito bom passar aquele momento com elas, pois sentíamos o carinho e felicidade delas para conosco, apenas por passarmos aquele tempo com elas.

No ultimo dia da viagem fiquei doente, só sai do barco a noite para me despedir das crianças, Fiquei realmente chateada por não aproveitar meu ultimo dia da viagem. Mas ao mesmo tempo estava feliz, ao ver que as crianças sentiram minha falta, e perguntavam o porque eu não fui vê-las durante o dia. Esses dias foram inesquecíveis, eu amei estar aqui e foi a melhor experiência da minha vida, nunca imaginei o quanto era bom me doar ao próximo.

O que mais me marcou ao ver as pessoas que moravam naquela comunidade, foi como eles viviam uma vida simples, dormindo em redes, sem luxos, mas nós víamos em seus rostos o quanto eram felizes.

Ir para o Amazonas me proporcionou conhecer uma realidade que eu nem sabia que existia, totalmente diferente até dos menos favorecidos que vemos na nossa região. O mais marcante é saber que há pessoas que se importam e usam seus dons para ajudar essas pessoas “esquecidas” pela sociedade. Esses dias em Parintins me deu a convicção do quanto esse mundo é desigual e o mínimo que devermos fazer é tentar ajudar quem mais precisa, e não deixar que essa viagem seja apenas uma lembrança mas sim uma experiência que transformou minha vida, “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito.” (Rm 12,2).

Thiago Pereira Maia

É difícil escolher um único momento marcante nessa viagem, que foi uma experiência incrível em seu todo. Mas acho que um momento que sintetiza toda a experiência aconteceu num dos últimos dias. Após trabalhar com as crianças da comunidade de Santo Antônio do Cracajá durante a manhã e a tarde, brincando, ensinando, cantando e conversando com elas, eu e outros jovens do projeto resolvemos nadar no rio próximo aos barcos onde estávamos hospedados. O rio era bem raso próximo a margem, e a área que nós escolhemos dava de frente para uma praça da cidade onde as crianças pareciam passar grande parte do tempo brincando. Muitas das crianças com quem trabalhamos mais cedo estavam nessa praça, e se aproximaram de nós. Não passou mais de cinco minutos antes do rio estar cheio de pequenas crianças nadando e brincando na água. A maior parte das crianças da comunidade sabiam nadar desde os 3 ou 4 anos, e agora já se davam melhor na água que nós do barco, bem mais velhos. Elas se juntavam em volta de nós, querendo falar, mostrar o que sabiam fazer na água, ensinar brincadeiras, e fazer muitas e muitas perguntas. Esse momento de diversão com as crianças me marcou, por me mostrar duas coisas. Primeiro, ao ver o quanto aquelas crianças se divertiam, longe de todas as coisas que nós consideramos progresso: comida industrializada, celulares, internet, até mesmo carros, eu percebi o quanto nós supervalorizamos o que temos, o quanto tudo isso não faz falta, e o quanto se pode ser feliz sem nada disso. E segundo, ao ver as crianças atrás de nós o tempo todo, buscando nossa atenção e carinho, querendo aprender conosco e nos imitando, eu percebi a importância do cuidado e do amor para essas crianças. Inicialmente eu pensara que o que fazíamos por essas crianças não significava nada, mas o jeito com que elas iam atrás de nós e queriam brincar conosco, nos abraçavam e ficavam felizes por estarmos lá me fez ver que esse amor simples e despretensioso era importante para elas. E também foi muito importante para nós ver seu inocente amor por nós. Então, acho que o que mais aprendi com toda a viagem, na missão de asas de socorro foi: “Valorize as pequenas coisas”, não os luxos, o dinheiro, a tecnologia, mas a amizade, a natureza, e as brincadeiras de criança.

 

Luciana Marina Arruda

Quando soube da possibilidade da viagem fiquei eufórica. Experiência única e de fato foi, mas não pelo motivos que eu imaginava. Há uma semana da viagem descobri como seria realmente, fiquei despontada: uma semana sem celular, computador, televisão e outras regalias. No entanto, não dava mais para desistir. Após dois dias de viagem chegou a hora de iniciar os melhores sete dias da minha vida. Nos quais as expectativas até então não eram tão boas assim.
No primeiro dia fiquei meio receosa, desconfiada. Mas assim que começou os trabalhos eu vi que as coisas que eu achei que iria sentir saudade não me fizeram a menor falta. As únicas vezes que eu lembrei delas foi pra dizer pra mim mesma o quanto eu estava equivocada. O meu dia estava preenchido de coisas boas e úteis e pessoas apaixonantes.
Na metade da semana antes de saímos da primeira comunidade, houve a despedida que por si só já foi emocionante com a homenagem que os moradores fizeram para nós. No entanto, devido a minha personalidade me mantive distante, preferi apenas observar e foi aí que me surpreendi. Veio até mim uma mulher que me deu um abraço e me agradeceu por ter estado ali,  me senti abençoada e uma imensa vontade de ficar e fazer mais.  Percebi que tudo que no começo eu acreditei que faria a viagem perfeita era surpreendentemente insignificante. Eu não estava a passeio e ainda bem que não. Agradeci e ainda agradeço a Deus pela oportunidade.
Agora de volta a rotina, não só eu, mas as demais pessoas que estiveram lá têm um grande desafio: como não perder essa vontade de fazer mais? Como transportar toda o aprendizado para a nossa realidade? Tudo o que vivemos lá não pode e não será em vão. O gesto daquela mulher me fez crer: “esse é o caminho certo”. E eu não quero desviar-me dele.

 

Tiago Sacramento

Tão marcante quanto um primeiro emprego completamente inesperado é uma viagem surpreendente a começar pelo endereço ao qual se dirige. Não imaginei que iria para o estado do Amazonas “tão cedo” e não contava com tão incríveis momentos, pessoas, experiências e uma destas especialmente marcante, e cômica, foi uma das vezes que perdi meus óculos (acredite, teve mais de uma!). Era noite, e aproveitando o tempo livre, estávamos conversando eu, Thiago, Luciana e Patrícia, que conhecemos em Parintins, e decidimos ir para o barco ao lado do nosso. Mas entre os barcos, por um esbarrão do Thiago, meus óculos caem na água e no desespero me lanço no rio. Como estávamos atracados, a água não era tão funda quanto se imagina, mas meus óculos estavam submersos da mesma forma, o que me deixava louco, então procurei, mergulhei e pedindo a Deus misericórdia até usei uma lanterna achando que ajudaria, enquanto os meninos morriam de rir da situação. Por graça divina por fim reencontrei meus óculos, mas pra mim o mais interessante não foi o acontecimento, mas como isso contribuiu pra minha comunhão com Deus, como Ele me mostrou mais uma vez que posso sempre confiar e descansar n’Ele.

  1. Gente,

    Estes relatos são muito legais!
    Muito obrigada por compartilhar.

    Enche o coração ler a experência destes jovens.
    E dá vontade de compartilhar com todo mundo como é bom viver assim, sem luxo, mas com plenitude de alma!

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