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http://www.dreamstime.com/smiling-boy-free-stock-photo-imagefree174955Walter Wangerin Jr., pastor luterano, professor na Universidade Valparaíso e escritor de algumas dezenas de livros dos quais pelo menos uma dúzia são histórias para crianças, nos conta numa pequena obra, “Little Lamb, Who Made Thee?”, sobre sua primeira crise espiritual.

“Não me lembro agora como tudo começou, mas eu era jovem suficiente para rastejar debaixo de bancos da igreja, pequeno o suficiente para ser puxado de volta pela minha mãe com uma só mão, mas com idade suficiente para desejar ver Jesus. Eu queria ver Jesus com os meus próprios olhos. Ah, mas eu era também criança o suficiente para admitir que eu nunca tinha visto realmente meu Salvador cara-a-cara. Nunca.”

Todos os domingos na igreja, o menino observava os adultos e se convencia pela forma como se comportavam que eles tinham de fato visto a Jesus. Era como se eles tivessem participado de uma festa para a qual ele não tinha sido convidado. Por que? Ele queria ver a Jesus!

“Eu queria desesperadamente ver Jesus Cristo passeando por algum corredor com uma túnica, uma corda e sandálias, comendo um sanduíche, talvez eu pudesse pegá-lo desprevenido, apenas sendo ele mesmo. Passei a gastar o tempo todo entre escola dominical e culto, na espreita em cada sala, no gabinete pastoral, (…) procurando os sinais da sua presença. Nada.

Você acha que ele se esconderia de mim? Bem, eu sabia que ele conhecia sua casa melhor do que eu. Ele saberia se esconder. Será que eu o tinha entristecido por algum pecado que eu não conseguia sequer me lembrar agora? Eu tentava com todas as minhas forças me lembrar. Mas eu não conseguia me lembrar algo que fosse tão ruim! Assim que eu achava algo, eu já estava pronto para me confessar e ser perdoado. Enquanto isto, eu tentava surpreender o Senhor na clandestinidade.”

Ele passou a olhar em todos os cantos, até debaixo dos bancos, o que lhe valeu uns bons beliscões da mãe severa. Reprimido pela mãe, seu desejo só aumentou, ao ponto de se tornar uma questão de vida ou morte. Ele conta que ainda tentou, sob pena de punição maior que um simples beliscão, ver se Jesus estava no caixote na frente do altar, em todos os cômodos da igreja até chegar no banheiro feminino… E aí esgotaram-se suas opções de busca.

“O coração de uma criança pode crescer pesado de tristeza e solidão. Por que Jesus estava me evitando? Por que ele levantava voo quando eu me aproximava? Talvez fosse o meu topete, eu não era uma criança bonita, e sabia disso. (…) Mas eu realmente queria ver Jesus.”

Esgotadas as opções, nada mais restava para esperar da vida.

“Nada mais importava. Eu estava tão desesperado quando voltei para o banco ao lado de minha mãe que nem senti medo do castigo. Ela podia fazer comigo o que quisesse, e isso não significaria absolutamente nada. Jesus não estava lá. Espelhos, mesas largas e cheiros estranhos estavam lá; mas o Rei da Criação não habitava na casa de banho das mulheres. Minha mãe podia me matar porque tudo que me importava estava acabado, eu tinha olhado o último lugar, e aquele último lugar estava vazio. Era o fim.”

Mas a mãe não o matou, apenas congelou-o com o olhar e voltou a prestar a atenção na celebração da ceia que estava em progresso. Ele viu as pessoas se dirigirem para a frente e o pastor dizer “Este é o cálice da nova aliança no meu sangue, fazei isto em memória de mim”. Ele já tinha visto o ritual outras vezes, mas desta vez o efeito foi outro.

“Minha mãe se levantou e caminhou para a frente com eles. (…) Fiquei pasmo com o que o minha mãe começou a fazer. A atitude dela era dócil! Em uma humildade estranha esta mulher forte se ajoelhou diante do pastor e inclinou sua cabeça, em seguida, como um criança, como um bebê, ela levantou o rosto e deixou que ele a alimentasse! Minha mãe podia me enfrentar, podia enfrentar os vizinhos, podia enfrentar os ursos negros nas Montanhas Rochosas e minha mãe podia certamente enfrentar o pregador. Agora, tão mansa como uma criança, ela aceitou um pedacinho de pão da mão do pregador. Em seguida, ele lhe deu um pouco de bebida, e ela tomou um gole. Minha mãe poderosa, estava tão fraca! Que poder poderia tê-la atingido assim?

No entanto, quando ela veio flutuando de volta pelo corredor para nosso banco, não havia nada de derrota em seu rosto. Havia uma suavidade, um sorriso, ela estava diferente.

E cheirava diferente também. Veio em uma nuvem de doçura peculiar, um odor rico vermelho. Quando ela se sentou e inclinou a cabeça para orar, eu enfiei meu nariz perto do seu nariz, local do qual vinha esse cheiro de urgente mistério. Ela sentiu minha proximidade e recuou.

“Mama”, eu sussurrei, “o que é isso?”

“O que é o quê?”, perguntou ela.

“Esse cheiro. O que estou cheirando? ”

“O que eu bebi”, disse ela.

Eu queria puxar o queixo para baixo e olhar em sua garganta. “Não, mas o que é isso?”–eu implorei. “O que está dentro de você?”

Ela encolheu os ombros, pegando um hinário, “É Jesus, Wally. É Jesus dentro de mim. ”

Jesus? Jesus?

Minha mãe começou a cantar o hino. Olhei para ela. Seu perfil, seu nariz estreito, sua testa, tudo perfeitamente impregnado com um cheiro de sangrenta. Então é aí que Jesus tinha estado o tempo todo, na minha Mama!

Quem diria que era este o quarto na casa do Senhor no qual ele tinha escolhido para morar? Na minha mãe, mulher forte e humilde, com certeza era uma mulher muito misteriosa!

Bem, eu achei um jeito de chegar bem pertinho dela. Colado do lado dela, tomei o seu braço e o passei em volta de mim para eu ficar o mais perto destes a quem eu amava, e nós cantamos, e eu sorri brilhando como um raio de sol.”

E eu sei que em seguida nós cantamos um heróico Nunc Dimittis: ‘E os meus olhos viram a tua salvação…’

…no sangue, num cheiro vermelho delicioso, no coração da minha mãe.

Amém!”

No Brasil, três obras de Walter Wangerin Jr já foram traduzidas: O Livro de Jesus e O Livro de Paulo e O Livro de Deus. Estes títulos foram publicados pela Editora Mundo Cristão. O livro “Little Lamb, Who Made Thee?” no entanto só está disponível em inglês aqui.

Esta história foi traduzida por Talitha Kumi Silva e adaptada por Elsie B. C. Gilbert.

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