Quatro meses depois, ainda podemos relembrar como foi o Congresso Lausanne 4

 

Por Lissânder Dias

 

Pelos corredores do gigantesco Songdo Convencia – o Centro de Convenções de Incheon, na Coreia do Sul, onde ocorreu o Congresso Lausanne 4 – circulava gente de todo lugar do mundo. Mulheres e homens; asiáticos, africanos, latinos, europeus… Uma oportunidade única para ouvir as vozes e ver as faces da Igreja Global.

O Quarto Congresso Lausanne de Evangelização Mundial aconteceu de 22 a 28 de setembro deste ano e reuniu mais de 5.200 pessoas de 200 países e território, sob o tema “Que a igreja anuncie e demonstre Cristo, unida”. Organizado pelo Movimento Lausanne, o incrível evento celebrou 50 anos do primeiro congresso realizado em 1974 em Lausanne, na Suíça. Na época, Billy Graham e John Stott foram os principais líderes da iniciativa. Meio século depois, o Movimento se consolidou como uma plataforma global de missões que reúne igrejas evangélicas, agências missionárias e iniciativas cristãs com foco na evangelização mundial.

 

Protagonismo da Igreja num mundo fragmentado

Parte da comitiva de brasileiros presentes em Lausanne 4.

Eu estava entre os mais de 150 brasileiros convidados e pude ver e sentir a protagonismo da Igreja de Cristo. Um protagonismo que se revelou em histórias simples, como a de um pastor paquistanês que foi preso três vezes por evangelizar; ou mesmo iniciativas abrangentes como das igrejas sul-coreanas em favor da reconciliação com a Coreia do Norte. Também conheci muitas ideias interessantes sobre como evangelizar povos orais e como acolher, em nome de Cristo, grupos de refugiados. Foi possível perceber a preocupação intensa de cristãos em favor da proteção de crianças em risco, de empresários ávidos por imprimir propósitos eternos aos seus negócios e de teólogos dispostos a preparar ferramentas e materiais de estudo bíblico.

Entre os temas abordados nas plenárias, eu destacaria a transversalidade do poder do Espírito Santo, provocando arrependimento e reconciliação – dois elementos essenciais para uma igreja que vive num mundo fragmentado e que também é, muitas vezes, causa desta fragmentação.

Um dos momentos mais emocionantes de Lausanne 4 foi quando a Igreja Sul-coreana contou sua própria história – marcada por sofrimento, fracassos, mas também restaurações. Ela foi corajosa o suficiente para admitir seus erros e para buscar o perdão. Misturando tecnologia e uma narrativa inspirativa, a Igreja Coreana deu seu poderoso testemunho para todos nós. Ainda sob o efeito deste impacto, nos perguntamos como a Igreja Brasileira pode aprender com a Coreia do Sul sobre amadurecimento, ação e compromisso.

 

Um admirável novo mundo

O artista Patrick Bezalel pintando, em tempo real, com ferramentas tecnológicas.

Bem diante de nossos olhos, pudemos ver a tecnologia em favor da obra de Deus. Um artista “pintava” em tempo real com Realidade Aumentada uma árvore frondosa e frutífera – metáfora cheia de esperança. Utilizando suas mãos em um tipo de controle remoto, os traços do artista apareciam em instantes no imenso telão do palco. Lausanne inovou ainda ao incluir mais de 2 mil pessoas em uma versão virtual do Congresso. Elas não estavam lá presencialmente, mas viveram experiências imersivas em um ambiente totalmente construído artificialmente.

Esses são apenas alguns exemplos de uma realidade que já questiona a igreja sobre o que ela vai fazer e como vai reagir ao mundo virtual. Em Lausanne, a reflexão gira em torno de desafios e oportunidades. Há um grande desafio de compreender o que está em jogo e quais as tentações que a igreja vai enfrentar ao envolver-se no universo virtual. Mas também há oportunidades (e muitas!) de como anunciar as Boas Novas para quem prefere estar nas redes sociais que num templo físico. Como afirma a Declaração de Seul (o documento teológico de Lausanne 4), os cristãos são chamados a ser administradores fiéis da tecnologia:

“Convocamos os cristãos e as igrejas a explorar as tecnologias digitais e adaptá-las à adoração a Deus, à superação de desigualdades, à formação de uma cultura que honra a Cristo e ao trabalho do discipulado cristão”.

 

A urgência da missão

O Congresso Lausanne 4 renovou o senso de urgência da missão da igreja até o ano de 2050. Uma urgência que se justifica tanto pelo número ainda imenso de povos não alcançados (3.340) quanto pelos grandes problemas que o mundo passa (guerras, migrações, corrupção…) e tendências complexas sistematizadas no que Lausanne chamou de 25 lacunas da Grande Comissão:

(1) O envelhecimento da população global (2) A nova classe média (3) A próxima geração (4) Islã (5) Secularismo (6) Povos menos alcançados (7) As Escrituras na era digital (8) Formatos da igreja na era digital (9) Discipulado na era digital (10) Evangelismo na era digital (11) IA e transumanismo (12) Sexualidade e gênero (13) Saúde integral (14) Missões policêntricas (15) Mobilização de recursos policêntrica (16) Integridade e anticorrupção (17) Integração entre espiritualidade e missão (18) Desenvolvimento de líderes com caráter (19) Movimentação dos povos (20) Comunidades urbanas (21) Comunidades digitais (22) Etnicidade (23) Cristianismo, políticas radicais e liberdade religiosa (24) Cuidados com a criação e os vulneráveis (25) Confiança da sociedade e influência do cristianismo na sociedade.

Todos os participantes de Lausanne 4 contribuíram durante o evento com ideias práticas para preencher as 25 lacunas. Cada um escolheu um dos 7 grupos temáticos e então, em mesas, reuniram-se para traçar planos e compartilhar ideias.

Documento assinado pelos participantes.

O último dia do Congresso foi marcado pela renovação de compromisso com Deus e com sua missão. Todos tivemos a oportunidade de assinar um documento de uma página em que assumimos o dever de colaborar com a Igreja Global no cumprimento da Grande Comissão. Este espírito de cooperação foi claramente ilustrado pelo fato de que estávamos ao longo do evento reunidos em mesas de 5 a 8 pessoas lideradas por um facilitador. Eu tive a oportunidade de ser facilitador de um grupo incrível que compartilhou suas histórias e me encorajou a pensar como o Evangelho faz diferença em diferentes contextos do mundo.

Diante de tudo o que ouvimos, vemos e vivemos, permanecem as lembranças de sincera comunhão e o senso de propósito diante de uma Missão que vai além de nossas próprias vidas.

 

 

 

Nota: Texto publicado originalmente no jornal O Estandarte, edição 12/2024. Faça download do periódico na íntegra aqui.

Sobre o autor: Lissânder Dias é jornalista, editor de livros e autor de “O Cotidiano Extraordinário – a vida em pequenas crônicas” (W4 e Ultimato). Ele faz parte da equipe de comunicação de Lausanne Brasil.

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O Movimento de Lausanne

O Movimento de Lausanne conecta influenciadores e ideias para a missão global, com a visão do evangelho para cada pessoa, igrejas, fazedores de discípulos para cada povo e local, líderes como Cristo para cada igreja e setor, e o impacto do reino em cada esfera da sociedade.

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