Evento aconteceu em Montevideo, no Uruguai

 

Por Gabriel Neres

Como parte da jornada de preparação do Encontro de Lausanne que ocorrerá em Seul, Coreia do Sul, em 2024, o Movimento Lausanne está realizando consultas regionais e nas redes temáticas (gerações, justiça, saúde…). Segundo os organizadores, “os encontros regionais ao longo de 2023 terão como objetivo aprofundar o processo de escuta em cada região, identificar os principais pontos de ação missionária, promover e praticar uma colaboração frutífera, reunir dados precisos para informar o Relatório de Status da Grande Comissão e orientar o planejamento estratégico para 2050”. Uma desses encontros foi realizado de 19 a 22 de setembro em Montevideo, Uruguai, e reuniu cerca de 150 missionários, pastores, profissionais liberais e membros e líderes de organizações missionais da região; entre eles, 22 brasileiros participaram.

Primeiro dia: olhando pelo retrovisor

No primeiro dia (19) os participantes foram desafiados a olhar no retrovisor para continuar progredindo rumo a Grande Comissão. O jamaicano Las Newman abriu o encontro com uma breve fala sobre as raízes históricas do Movimento de Lausanne. Newman afirmou que em 1974 Billy Graham e John Stott coordenaram o encontro com o propósito de resgatar a centralidade da palavra, despertar os cristãos para a ação e reflexão acerca da grande comissão e, por fim, relembrar a importância da unidade no processo de proclamação. O processo foi sintetizado na sentença: “Todo evangelho. Para toda a igreja. Para todo mundo”.

Em seguida, o teólogo brasileiro Valdir Steuernagel fez uma poderosa exposição sobre a importância das raízes do Lausanne 1 para a continuação do que ele chamou de “espírito de Lausanne”. Segundo Steuernagel, “Lausanne I é para os evangelicais o que o Concílio Vaticano II foi para os católicos”. Steuernagel encorajou os participantes da consulta discernirem o tempo, seus problemas, necessidades e oportunidades para a
Grande Comissão, encerrando a sua fala com um desafio dilacerante: “Sofrimento faz parte da missão da igreja. Não há missão sem sacrifício. Missão sem sofrimento compromete o conteúdo do evangelho e descaracteriza quem Jesus é. Missão sem sacrifico é um narcisismo que Jesus nunca conheceu”.

Segundo dia: a Igreja não é enviada para conquistar

Na manhã e na noite do dia 20 Norberto Saracco, em conexão com o desafio feito no dia anterior, conduziu as sessões dedicadas à revisitação do documento central do movimento, a saber, o Pacto de Lausanne. Já a tarde do dia 20 foi destinada às interações entre os grupos. Daniel Bianchi, coordenador regional de Lausanne, apresentou as seguintes questões fundamentais da consulta que estão sendo discutidas em todas as regiões do mundo e encorajou a reflexão:

  1. Quais são as lacunas mais significativas (o que falta) para o cumprimento da Grande Comissão?
  2. Que avanços ou inovações promissoras poderiam acelerar o cumprimento da Grande Comissão?
  3. Quais as áreas mais críticas que prejudicam uma maior colaboração no processo de cumprimento da Grande Comissão?
  4. Onde são necessárias mais pesquisas?
  5. Quem mais devemos ouvir como parte desse processo?
  6. O que a igreja na América Latina tem a dizer à igreja global?

Tais perguntas foram apresentadas como a espinha dorsal do Encontro e alvo de discussões e reflexões no decorrer dos dias. Na noite do dia 20, Norberto Saracco, em tom profundamente pastoral, fez um convite à necessidade de focar naquilo que compete à Igreja de Cristo na terra, em seus termos:

“A Igreja precisa ser serva e deve renunciar a linguagem que não lhe cabe. A Igreja não é enviada para conquistar, ela é chamada para proclamar e amar. Pessoas não devem ser alvo da nossa conquista, mas sim alvo do nosso amor”.

Terceiro dia: integralidade humana

Na manhã e tarde do dia 21 de setembro, os participantes se debruçaram sobre o Manifesto de Manila, documento produzir após o Lausanne II realizado de 1989. Jim Memory, diretor do Lausanne Europa, conduziu a sessão demonstrando os ganhos históricos do Manifesto de Manila e como ele responde a alguns desafios do presente.  Jim fez ainda uma segunda exposição falando sobre a conexão entre o movimento missionário na Europa e na América Latina. Uma frase marcou os participantes: “A Europa não é pós-cristã; a Europa é pré-avivamento!”.

Para finalizar, a psicóloga e teóloga brasileira, Karen Bomilcar, fez uma sensível, brilhante e encorajadora exposição sobre a necessidade de considerar a saúde e a integralidade humana para o desenvolvimento da Grande Comissão.

Quarto dia: nos trilhos

Brasileiros que participaram do evento.

No último dia (22) do encontro os participantes foram desafiados a refletir sobre Lausanne 4 na perspectiva da continuidade. Valdir Steuernagel ilustrou o Encontro Regional da América Latina como o ato de colocar o quarto vagão (Lausanne 4) sob os trilhos, conectando-o aos três que já estavam em movimento. Revisitar a documentação histórica estimulou os participantes a pensarem em si como agentes históricos de um movimento que os precedeu e os sucederá, pois trata-se de uma ação global em prol da proclamação do Reino de Deus.

Pela manhã, Valdir fez uma exposição história sobre o documento “O Compromisso da Cidade do Cabo”, forjado no Encontro Lausanne 3, realizado em 2010 na África do Sul. Steuernagel lembra que para alguns participantes do encontro, o Movimento Lausanne seria sepultado devido às divergências e tensões e a extinção do movimento seria a única conclusão possível. Na Cidade do Cabo, Lausanne não apenas ganhou sobrevida, como saiu fortalecido. Steuernagel concluiu afirmando que a tensão é inerente a movimentos globais como Lausanne. “A tensão é necessária, pois indica movimento, desejo de refino, aprimoramento e avanço em meio a tantas línguas, povos e culturas”.

Encerramento

O Encontro Regional foi encerrado com a plenária de Jim Memory. Memory desafiou os participantes a não perderem de vista um dos marcantes traços identitários de Lausanne, a saber, seu caráter analítico e estratégico. Nos encontros anteriores de Lausanne (1, 2 e 3) os participantes se debruçaram sobre as questões prementes de seu tempo e, simultaneamente, projetaram a igreja e os desafios do mundo para o futuro.

Memory trouxe essa inquietação aos participantes. Ele formulou a pergunta: “que mundo vem por aí?” e afirmou que ela é fundamental para pensar em estratégias globais voltadas para a evangelização. Memory fez uma exposição histórica dos contextos dos encontros anteriores e constatações do tempo presente que precisam ser atentamente observadas pela Igreja de Cristo. Segundo Memory, as redes temáticas do Movimento Lausanne podem ser tomadas como ferramentas de auxílio à igreja quanto aos problemas do mundo e a projeção do mundo que virá.

 

  • Gabriel Neres é casado com Suzy e pai do Benjamin e do Vincent. Fez bacharelado e licenciatura em história pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mestrado em filosofia pela mesma instituição e cursou Master of Arts in Biblical Leadership no Seminário Teológico Servo de Cristo. Atua como professor de história e coordenador nacional de Projeto de Vida no Colégio Presbiteriano Mackenzie. É pastor do ministério de adolescentes da Igreja Batista do Morumbi.

Legenda da foto principal: Participantes do Encontro Regional de Lausanne para a América Latina, em Montevideo, Uruguai.


VEJA MAIS

Assista AQUI ao vídeo com um resumo (em imagens) do evento.

 

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