A unidade da Igreja e o cumprimento da Grande Comissão

 

Por Daniel Palombo

Acabo de vir* de uma jornada junto com outros 22 líderes brasileiros do Encontro Regional de Lausanne para a América Latina, que reuniu mais de 150 líderes dos 20 países da América Latina.

Vale ressaltar, como bem lembrou Valdir Steuernagel, “que não estamos reinventando a roda”, que já são 50 anos de história desse movimento, desse sopro do espírito que começou em 1974 e continua até hoje. Homens como Billy Graham, John Stott, Francis Schaeffer, René Padilla, entre outros, que assumiram a responsabilidade dizendo um “amém” a Deus e um “sim” ao seu chamado, entendendo o seu papel histórico e profético a sua geração.

Mas como uma característica fundamental dos encontros de Lausanne sempre foi ser um espaço de unidade da igreja global de Cristo, plural onde tensões são bem vindas e onde se há mais perguntas do que respostas, mais oração e discernimentos do que pragmatismo e planejamento estratégico, mais reflexões filosóficas e estudo da Bíblia, que é a palavra de Deus, do que “quatro passos”, e pesquisas sociológicas, abraços, choro, reconciliação e encontros com irmãos ainda desconhecidos do que telefones, networking e formação de equipe.

Valdir Steuernagel

Me sinto acolhido para trazer algumas perguntas e vírgulas de reflexão, pois não pretendo aqui fechá-las e, sim, te convidar para um café em torno da mesa, para que juntos possamos partilhar mais das angústias ministeriais e possamos orar e continuar seguindo o Cristo Ressurreto.

A grande comissão é um “QUE” a ser concluído ou um “QUEM” sendo formado?

Uma tarefa a ser concluída ou uma pessoa sendo formada?

Após uma semana de encontro com meus irmãos e líderes da América Latina, em volta de mesas, respondendo a um pacote de perguntas já prontas previamente feitas por norte-americanos, ficou evidente que após dois mil anos de história da igreja, estamos tratando a Grande Comissão como um “QUE” a ser concluído. Perguntas como “o que falta para podemos concluir?”, “quais avanços tecnológicos podem acelerar o comprimento da missão?” entre outras, revelam o pragmatismo acerca de um chamado de Jesus de formar discípulos e revelar seu reino e suas virtudes na terra, a uma tarefa a ser concluída para que possamos ir embora deste mundo, sem nenhum envolvimento histórico de sinalização e manifestação do Reino de Deus na terra.

Se tratarmos a Grande Comissão como um “QUE” a ser concluído, vamos pautar nossas conversas e diálogos com pragmatismo, estratégias metodológicas, passos, formação de equipe, reuniões invés de encontros e tudo isso resultará em relatórios e uma missão de colonialismo. Quero lembrar a reflexão do Norberto Saracco que a missão não é sobre conquista, poder político ou religioso. Conquista é coisa de império. A igreja não precisa de conquistadores, precisa de amantes, pessoas que amam e sofrem com e como o Cristo. Missão se faz com amor, o Reino é de amor.

Um “QUEM” sendo formado considera pessoas, ritos como pedagogia, corpo que se tem emoções, virtudes sendo materializadas, nome próprio e estação. Quero trazer à memória a Reflexão da Karen Bomilcar sobre saúde integral, que nos lembra que missão que se faz a partir de um QUEM se tem movimento – interromper, descansar, abraçar, celebrar, sendo assim também um dos “COMO” experimentar a multiforme graça de Deus.

Se desconsiderarmos isso, estamos colaborando para uma missão sem o Cristo encarnado, humano, com culturas e povos, gerando uma geração com líderes doentes, servos, mas não amigos; “coach” com “burnout”, e não pastores de comunidades espirituais.

Apresentaremos um evangelho à nova geração de jovens com uma vida que não tem sentido, direção e propósito, que faz de tudo para não sofrer. Nada parecido com a vida em abundância oferecida por Jesus de Nazaré, mas que não foge do caminho de sofrimento por amor ao Senhor.

Mas teve uma pergunta na lista entregue a nós com um asterisco (*) que dizia: “esta pergunta não faz parte das perguntas originais. Nós, latino-americanos, incluímos e queremos saber – O que a Igreja da América Latina tem a dizer à Igreja Global”?

Se a Grande Comissão continuar sendo vista como um “QUE” a ser concluído, vamos continuar fazendo missão de baixo para cima, colonial, com impessoalidade, com planejamento de conquista e sem escuta. A missão que vê um “QUEM” sendo formado, considera o chão do povo para se fazer teologia, tem ouvidos que escutam, contexto cultural, mãos que abraçam e um corpo sendo formado e educado pela graça, e não sendo capacitado com ferramentas metodológicas; tem sofrimentos e estações, alegrias e virtudes.

A parte do Corpo de Cristo que se encontra na América Latina, mais uma vez, convida as outras partes do corpo de Cristo ao redor do mundo a trazerem à memória que a missão da Igreja é de reconciliação e não de salvação, e pode ser feita com integralidade ao redor da mesa, partindo o pão, para que nossos olhos sejam iluminados com o Jesus, o Cristo Ressurreto, e possamos, assim como Ele, enxergar nossos irmãos e partilhar o pão.

 

  • Daniel Palombo é teólogo, pedagogo, conselheiro do movimento mesa preparada e produtor criativo da RTM Brasil.


* Nota:
esse texto foi escrito logo após evento em setembro.

 

VEJA MAIS

Assista AQUI ao vídeo com um resumo (em imagens) do evento.

 

>> Siga-nos no Instagram: @lausanne_brasil

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *