Por que se envolver?
Por que os cristãos devem se envolver? No fim, existem apenas duas atitudes possíveis que os cristãos podem adotar em relação ao mundo. Uma é a fuga e a outra é o envolvimento (você poderia dizer que existe uma terceira opção, ou seja, a acomodação. Mas, nesse caso, os cristãos se tornam indistinguíveis do mundo e por causa disso não são mais capazes de desenvolver uma atitude distinta para com ele. Eles simplesmente se tornam parte dele).
“Acomodação” significa virar as costas para o mundo, em rejeição, lavando as mãos (apesar de descobrirmos com Pôncio Pilatos que a responsabilidade não sai com a lavagem) e cobrindo o coração com aço contra seus gritos agonizantes de pedido de ajuda. Em contrapartida, “envolvimento” significa voltar a face para o mundo, em compaixão, sujando nossas mãos, machucando-as e usando-as em serviço deste, e sentindo no mais profundo de nosso íntimo o agir do amor de Deus, que não pode ser contido.
Muitos de nós evangélicos já fomos ou ainda somos acomodados irresponsáveis. A comunhão mútua na igreja é muito mais cômoda do que o serviço em um ambiente indiferente e hostil lá fora. É claro que fazemos incursões evangelísticas casuais no território inimigo (essa é a nossa especialidade evangélica), mas depois nos retraímos novamente, do outro lado do fosso, em nosso castelo cristão – a segurança da nossa própria comunhão evangélica –, puxamos nossa ponte levadiça e até tampamos os ouvidos para os clamores daqueles que batem no portão.
Quanto à atividade social, temos tendência a dizer que é basicamente uma perda de tempo, em virtude da volta iminente do Senhor. Afinal de contas, quando a casa está pegando fogo, o que vale pendurar cortinas novas ou mudar a posição dos móveis? A única coisa que vale a pena é resgatar os que perecem. Assim nós temos tentado salvar nossa consciência, com uma teologia espúria.
Trecho extraído do livro Os Cristãos e os Desafios Contemporâneos. Ultimato, 2014.
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