A igreja deve ver Cristo
Ninguém é capaz de ler o livro de Apocalipse sem ganhar uma visão mais clara de Cristo
Uma igreja encurralada, lutando pela sobrevivência, precisa mais do que exortação moral e súplica religiosa: ela deve ver Cristo. Uma história do mundo escrita em código (que alguns acreditam ser o caso do livro de Apocalipse) é um conforto frio em comparação com uma visão do Cristo exaltado. Todo o livro diz respeito a ele. Ninguém é capaz de lê-lo sem ganhar uma visão mais clara de Cristo.
O primeiro capítulo deixa esse fato particularmente claro. Ao ser apresentado, Jesus Cristo recebe uma lista notável de três títulos, aos quais é adicionada uma declaração de suas realizações passadas e de seu triunfo futuro (v. 5-7). Primeiro, ele é a testemunha fiel. A igreja é chamada a dar testemunho no mundo? Que ela siga o exemplo de seu Senhor. Ele disse que havia vindo ao mundo para dar testemunho da verdade (Jo 18.37), e, durante todo o seu ministério, ele foi fiel. Falou do que sabia e deu testemunho do que havia visto, e “diante de Pôncio Pilatos fez a boa confissão” (1Tm 6.13; veja Jo 3.11). Ele nunca vacilou, mesmo quando sofreu. Também devemos ser fiéis em nosso testemunho.
Em seguida, ele é chamado de primogênito dentre os mortos. Outros foram trazidos de volta a esta vida, mas ele foi o primeiro a ser ressuscitado para uma vida nova e indestrutível. Outros voltaram à vida e acabaram por morrer novamente. Ele ressuscitou e está vivo para todo o sempre. Ele agora é Aquele que Vive (v. 18); a morte não tem mais domínio sobre ele. Uma igreja perseguida que se vê diante da possibilidade de martírio precisa urgentemente dessa certeza.
Terceiro, ele é nomeado soberano dos reis da terra (v. 5). Os reis terrenos podem tentar subjugar a igreja, mas Jesus Cristo é o Rei dos reis. Os senhores humanos podem tentar dominar a vida dos cristãos, mas Cristo é o Senhor dos senhores. Ele dirige os assuntos e destinos das nações. Ele rege os reis na terra. Seu império é mais amplo do que o domínio de Roma. Seu domínio é universal.
A esses três títulos João adiciona, em uma doxologia eloquente, uma descrição das realizações de nosso Senhor, no passado e no futuro. Ele não apenas nos ama; não apenas nos libertou dos nossos pecados por meio do seu sangue (v. 5), mas nos constituiu reino (v. 6). Assim como Deus fez uma aliança com os israelitas no monte Sinai e fez deles seu povo, seu reino sobre quem governou, Cristo, por meio de sua morte, ratificou uma nova aliança e inaugurou um novo reino. A igreja cristã é a nova teocracia. Cristo reina sobre nós. Somos seu reino. Além disso, como no antigo Israel e no novo, os membros do reino de Deus são sacerdotes, desfrutando do acesso íntimo a ele e oferecendo-lhe o sacrifício espiritual de nossa adoração.
Aquele que nos redimiu e nos constituiu reino e sacerdotes, um dia, vem com as nuvens, e “todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram”; e todos os povos da terra “se lamentarão por causa dele” (v. 7). Os olhos que agora o veem com desprezo irão vê-lo com terror. Ele virá para julgar. Ele corrigirá os erros e restaurará o equilíbrio deste mundo presente. Que os cristãos levantem a cabeça! O dia de sua redenção está próximo.
Essa é a revelação inicial de Jesus Cristo em seus títulos e suas ações. É uma amostra das revelações mais ricas que se seguem.
Artigo publicado no livro O Que Cristo Pensa da Igreja, John Stott.
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