É o tempo do metrô ou do intervalo entre uma atividade e outra. Leia “Ouça o Espírito, Ouça o Mundo” em apenas 5 minutos

 

BlogUlt_01_07_16_Selo_JSÉ bom ouvir John Stott. Seu raciocínio, seu equilíbrio e sua fidelidade às Escrituras foram (enquanto vivo) e ainda são (por meio de seus livros) preciosos para os cristãos, e até um remédio para a igreja dos nossos dias. Mas nem sempre temos tempo suficiente para ler o que Stott escreveu. Por isso, queremos oferecer uma leitura rápida e panorâmica de alguns dos seus livros.

Ouça o Espírito, Ouça o Mundo é o primeiro da série “Leia Stott em 5 minutos”. Pedimos ao leitor Natan de Castro para fazer uma seleção dos principais trechos do referido livro que permita outros leitores a terem uma visão geral e consistente do que Stott escreveu em cinco minutos. É o tempo do metrô ou do intervalo entre uma atividade e outra. Confira.

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oucaoespiritoOuça o Espírito, Ouça o Mundo

Nós somos chamados a ouvir em dobro, ou seja, ouvir tanto a Palavra quando o mundo. […] Não estou dizendo que deveríamos ouvir a Deus e aos nossos companheiros humanos da mesma forma ou com o mesmo nível de deferência. Nós ouvimos a Palavra com humilde reverência, ansiosos por entendê-la e decididos a acreditar no que viermos a compreender. Nós ouvimos o mundo com atenção crítica, igualmente ansiosos por compreendê-lo, e decididos não necessariamente a crer nele e a obedecer-lhe, mas a simpatizar com ele e buscar graça para descobrir que relação existe entre ele e o Evangelho.
(p 29-30)

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Ouvir duas vezes […] é a faculdade de ouvir duas vozes ao mesmo tempo, a voz de Deus através das Escrituras e as vozes de homens e mulheres ao nosso redor. Frequentemente essas vozes contradizem uma à outra, mas nosso propósito ao ouvir tanto uma como a outra é descobrir que elas se inter-relacionam. Ouvir duas vezes é indispensável para o discipulado cristão e para a missão cristã. Somente através da disciplina de ouvir duas vezes é que é possível tornar-se um ‘cristão contemporâneo.
(p 31)

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Eis aqui, pois, o paradoxo da nossa contradição humana: nossa dignidade e nossa depravação. Nós somos igualmente capazes do mais sublime gesto de nobreza e da mais vil crueldade. Num momento podemos comportamos como Deus, a cuja imagem somos criados, para logo depois agirmos como animais, dos quais deveríamos diferir completamente. Foram os seres humanos que inventaram os hospitais para cuidar dos doentes, universidades onde se cultiva a sabedoria, assembleias e congressos para o governo justo dos povos, e igrejas onde adorar a Deus. Mas foram eles também que inventaram as câmaras de torturas, os campos de concentração e os arsenais nucleares. Estranho e incrível paradoxo! Nobre e ignóbil, racional e irracional, moral e imoral, divino e animal! Como diz C. S. Lewis através de Aslam, o homem ‘descendente de Adão e Eva é honra suficientemente grande para que o mendigo mais miserável possa andar de cabeça erguida, e vergonha suficientemente grande para fazer vergar os ombros do maior imperador da Terra.’
(p 46)

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O Evangelho dos apóstolos concilia o passado com o presente, o ‘outrora’ com o agora, o evento histórico com a experiência contemporânea. Ele declara que não somente Jesus salva, mas também que, para fazê-lo, ele morreu pelos nossos pecados e ressuscitou da morte. Se se proclamar o poder salvador, omitindo os eventos salvíficos, especialmente a cruz, então o que se pregou não foi o evangelho.
(p 63)

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Um dos ingredientes mais importantes – e mais negligenciados – do discipulado cristão é o cultivo de um ouvido atento. Quem ouve mal não é um bom discípulo. O apóstolo Tiago deixou isto muito claro. Nós conhecemos muito bem o texto que ele escreveu a respeito da língua, ‘mal incontido, carregado de veneno mortífero’. Quanto ao ouvido, porém, ele não tem nenhuma crítica parecida. Ele nos exorta a não falarmos demais, mas parece insinuar que ouvir nunca é demais.
(p 113)

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Nós fazemos um grande desserviço à causa cristã sempre que nos referimos ao pastorado como ‘o ministério’. Ao usarmos o artigo definido, damos a impressão que de que o pastorado é o único ministério que existe, tal como os clérigos medievais, que consideravam o sacerdócio como a única (ou pelo menos, o mais ‘espiritual’) vocação que existe. Eu abandonei esta visão e, portanto, esta linguagem, há cerca de vinte e cinco anos, e agora convido os meus leitores, caso necessário, a juntarem-se a mim nesta penitência. Hoje, sempre que alguém diz em minha presença ‘Fulano de Tal vai seguir o ministério’ eu sempre pergunto com a maior inocência: ‘É mesmo? A qual ministério você está se referindo?’ E quando o meu interlocutor replica: ‘o ministério pastoral’, eu reclamo gentilmente: ‘então, por que você não disse logo?!’ O fato é que a palavra ‘ministério’ é um termo genérico; enquanto não lhe acrescentarmos um adjetivo, ela não terá especificidade.
(p 157)

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Uma das maiores necessidades da igreja contemporânea é que se exponha a Bíblia conscientemente no púlpito. Existe por toda parte, uma grande ignorância, até mesmo quanto aos rudimentos da fé. Muitos cristãos são instáveis e imaturos. E a principal razão para este triste estado de coisas é a escassez de pregadores bíblicos equilibrados, radicais e responsáveis. O púlpito não é lugar de discutir as nossas próprias opiniões, mas sim, de expor a Palavra de Deus.
(p 189)

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As pessoas não conseguem entender como é que os cristãos – aparentemente tão inteligentes, em pleno final do século XX – podem ser tão obtusos a ponto de acreditar na inspiração e na autoridade da Bíblia. Acham insustentável um compromisso com a verdade e a fidelidade da Escritura. Assim, aqueles dentre nós que insistem em permanecer fiéis à Escritura eles acusam de falta de integridade intelectual. Dizem que somos obtusos, esquizofrênicos, suicidas intelectuais e vítimas de outras patologias igualmente repugnantes. Diante dessas acusações, porém, nós nos declaramos inocentes, insistindo no fato de que a nossa convicção acerca das Escrituras nasce da própria integridade que os nossos críticos dizem nos faltar.
(p 195)

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Nós nos aproximamos da Bíblia com a nossa agenda formulada unilateralmente, nossas expectativas pré-estabelecidas, com a cabeça feita, descrevendo de antemão o que queremos que Deus nos diga. E então, ao invés de ouvirmos o trovejar de sua voz, tudo o que recebemos são os ecos suaves do nosso próprio preconceito cultural. E Deus nos diz, tal como disse aos seus servos através de Isaías: ‘Surdos, ouvi, e vós, cegos, olhai, para que possais ver. Quem é cego como o meu servo, ou surdo como o meu mensageiro, a quem envio?’.
(p 210-211)

Não são apenas os leitores da Bíblia que são produtos de uma determinada cultura; os autores bíblicos também o eram. E Deus levou isso em consideração quando quis comunicar-se com o seu povo. […] Está certo que os contextos culturais em que a Bíblia foi escrita são geralmente estranhos a nós. Mas nós não deveríamos nos ressentir disso, alegando que nos causa problemas. Pelo contrário, deveríamos nos regozijar na condescendência de Deus, que desceu ao nosso nível a fim de revelar-se em termos linguística e culturalmente apropriados. Essa verdade se aplica, tanto à encarnação de seu Filho, que assumiu carne humana, como a inspiração da sua Palavra, que foi falada em linguagem humana.
(p 214)

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Uma das coisas que a igreja mais necessita hoje é ter uma consciência sensível para o mundo que nos cerca. Se somos de fato servos de Jesus Cristo, nossos olhos (à semelhança dos olhos de Jesus) precisam estar sempre abertos para a necessidade humana e os nossos ouvidos atentos aos gritos de angústia. Assim, tal como Jesus, poderemos reagir de maneira construtiva e compassiva diante do sofrimento do povo.
(p 246)

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É essencial esclarecer logo de início que os cristãos afirmam unicidade e supremacia apenas com relação a Cristo, e não ao Cristianismo, em qualquer uma das suas formas institucionais e culturais.
(p 341)

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A tolerância é talvez a mais valorizada das virtudes na cultura ocidental, hoje. Mas nem sempre as pessoas definem o que querem dizer com tolerância. Se nós estabelecermos uma distinção entre três diferentes tipos de tolerância, quem sabem isso nos ajude a esclarecer. A primeira poderia ser chamada de tolerância legal; ela procura garantir que os direitos religiosos de toda minoria (geralmente resumimos como a liberdade de ‘professar, praticar e propagar’ a religião) sejam devidamente protegidos pela lei. Os cristãos deveriam ser os primeiros a lutar por isso. Outro tipo é a tolerância social, que estimula o respeito a todas as pessoas, Quaisquer que sejam os seus pontos de vista, procura compreender e valorizar a postura destes e promove a boa vizinhança. Esta também é uma virtude que aos cristãos interessa cultivar; ela brota naturalmente do nosso reconhecimento de que todos os seres humanos são criatura de Deus e portadores de sua imagem, e de que ele deseja que vivamos juntos, em harmonia. Mas, e a tolerância intelectual, que é o terceiro tipo? Cultivar uma mente tão aberta que seja capaz de abraçar qualquer opinião por mais falsa ou danosa que seja, sem nunca rejeitar coisa alguma, isso não é virtude; é um vício que denota fraqueza de espírito e de moral. No final, acaba gerando uma confusão sem princípios entre verdade e erro, entre o bem e o mal. Os cristãos que creem que o bem e a verdade foram revelados por Cristo, não podem aceitar isso. Nós estamos decididos a dar testemunho de Cristo, que é a encarnação dos dois.
(p 359-360)

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Será que o comprometimento com a ação social não irá nos desviar da evangelização? Sim, pode até ser; mas não é preciso. Nós certamente precisamos nos precaver quanto a esta possibilidade. Aliás, deveríamos ser gratos pelos ‘cães de guarda’ evangélicos que latem muito e bem alto ao perceber em nós qualquer sinal de diminuição do comprometimento com a evangelização. Mas se nós vivermos à luz da morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo, os motivos que nos movem a evangelizar serão continuamente renovados nesta fonte perene. E principalmente o fato de Cristo ter sido elevado ao supremo lugar de honra nos haverá de inspirar fazendo-nos ansiar que lhe seja dada a glória devida ao seu nome. E então a ação social, longe de desviar-nos da evangelização, irá torná-la mais efetiva, conferindo ao evangelho mais visibilidade e mais credibilidade.
(p 393)

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Para o cristianismo do Novo Testamento é fundamental a perspectiva que estamos vivendo ‘tempos intermediários’ – entre o passado e o futuro, entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, entre o que foi feito e o que resta por fazer, entre a realidade presente e o destino futuro, entre o reino que veio e o reino que virá, entre o ‘já’ em relação à instauração do reino e o ‘ainda não’ em relação a sua consumação. Do ponto de vista físico é naturalmente impossível olhar ao mesmo tempo para duas direções opostas; espiritualmente falando, porém, é essencial que o façamos, olhando para trás, para a encarnação e todas as suas implicações, e olhando para frente, para a parusia e tudo que ela há de trazer.
(p 421-422)

 

Trechos de Ouça o Espírito, Ouça o Mundo, de John Stott (ABU Editora). Selecionados por Natan de Castro.

• Natan de Castro é casado com Patrícia, mora em Goiânia (GO) e trabalha como secretário adjunto de formação na Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB).

 

 

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