Quatro dons de Deus para pensarmos corretamente
Os Cristãos e os Desafios Contemporâneos foi a maior e mais abrangente obra do pastor e teólogo inglês John Stott. Em 2014, a Editora Ultimato resolveu encarar o trabalho de editar e publicar mais de 600 páginas da pena do bom e velho Stott. Deu resultado. Apesar de ter sido publicado há décadas, o livro continua atual. Seus temas ainda estão na boca dos cristãos: violência, direitos humanos, aborto, diversidade étnica, trabalho e desemprego, meio ambiente, casamento e divórcio, homossexualidade, globalização, entre outros.
Além disso, Os Cristãos e os Desafios Contemporâneos foi reconhecido nesta semana (dia 12) como o “Livro do Ano” pela Associação de Editores Cristãos (ASEC) e como melhor livro na categoria “Vida Cristã”.
A propósito disso, podemos nos perguntar: como Stott conseguiu escrever esta obra? Sem dúvida, seu compromisso com Cristo foi o principal. Mas, na prática, como ele conseguiu elaborá-la? Em sua sabedoria clara e concisa, o próprio Stott explica no capítulo 2: usando quatro dons fundamentais. Eles servem não somente para escrever livros, mas para pensar corretamente e viver uma vida cristã frutífera e relevante num mundo cada vez mais complexo e cheio de dilemas éticos. Confira abaixo o que Stott disse.
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Os quatro dons
Nossa mente
O primeiro dom é a mente, com a qual pensamos. Deus nos fez criaturas racionais, inteligentes. Ele ainda nos proíbe de comportarmos como cavalos ou burros, que não têm entendimento, e nos diz para não sermos crianças quanto ao modo de pensar, mas adultos (Sl 32.9; 1Co 14.20).
A Bíblia
Em segundo lugar, ele nos deu a Bíblia e seu testemunho de Cristo, para direcionar e guiar nosso raciocínio. Ao absorver o ensino bíblico, nossos pensamentos se conformarão cada vez mais com os de Deus. Isso não acontece por memorizarmos vários textos-prova, os quais recitamos em momentos convenientes, cada um rotulado para responder a uma pergunta. Antes, isso acontece por termos compreendido os grandes temas e os princípios das Escrituras, além da estrutura de quatro partes que estamos abordando neste capítulo.
O Espírito Santo
O terceiro dom de Deus é o Espírito Santo, o Espírito da verdade, que nos abre as Escrituras e ilumina nossa mente de tal maneira que podemos entendê-las e aplicá-las.
A comunidade cristã
Em quarto lugar, Deus nos deu a comunidade cristã como o contexto dentro do qual raciocinamos. Sua heterogeneidade é a melhor defesa contra uma visão limitada. A Igreja tem membros de ambos os sexos, de todas as idades, temperamentos, experiências e culturas. Cada igreja local deve refletir essa diversidade multicor. Com compreensões tão valiosas contribuindo para a interpretação das Escrituras a partir de diferentes experiências, será difícil manter nossos preconceitos.
Ao usarmos esses quatro dons juntos – uma mente, um livro, um professor e uma escola –, deve ser possível desenvolvermos cada vez mais uma mente cristã e aprendermos a pensar corretamente.
No restante deste livro, isso será mostrado explícita ou implicitamente em todos os capítulos. Independentemente de o assunto ser o processo político, o qual já mencionei, ou temas ligados a sexualidade, guerra ou meio ambiente, a mente cristã é diferente na abordagem, humilde na atitude e piedosa no caráter.
Francisco Ferreira da Silva
Sinto saudades dos meus tempos de faculdade, onde trabalhamos muitas dessas temáticas a partir de John Stott. Eu penso que a teologia contextualizada tem que passar por esse gigante da literatura cristã.