Foi lendo John Stott que passei a perceber o quanto nos afastamos da simplicidade do evangelho. O distanciamento dessa simplicidade implica no distanciamento da imagem de Jesus em nós, pois, já não podemos dizer que nos parecemos com Jesus se amamos ser aplaudidos, reconhecidos. Não estamos identificados com Jesus se buscamos status.

Quando Jesus nos mandou carregar nossa cruz, na verdade estava nos dando a maior de todas as oportunidades de nos parecer com Ele, pois ele também carregou uma rude cruz, com muito sangue, pro nosso cristianismo ter algum “glamour”.

“Adotemos os princípios de um ‘estilo de vida simples’, que nos liberta do consumismo ou da busca de símbolos de status”, John Stott.

Os evangélicos, dentro de alguns segmentos do cenário religioso brasileiro, se tornaram extremamente hedonistas. Epicuro teria milhares de milhares de adeptos se estivesse em nosso meio hoje. Para muitos, pouco importa o exemplo do estilo de vida de Jesus que nos ensinou o desapego aos bens materiais, a referência de muitos é a opulência de Herodes em seu palácio.

No livro “Discípulo Radical”, Jonh Stott conta que se sentia extremamente constrangido quando as igrejas o convidavam para algum evento e as mesmas lhe mandavam passagens aéreas na primeira classe.

A imagem de Jesus durante a última ceia, quando ele se levanta da mesa e veste as roupas serviçais de um escravo e, se abaixando, começa a lavar os pés dos discípulos, era para provocar a desconstrução de toda nossa vaidade, de toda fama, de toda ganância por posição em pódio.

Creio que a toalha com a qual Jesus estava cingido quando lavava os pés dos discípulos certamente brilhava mais do que a púrpura que envolvia os braços de César em Roma.

Billy Graham, considerado maior evangelista do século passado, com apenas trinta anos já havia pregado para mais de 210 milhões de pessoas em mais 180 países. Conta-se que um dia enquanto participava de uma entrevista foi questionado sobre “como tinha conseguido alcançar tanto prestígio em suas missões”. Por que Deus havia escolhido Billy Graham?

Essa era uma ótima oportunidade de Billy Graham mirar os holofotes para ele, mas respondeu da seguinte forma: Deus, olhando do céu para a terra, não encontrou ninguém pior que eu! As nossas obras não devem apontar para nós mesmo, mas para Cristo.

Na Idade Média, os artistas (Giotto, Jan Van Eyck…) preferiam ser chamados de artesãos, e poucos assinavam suas obras. Devido ao Teocentrismo, acreditavam fielmente que suas obras eram realizadas por Deus, e não por eles. Dessa forma, assinar a obra, para eles, era o mesmo que roubar a glória de Deus.

Voltemos à simplicidade, e nos despojemos de toda honra ao nosso nome.

 

Alan Corrêa, 31 anos, mora em São Paulo e cursa o 4° período em bacharel em teologia.

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