Antonello_da_Messina_037Leia: Lucas 1.46-55

 

Pode uma mulher cantar em tempos como estes? Pode uma mulher pobre encontrar motivo para cantar em um mundo tão desigual e desumano? O que esperar da vida quando os ricos e poderosos se tornam cada vez mais ricos e poderosos e os pobres e miseráveis se tornam cada vez mais pobres e miseráveis?

Entretanto, há uma voz que toca o coração dessa mulher e que traz a resposta. Há uma voz que a faz cantar um canto de alegria e coragem, como o de uma virgem que descobre a alegria de ser mãe, como a de um povo que descobre a alegria de ser livre, como a de um guerreiro que descobre o caminho da paz. Essa voz “nos alerta” e ensina que “é preciso ter força, é preciso ter raça sempre”, ainda que essa força venha misturada à fraqueza.

É preciso que o riso aformoseie o rosto, ainda que molhado pelo choro. É preciso que o som da alegria quebre o silêncio do terror e da morte. É preciso que a vida “severina” aprenda a vencer as incontáveis léguas dos descaminhos da morte.

Maria sabe que vive, e “não apenas aguenta”, pois traz em seu corpo a prova maior de que o tempo é de mudança e graça: o Deus conosco. Então ela canta: “Minha alma engrandece ao Senhor!”. O canto de Maria declara que há Alguém maior que reis e poderosos, Alguém que traz esperança e vida aos pobres e famintos. Ela anuncia a presença de Deus na história humana, a presença redentora de Deus no mundo.

A experiência de Maria confirma que o Senhor faz o pobre cantar de esperança. Ele anima o abatido, enxuga as lágrimas dos que já não encontram consolo em si mesmos e em ninguém. Ele torna grande nossa vida breve. Quebra o orgulhoso, derrota os poderosos e redime o humilde.

Certamente, Maria haveria de provar em sua própria vida mistérios de fazer calar seu pobre coração. Aliás, muitas coisas sobre o menino Jesus ela guardaria a sete chaves em seu humano coração (Lc 2.19).

Stênio Marcius, em seu “Cântico de Maria”, dá voz a Maria, já amadurecida, olhando para Jesus, agora não mais o menino, mas o homem feito e misterioso enigma para todos ao redor. Meditemos juntos. Quem interpreta a canção é João Alexandre. http://www.youtube.com/watch?v=kZsWCqa1FEo

Tu já foste indefesa criança

Não consigo entender,

Como pude tomar-te em meus braços

E envolver o teu ser,

Tantas noites ouvi o teu choro

A pedir pão e leite, consolo.

Carecias pra tudo de alguém,

E até pra dormires também

Um balanço e a minha voz pra te ninar.

 

Teus primeiras passinhos e quedas

Com orgulho segui,

Ensaiaste as primeiras palavras

Que entender eu fingi.

Travessuras sem mal de menino,

Quantas vezes me deixaram rindo.

De repente o menino cresceu,

Tão bonito e viril se tornou,

Tudo tão depressa que eu nem percebi.

 

Mas ao olhar o presente eu vejo

As multidões te seguindo

Buscando paz, esperança e conforto

Que estão nas tuas palavras.

O Teu poder cessa a fúria do mar

E enfermidades se vão,

Quando ordenas, se vão!

 

Hoje eu entendo as palavras do anjo

Quando ele disse o Teu nome.

Tu és a tão esperada promessa,

O Deus do céu entre nós,

És do teu povo o Libertador,

Tu és o meu Salvador,

O Cordeiro de Deus.

 

E pensar que algum dia te embalei

Em meus braços, Jesus!

 

Gladir Cabral

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