Darrell Grayson: lamento por um poeta
Meu querido amigo Glauber estudou no Seminário de Campinas. Fomos contemporâneos lá pelo início da década de 1980. Músico admirável e mente brilhante, Glauber é um grande companheiro de papos teológicos, filosóficos, e muitas canções. Alma de flautista, cultivador da boa música clássica e de jazz, continua tocando e cantando. No início da década de 1990, foi para os Estados Unidos, casou-se com Henrieta e vive lá até hoje.
Nos States, Glauber conheceu uma figura rara, um poeta condenado à morte. Quero compartilhar aqui seus registros sobre a perda de um amigo, de um grande amigo. Para os que quiserem conhecer o blog do Glauber, o endereço é: http://wsmusic.blogspot.com.
Hoje, há mais ou menos uma hora, meu amigo Darrell Grayson foi assassinado. Às 16h do dia 26 de julho de 2007, um oficial do estado de Alabama injetou nele três tipos diferentes de veneno. Três vezes morto — morto além da conta. As circunstâncias de sua vida e morte são muitas para que eu possa descrever agora, e são facilmente disponíveis na Internet. Darrell nasceu pobre e cresceu rodeado pela violência e pelo desespero. Em 1982 foi indiciado num crime terrível, representado por um advogado incompetente, condenado à morte, e viveu na fila de execução até hoje. Usando os pouquíssimos recursos que podia conseguir, ele superou a depressão, estudou sozinho, aprendeu a escrever poesia, publicou livros e tocou muitas vidas. Ele é uma inspiração para todos nós, e eu me considero abençoado por tê-lo conhecido um pouco. Cheguei em casa hoje, vindo do trabalho, no exato momento em que tudo se acabava. Tirei meu bandolim da caixa e toquei “Amazing Grace” tão alto quanto pude, em sua homenagem.
Até logo, Darrell!
No dia seguinte, Glauber escreveu:
Darrell foi declarado morto às 16h16 CDT (2316 GMT) na prisão de Atmore prison. Um de seus amigos testemunhou sua morte. Sua última refeição foi queijo, omelete e tomates frescos. Sua última palavra foi: “paz”.
Agora ele se foi Senhor, ele se foi Como uma locomotiva rolando pelo trilho Ele se foi Ele se foi e nada vai fazê-lo voltar Ele se foi Para onde o vento não sopra tão estranho Talvez em alguma montanha alta Perdeu uma volta mas o preço não era nada Faca nas costas e mais do mesmo O mesmo velho rato no ralo do esgoto Na encosta da montanha Você sabe melhor mas eu o conheço Agora ele se foi Agora ele se foi Como uma locomotiva rolando pelo trilho Ele se foi Ele se foi e nada pode trazê-lo de volta Ele se foi…. (Robert Hunter)
glauber
Pois é, foi um dia triste. Darrell foi um homem que eu tentei sem muita força ajudar, mas de quem na verdade sempre ganhei muito mais do que dei. Um homem que, mesmo olhando a morte de frente, sempre se preocupava mais com meu comforto espiritual do que o seu. Ele fez ou não fez o crime horrível pelo qual foi punido? Eu demorei muito a acreditar firme que não fez, mas acreditei.
O poema que você traduziu tão bem, é de uma música da banda Grateful Dead.