31/31 | Sonhos não envelhecem
Destaco a última folha do calendário. Lá se vai o 31 de dezembro de 2013. Para trás ficam as experiências vividas, os planos concretizados e também os sonhos desfeitos. Pouco a pouco, viram-se as páginas da vida, e o que tenho em mãos é um belo álbum de fotografias. Por um momento vem à mente a pergunta: “Valeu à pena tudo o que foi vivido até aqui?”. Não sei se minha alma é grande ou pequena, para que ela mesma faça a vida valer. Creio que maior que minha alma é o sopro do Senhor da minha vida.
Preciso aprender, ao estilo Walter Benjamin, o movimento sutil de lembrar e esquecer as coisas do passado, pois essa é a grande arte. Não só lembrar o que é bom, não só esquecer o que é ruim, mas permitir que Deus trate e cure as feridas marcadas na memória. Libertar-se do que foi bom, para que Deus possa abrir caminho em nós para o melhor.
O ano novo convida a olhar para frente, e é isso mesmo que farei agora, crendo que Deus estará comigo em cada dia desse novo ano que vai começar. Com Ele, viverei novos sonhos, novos desafios, novos trabalhos e mesmo novas ilusões. O que importa é que Ele, que começou boa obra em mim, há de continuar do meu lado, o grande parceiro da minha vida.
O grande desafio deste dia talvez não seja o de olhar para trás e fazer balanços nem olhar para o futuro e fazer projetos, mas aprender a olhar para Jesus, em quem se funde misteriosamente o passado, o presente e o futuro. Quanto a mim, desejo começar este novo ano com o Senhor e tentar viver cada dia nessa decisão. Que Ele tome os meus dias, que escreve neles a sua vontade. Que Ele me deixe o seu recado e ensine-me a perceber sua presença perto de mim, dentro de mim e no mundo ao meu redor.
Dietrich Bonhoeffer, que enfrentou como ninguém tempos sombrios e que assumia uma postura otimista diante da vida, afirmou certa vez que “[o]timismo, entretanto, não é essencialmente uma opinião sobre a presente situação, mas representa uma força vital, uma energia de esperança, onde outros resignam, uma resistência de manter erguida a cabeça, quando tudo parece fracassar, uma força que jamais entrega o futuro ao adversário, mas o reclama para si”. É isso, uma santa teimosia, um não entregar-se à tristeza e ao pavor.
Uma canção emblemática dos anos 1970 falava da passagem do tempo e do futuro: “Clube da Esquina”, uma composição de um trio de músicos inesquecíveis – Lô Borges, Milton Nascimento e Márcio Borges. Nessa canção, o poeta fala de alguém que um dia foi jovem, alguém que “se chamava moço”, mas que “[t]ambém se chamava estrada / Viagem de ventania”, isto é, processo, movimento, um ser incompleto que “[n]em se lembra se olhou pra trás / Ao primeiro passo”. Mais adiante na canção se ouve a famosa frase: “também se chamavam sonhos. E sonhos não envelhecem”.
Ouça a canção “Clube da Esquina 2”. Medite. Ore. Compartilhe http://www.youtube.com/watch?v=ouzgL9IpOCM
Ouça também a canção “Soy pan, soy paz, soy mas”, de Piero, interpretada por Mercedes Sosa:
http://www.youtube.com/watch?v=QxKUtDwVb50
E aqui a interpretação do querido irmão e artista Maninho: http://www.youtube.com/watch?v=5c55bLi6xw0
E aqui vamos nos despedindo desta série de meditações. Muito obrigado a todos os que leram, responderam, apoiaram e compartilharam nossos textos e canções. Nosso único desejo foi o de tornar significativo este tempo de celebração do nascimento de Jesus. Espero que tenhamos ajudado de alguma forma. Que todos tenhamos um 2014 em que as bênçãos e as lutas sejam compartilhadas. Como diria o poeta Carlos Drummond de Andrade, “não nos afastemos. Não nos afastemos muito. Vamos de mãos dadas”.
João Leonel & Gladir Cabral
“O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro” (Mia Couto).
Aldenice Sousa
Olha, sem palavras! Que texto maravilhoso! Essas palavras falaram profundamente ao meu coração, como um tilintar suave de esperança…Que Deus abençoe o colunista!