21/31 | O Servo que proclama a justiça
Isaías é um livro profundo. Entre tantas complexidades está a figura do servo do Senhor. Ela aparece em vários textos, dos quais o mais conhecido é o capítulo 53 que o Novo Testamento aplica a Jesus Cristo.
No contexto histórico de Isaías, o servo pode ser Israel (41.8-9) ou o profeta (49.5). Ou podem ser ambos. Embora os exegetas discutam, e muito, sobre a definição do servo. A ambiguidade que o cerca tem um motivo.
Israel encontra-se no exílio na Babilônia. Ali Deus faz questão de afirmar que ainda tem um plano para seu povo. Deus garante que o ama, que ele é seu servo, e que irá restaurá-lo.
O profeta, como servo, é convocado a proclamar a bondade e a justiça de Deus às nações, mesmo vivendo em um contexto de dúvidas, angústias e sofrimentos.
No texto indicado para leitura, o servo é caracterizado pela presença do Espírito e como aquele que deve proclamar a justiça (e não o “direito”, como está na versão de Almeida, v. 1 e 3) aos gentios.
Justiça, no Antigo Testamento, é um conceito mais relacional do que jurídico. A justiça deriva da aliança com Deus. Justo é aquele que vive com Deus e, por decorrência, anda em seus caminhos (v. 6). Portanto, proclamar justiça significa conclamar os gentios a se relacionarem com Deus e a terem suas vidas transformadas por ele.
Tal justiça visa aos desvalidos e desfavorecidos dentre os gentios, caracterizados como “cegos, cativos, aqueles que jazem em trevas”. Deus não divide nossa vida em departamentos, como se o espiritual fosse mais importante do que o físico e o emocional. A relação com Deus invade todos os segmentos do nosso ser.
A missão do servo é desempenhada de forma pacífica (v. 2-3) e perseverante (v. 4). Ele não briga, não se impõe, não humilha. Não é preciso. Os humildes de todos os povos o recebem e a sua mensagem de braços abertos.
Quem é o servo? Israel, o profeta, Jesus. O evangelista atribui a Jesus a missão do servo (Mt 12.15-21; Lc 4.18 ecoa Is 42.7). Ele veio para os fracos e sofridos de Israel e de todo o mundo gentílico, dentre os quais se apresentam nos evangelhos, como exemplo, a mulher cananeia e sua filha endemoninhada (Mt15.21-28).
Quem é o servo? Israel, o profeta, Jesus… nós. Essa é a razão da ambiguidade da figura do servo em Isaías. A imagem vem se atualizando na História até chegar a nós, e continuará depois de nós. Como discípulos de Jesus, o Deus encarnado nascido na manjedoura, cumpre-nos continuar sua missão de proclamação aos cegos, aos cativos, aos que jazem nas trevas.
Ouça a canção “O Rei da Glória” (Guilherme Kerr). Medite. Ore. Compartilhe. http://www.youtube.com/watch?v=L9-zd_SAxlY
João Leonel