Traduzir ou não traduzir C.S. Lewis? Dedicatória à Semana C.S. Lewis 2012.
Gabriele Greggersen
Em 1998, quando se festejou o centenário do nascimento de C.S. Lewis, bati na porta de várias editoras com um projetinho para algum evento comemorativo e com propostas para tradução de vários livros. Mas a resposta que obtive foi: “Quem leria C.S. Lewis no Brasil?”
De lá para cá, muita coisa mudou: Novas traduções surgiram de vários títulos pela editora Martins Fontes, de Surpreendido pela alegria (Editora Mundo Cristão), de Mero Cristianismo (Editora Quadrante), de vários títulos pela Editora Vida Nova, meus livros da Editora Vida (Pedagogia Cristã na obra de C.S. Lewis) e da Editora Mackenzie (Antropologia Filosófica de C.S. Lewis) e os dois títulos por mim traduzidos para a Editora Ultimato: Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Mas é claro que os títulos da Martins Fontes, que lançou as Crônicas de Nárnia em grande estilo na Bienal do Livro do Rio de Janeiro em 1997, foram os mais importantes, pelo tamanho e alcance (distribuição) da editora.
Mas foi depois do lançamento dos filmes das Crônicas… no cinema que o nome de C.S. Lewis se tornou mais conhecido no Brasil, tanto ao público que gostou dos filmes, mas até agora não faz nenhuma relação com o cristianismo (cristão ou não), quanto daquele que fez a relação imediata, mas que nunca havia ouvido falar em C.S. Lewis. Entre os últimos encontram-se os criadores e administrador do portal Mundo Narnia, que se inspirou em Narnia para criar todo um mundo virtual.
Há também grupos lewisianos que já estudavam Lewis no Brasil desde 1965, dois anos após a morte do mestre, e de lá para cá se reuniam informalmente, mas que nunca haviam conseguido se organizar para institucionalizar um Grupo Oficial, só conseguindo alguma coisa a partir de seu ingresso na Internet (mais ou menos a partir de 2002), e hoje constituem uma verdadeira escola virtual, com centenas de artigos publicados na Rede e pelo menos 3 (três) livros publicados com base em Lewis ou falando sobre ele (todos publicados pelas editoras Agbook e Clube de Autores). Este grupo de 1965 chama-se Escola de Aprofundamento Teológico (EAT), e seu pessoal conta com três pastores e é dirigido pelo amigo narniano Prof. João Valente.
Finalmente, quem sabe, meu site <http://cslewis.com.br> também tenha contribuído de alguma forma para a popularização do autor e da obra, principalmente no meio acadêmico.
É preciso considerar que Lewis tem várias facetas, não apenas do escritor de livros imaginativos para todas as idades e apologista cristão. Ele também era um acadêmico de mão cheia na área de literatura, mas também, informalmente, nas de filosofia, teologia e educação.
Assim, no ano passado, fui surpreendida por uma nova missão: traduzir a obra acadêmica de C. S. Lewis para o português do Brasil. Trata-se de quatro livros, a começar pela sua dissertação de mestrado: A Alegoria do Amor, já lançado pela Editora É-realizações. Os próximos lançamentos serão: A Imagem Descartada, que é um estudo sobre a visão de mundo medieval via literatura; Estudos de Literatura Medieval e Renascentista; e Prefácio ao Paraíso Perdido, sobre a famosa obra de Milton, mas numa perspectiva comparativa.
Esse trabalho gerou várias reflexões da minha parte. Principalmente sobre a questão, se é difícil ou fácil traduzir C.S. Lewis, pergunta essa que é ainda mais importante no caso das suas obras mais “técnicas”.
Vou começar pelos seus aspectos “fáceis” de ler e traduzir: seu carisma, que chamaria até de verve; sua paixão pelo que ele conhecia e sabia fazer, e não era pouca coisa; seu lidar com as letras e com os autores; e sua clareza mental; seu equilíbrio e ponderação na argumentação; sua humildade e seu respeito pelo leitor. De uma maneira geral, o aspecto fácil está na própria simplicidade com que ele escreve, com insights regados de genialidade. O leitor sintonizado admira-se: “Nunca parei para pensar nisso” ou (aos ainda mais sintonizados) “sempre pensei isso” e depois “mas como foi que ele conseguiu expressá-lo de forma tão simples?”
A parte difícil da tradução da obra de C. S. Lewis, em especial, aquela, escrita para o meio acadêmico é a disparidade de linguagem e cultura entre o a academia brasileira e a inglesa da época dele. Lewis era poliglota e entre as línguas que ele dominava, estava o inglês médio (inglês da Idade Média), língua mais morta do que o latim, de forma que o tradutor tinha que fazer verdadeiros malabarismos para tentar decifrá-las. Sem falar de citações em latim, francês, italiano, britânico, saxônico e grego.
E mais: Lewis também usa um estilo que já não é mais usual, nem mesmo nos meios acadêmicos: Frases longas, com uso constante de pronomes, principalmente o “it” (gênero inexistente no português) até se perder de vista a que os mesmos se referem, e o uso de expressões idiomáticas. Todas essas dificuldades fizeram vários tradutores desistir da ousadia de traduzir esse autor, principalmente nessas obras.
Mas o que é fundamental, até para os editores que me lêem: a mensagem de C.S. Lewis sobrevive há décadas, não apenas no mundo cristão, mas até no secular e acadêmico. Digno de nota é a edição recente de An Experiment in Criticism, que foi traduzido pela UNESP para Um Experimento na Crítica Literária (2009), livro esse que já é citado em trabalhos e resenhas acadêmicas.
Você me dirá: “Mas eu não entendo nada de literatura, muito menos, da Medieval”, e eu lhe direi que o esforço por ingressar nesse universo será coroado de recompensas inesperadas da filosofia, da teologia e de muitas outras áreas interdisciplinares a cada página de cada um desses livros. E mais: Você sairá com um gosto mais apurado pela literatura ou quiçá até se apaixone por ela (e de quebra também pela filosofia e a teologia).
Então, esses livros traduzidos são a prova de que C.S. Lewis não é apenas um nome para veicular o cristianismo através de novos canais de comunicação, como faz crer um artigo recente, que tenta aproximar as suas estratégias à forma de comunicação e de marketing pós-moderna do neopentecostalismo brasileiro, as quais pouco ou nada têm a ver com os meios acadêmicos.
C.S. Lewis era um profissional e acadêmico com todas as letras, embora esse seu mérito tenha sido alcançado por ele apenas tardiamente em sua vida e por uma universidade (Cambridge), que não era a dele de origem (Oxford), coisa que essas universidades reconhecem hoje ter sido uma injustiça e um preconceito pela sua genialidade e popularidade nos meios não acadêmicos e cristãos.
Nessa semana em que lembramos particularmente do escritor e da obra, que é a que comemoramos todos os anos em novembro, mês em que ocorreu tanto o nascimento (dia 29 de novembro de 1898) e a morte (dia 22 de novembro de 1963) de C.S. Lewis, fica aqui a minha singela contribuição.
Prof. JV
Muitíssimo obrigado pela publicação deste texto na íntegra, querida. Valeu. Agora sim temos uma prova concreta da união transcendental (e “obrigatória”) entre todos os lewisianos, que nada mais fazem que cumprir o sinal de “amor fraterno” apontado por Jesus como prova de nossa filiação a Ele. Esteja certa de que a recíproca é verdadeira, e sua pessoa e obra são por nós citadas sistematicamente, ao ponto de você ser uma das 5 personalidades homenageadas com foto no nosso MMB (Mural de Mentes Brilhantes: ver parte inferior do nosso BLOG). “Aslan vincit omina”. Bjs e abs.
gabriele
Caro JV,
Realmente, temos que reunir as mais diversas abordagens da obra de C.S. Lewis. E certamente a da EAT é bastante interessante e diferenciada. Obrigada por me incluir.
Grande abraço narniano
Nice
Certo dia me disseram ” Vai ser colunista no blog da gabrielle!” Nunca imaginei que ia ouvir isso dentro do campus de humanidades da universidade federal do ceará, durante uma reunião sobre um evento local a respeito da obra e ideias de cs lewis. Nem imaginava isso também quando li meu primeiro livro do lewis, uma edição velhinha de “cristianismo puro e simples” no ultimo ano do ensino médio. E depois li o segundo, o terceiro… meus amigos se cansaram de me ouvir citando, mas eu quis que todos ao meu redor pudessem experimentar a visão de mundo que me foi proporcioanda através desse autor.
Como pode você morar tão distante e agora ser conhecida por nós, assim como seu trabalho e empenho, a ponto das pessoas lembrarem do site onde você publica artigos e até encorajarem pessoas a escrever? ( por ter sido uma brincadeira não retira o mérito, pelo contrário, mostra quão enraizado já está heheh) Quem imaginaria que C.S. Lewis ganharia esse espaço?
Acho que Deus já imaginava isso… talvez na época as pessoas não compreendessem muito bem a relevancia das obras desse homem para gerações futuras, mas se observarmos como suas críticas se encaixam em nossos questionamentos, podemos suspeitar ou até reconhecermos que existe alguém ( como Lewis reconhecia), além da atmosfera desse nosso planeta pequeno diante do sistema solar que dirá do universo. Indo um pouco mais além, que Clive Staples cumpriu um proposito elevado durante sua vida servindo a outras pessoas com seus escritos. Não por que podia ver aquilo em que cria, mas por que através da fé que tinha podia ver todas as coisas. (parafraseando) Quem dirá o contrário, tantos anos após sua morte, com semanas de cs lewis pelo Brasil e tantos livros publicados em português?
gabriele
Querida Nice,
Você escreve bem. Parabéns pelo texto. Não quer escrever um em homenagem à semana C.S. Lewis? (termina hoje, mas todo dia é dia de celebrar o nosso Jack, não é mesmo?)
Sobre a quantidade de obras traduzidas para o português, nem sempre foi assim. Quando eu iniciei os meus estudos sobre ele, senti-me como uma profeta que “grita no deserto”… rsrs.
Grande abraço
Theophilo
É sempre um prazer entrar no seu site Gabriele. Não me sinto só com meu amor pelo mentor e autor favorito, nosso querido Jack. Me trás um sorriso ao rosto, ou como diria ele, joy. Abraços e Paz!
gabriele
Oi Theophilo,
Nome interessante o seu…
E muito obrigada de coração pelo carinho. Comentários assim tb me fazem experimentar joy a fundo.
Grande abraço
Eliel Gomes
Há seis anos fui surpreendido pela Alegria e nasci para viver a eternidade com Jesus. É notório que Deus dá-se a conhecer de uma forma gradativa (pois não suportaríamos se não o fosse!), mas desde que comecei a leitura de C. S. Lewis (há mais ou menos dois anos) é bem verdade que esse conhecimento do Criador se intensificou, acontecendo de uma forma criativa, por que não dizer inusitada?! Sei das minhas limitações intelectuais (confesso que alguns livros e artigos eu “luto até sangrar” para extrair a verdade ali contida) mas não desisto diante destas dificuldades, pois já fui cativado e edificado pelo talento de Lewis. E a toda esta aprendizagem e edificação, acredito que devo muito a você, querida Gabriele, por seu talento, empenho e fidelidade. Como tenho sido abençoado através dos seus trabalhos! Meu sincero desejo, é que você possa vencer todos os desafios que lhe forem propostos, e que o nome de Cristo seja mais e mais honrado através da sua vida. Deus a abençoe, ó Narniana!
gabriele
Oi Eliel,
Fiquei muito emocionada com a sua mensagem (e olha que tenho sangue alemão, rsrs) e nem tenho palavras para te responder. Nessas horas, entendemos o que Lewis quis dizer em Studies in Words sobre as linmitações e tendência ao desgaste das palavras. Mas, se você entender a fundo o que isso quer dizer, digo-lhe apenas “obirgada” (ou seja, estou obrigada em relação a você de retribuir a gentileza – e bota gentileza nisso).
E fico grata a Deus por ter me dado esse ministério. Há mais de vinte anos que estudo C.S Lewis (quantos mais não vou dizer para não revelar a minha idade).
Respostas positivas como a sua me incentivam a não desistir, apesar das circunstâncias muitas vezes adversas e desanimadoras.
Bem-vindo à Nárnia e ao trupe que anda nas pegadas de Aslam!
Grande abraço
Gabriele
Eliel Gomes
Fiquei muito feliz por sua resposta, Gabriele, muito mesmo, seu carinho e gentileza me impressionam. Ah, quero lhe informar que desde que conheci os escritos do querido Jack, tenho buscado levar outras pessoas a essa fonte, sabe, busco falar de uma forma apaixonada à outros tudo aquilo que tenho aprendido. Falo isso Gabriele, para que você contemple alguns (dos muitos!) frutos do seu precioso trabalho, e (como você disse) a incentive a perseverar mais e mais no ministério que o Senhor lhe confiou. E que belo ministério é este! No mais, fico deveras feliz pelo privilégio de caminhar nas pegadas de Aslam na sua companhia. Que o Senhor a abençoe. Forte abraço!
Nice
Gabrielle, só vi sua resposta hoje! O.o Mas vou ficar com a parte do ” todo dia é dia de homenagear o velho jack, não é mesmo?” rsrsr Muito obrigada! =)
Nice
Os profetas no deserto abrem caminhos que mudam a história 🙂
gabriele
Amém e amém!
Carla
Com todo o respeito, Gabriele, quero agradecer a você por ter lutado tanto para disponibilizar as obras de C. S. Lewis no Brasil. Isto porque tenho adquirido e lido os seus livros, desde A Antropologia Filosófica de C. S. Lewis até a sua tradução (que alegria!!!) de Alegoria do Amor, comprada no começo de dezembro numa livraria do centro do Rio. Foi uma surpresa; eu sempre quis ler essa obra, mas meu inglês é claudicante, para dizer o mínimo… E você a ‘trouxe’ para nós, leitores brasileiros. Muito obrigada! Acima de tudo, Lewis merece ser lido, ser conhecido, ser divulgado. E você tem contribuído para isso.
gabriele
Oi Carla,
Como é bom receber feed-backs assim como o seu. Faz tudo valer muito mais a pena ainda. Espero que possamos continuar em contato nas nossas pesquisas sobre Lewis e seu maravilhoso legado e fazer confluir as nossas sinergias em prol dessa causa.
Obrigada! E Feliz Natal e abençoado 2013!
Grande abraço
GAbriele
Pedro Mendes
Nenhum escritor cristão moldou tanto a minha visão de mundo como C.S.Lewis. Já comprei todos os livros de Lewis publicados no Brasil, com exceção de “Supreendido pela alegria”, por estar esgotado. Cada leitura me supreende. Seu estilo literário e sua capacidade lógica são singulares…
gabriele
Oi Pedro,
Realmente vc descreveu o nosso Jack muito bem. E de fato, o Surpreendido pela Alegria está em falta. Mas há rumores sobre uma nova edição.
Grande abraço
José Osvaldo Henrique Corrêa
Olá Gabriele,
Por acaso você já realizou a tradução de “A preface to Paradise Lost”?. Estou fazendo uma leitura do livro do J. Milton e fiquei interessado em ler a crítica do C. S. Lewis.
Att,
José Osvaldo Henrique Corrêa