Estilo Apologético de C.S. Lewis
por Cristiano Silva
(gentilmente concedido)
Ao comentar sobre obras de não-ficção, o autor toma como exemplo ninguém menos do que C. S. Lewis, discutindo o seu estilo e mostrando porque ele é um dos grandes apologistas cristãos do século passado. Reproduzo abaixo alguns trechos de sua análise, que podem servir de introdução e estímulo para aqueles que porventura ainda não conheçam a sua obra na área da discussão e defesa da fé cristã [2]:
C. S. Lewis é um bom modelo para autores cristãos contemporâneos. Ele é um apologista tão eficiente para a fé cristã precisamente porque ele é um ótimo escritor. Considere como ele escreve sobre Jesus Cristo:
“As coisas que ele diz são muito diferentes do que qualquer outro professor tenha dito. Os outros dizem, ‘Esta é a verdade à respeito do Universo. Este é o caminho que você deve seguir’, mas Ele diz, ‘Eu sou a Verdade, e o Caminho, e a Vida.’ Ele diz, ‘nenhuma pessoa pode alcançar a realidade absoluta a não ser através de Mim. Tente salvar a sua própria vida e você inevitavelmente se arruinará. Entregue-se e você se salvará.’ Ele diz, ‘se você tiver vergonha de Mim, se, ao ouvir este chamado você virar para o outro lado, Eu também irei fazê-lo quando retornar de forma evidente. Se algo mantém você longe de Deus e de Mim, qualquer coisa que o seja, lance-o fora. Se for o seu olho, arranque-o. Se for a sua mão, corte-a fora. Se você se colocar como o primeiro, será o último. Venham a Mim todos aqueles que tem uma carga pesada para carregar, e eu vou consertar isso. Seus pecados, todos eles, estão apagados, Eu posso fazer isso. Eu sou o Renascimento, Eu sou a Vida, alimentem-se de Mim, bebam de Mim, Eu sou seu Alimento. E finalmente, não tenham medo, eu sobrepujei o Universo inteiro.'” [3]
Aqui não há linguagem de Escola Dominical (com todo o respeito à Escola Dominical). Nós já ouvimos tanto sobre Jesus que às vezes esquecemos da magnitude de Suas afirmações. Lewis usa de categorias modernas (“realidade absoluta” e “Universo”), mas ele não atenua nada. Na verdade, o seu propósito é restaurar as declarações radicais e surpreendentes de Cristo, sem domesticação, de maneira que possamos experimentá-las como chocantes e convincentes, da mesma maneira que Seus primeiros ouvintes o fizeram. O ritmo da passagem vai aumentando e acelerando, culminando em uma sentença que se interrompe duas vezes para transmitir a urgência pessoal na voz de Cristo: “Todos os seus pecados, todos eles, estão apagados, Eu posso fazer isso”.
À seguir, o autor exemplifica o seu estilo através de uma das suas passagens mais famosas, e até mesmo chocantes, comentada e utilizada como já vi por outros escritores e/ou pastores reformados:
O estilo de Lewis é sempre lúcido, cativante e até mesmo divertido. Sua lógica é magistral (especialmente notável em uma era que geralmente minimiza a lógica). Ao mesmo tempo, ele pode despertar emoções poderosas. Ele sempre fundamenta suas ideias em exemplos vívidos, e mesmo na profundidade de um assunto sério, ele não tem medo de ser engraçado. Considere, por exemplo, a lógica, a paixão, e a perspicácia de suas palavras à respeito das afirmações de Cristo, algo que ajudou a muitos a se tornarem cristãos:
“Estou tentando impedir que alguém repita a rematada tolice dita por muitos a seu respeito: ‘Estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus.’ Essa é a única coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre moral. Seria um lunático – no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido – ou então o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou pode prosternar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha com paternal condescendência, dizer que ele não passava de um grande mestre humano. Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la.” [4]
Lewis equilibra as três possibilidades sobre a identidade de Cristo com as três possíveis respostas dadas pelos seres humanos, levando o leitor a um comprometimento: “você deve fazer uma escolha”. A lógica cuidadosamente construída não se permite em ser abstrata; ao contrário, a passagem é fundamentada em detalhes vívidos: se Ele é um demônio, cuspa Nele; se Ele é Deus, jogue-se aos Seus pés. A discussão toda, com todo o seu fervor e senso de urgência, é imbuída de humor. Ao descrever a loucura, ele poderia ter usado ilustrações óbvias, mas ao invés disso coloca um homem que pensa que é um ovo cozido. A passagem, com toda a sua verdade, é completamente artística.
O autor conclui, resumindo o estilo de Lewis da seguinte forma:
Na minha opinião, Lewis não convence as pessoas à fé, como se isso fosse possível. O que ele faz é simplesmente explicar o que o Cristianismo é. […] O que ele faz é apresentar a Palavra de uma forma que é maravilhosamente simples. Seu estilo elimina as confusões, preconceitos e pré-disposições dos leitores com respeito ao Cristianismo. […] Como Paulo fala: “[…] para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Co. 10:4-5). Os falsos pressupostos da filosofia humana e do orgulho precisam ser abatidos para preparar o caminho para Cristo. As palavras humanas podem ser um veículo para a Palavra de Deus.
Esta boa análise do escritor Gene Edward só reforça algo que recomendo sempre para irmãos em Cristo e outros amigos mais chegados, e que também procuro estimular em meu próprio blog: leiam C. S. Lewis. Leiam com critério, mesmo que às vezes discordando dele, o que pode ser bom uma vez que o padrão de referência último do cristão deve (ou deveria) ser a Bíblia, mas leiam. Apesar da lógica clara, é uma leitura que requer atenção, mas leiam. Garanto que é, no mínimo, uma experiência enriquecedora, mas muitas vezes, pelo menos para mim, e mesmo discordando dele em alguns pontos, representa mais do que isso: é uma verdadeira bênção.
[1] A tradução do título ficaria equivalente a Lendo Nas Entrelinhas: Um Guia Cristão de Literatura.
[2] Tradução não profissional minha.
[3] “What Are We to Make of Jesus Christ?”, God in the Dock, edição de 1970, pág. 160.
[4] Cristianismo Puro e Simples, edição de 2005 da Ed. Martins Fontes, págs. 69-70.
Ron
Dra. Gabriele, que legal você ter postado este texto do Cristiano por aqui!
Fiquei muito feliz quando vi você pedindo lá mas eu estava com problemas técnicos no site e não consegui ver quando você postou. Aí assim que vi o avisei! É realmente um bom texto, não?
Até mais, dra!
Felippe
Ótimo texto. Fico impressionado com C.S.Lewis. Tenho seguido suas recomendações e lido todos os textos possíveis deste grande Escritor. Seu estilo Apologético é um exemplo a ser seguido. Suas colocações, frases, obras nos levam a avaliar nossas vidas e nos apresentam possibilidades de comunicar as Verdades eternas a todos aqueles que precisam. Olhando C.S.Lewis, realmente vejo o que é descrito em 1° Pedro 3:15: “Dar Razão da nossa Fé”.
Cristiane
Olá, Gabriele !!
Estou à procura do livro em q consta o dizer de C S Lewis :
“Deus nunca pretendeu fazer do homem uma criatura estritamente espiritual. Esta é a razão pela qual Ele usa coisas materiais como o pão e o vinho para transmitir a nova vida (…) Deus gosta de matéria, foi Ele quem a criou (..)”
será q poderia me ajudar a descobrir ?
muitíssimo obrigada !!
um abraço,
Cristiane Veiga.
Micaías
– C. S. Lewis. Cristianismo puro e simples. Tradução de Álvaro Oppermann e Marcelo Brandão Cipola. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 86].
Gabriele Greggersen
Oi Ron e Felippe,
Desculpem a demora na resposta. Agradeço muito os comentários.
Oi Cristiane,
Demorei a responder, por absoluta falta de tempo nesse fim de ano (Traduzindo C.S. Lewis, entre outras coisas)
Sobre sua pergunta:
A citação é de Cristianismo Puro e Simples. Na tradução da Martins Fontes, lê-se “Deus, que nunca teve a intenção de que fôssemos criaturas puramente espirituais… Ele gosta da
matéria; afinal, foi ele mesmo que a inventou.” p. 27.
Grande abraço
Cristiane
Gabriele !!!!
muitíssimo obrigada !!!! Vc contribuiu enormemente para a tese de minha prima na Usp. Ela está redigindo a defesa dela e adoraria citar este trecho de C S Lewis. Antes não podia usá-lo por não ter informação sobre a fonte. Agora graças a vc, poderá !!! Agradeço muito em nome dela, um beijão,
Cristiane Veiga
susana santos
de verdade que Deus abençoi seu trabalho estou encantada com o site queria muito um dia chegar a conhecer jack tanto quanto vc,e quem sabe visitar o instituto lewis e conhecer o douglas gresham .eu epero em Deus!!!BEJÃO
gabriele
Oi Susana,
Será que já respondi ao seu carinho de início de ano? Em todos os casos, eu é que me emocionei (de novo) com as suas palavras de encorajamento!
Que Deus retorne as bênçãos em dobro para você.
Grandessíssimo abraço
Gabriele Greggersen
Oi Cristiane,
Foi um prazer contribuir, querida. Estarei torcendo para que dê tudo certo com a tese.
Fique com Deus!
Grande abraço
Gabriele
Gabriele Greggersen
Oi Susana,
O Douglas é uma pessoa bastante acessível. E o Jaclk, é só continuar lendo suas obras para conhecê-lo melhor.
Grande abraço
Gabriele