por G.K. Chesterton

trad. De Gabriele Greggersen

De certa forma, essa é a era da supremacia da educação. Por outro lado, é suprema e especialmente uma era deseducativa. Trata-se de uma era em que pela primeira vez se estabeleceu o direito do governo de ensinar as crianças de todo o mundo. Trata-se também da era em que pela primeira vez se negou o direito do pai de ensinar as suas próprias crianças. Trata-se da era em que os empiristas desejam honestamente ensinar alguma coisa ao alegre menino de rua: até mesmo a criminologia e Equilíbrio Cósmico e o sistema Maya de ritmo decorativo. Mas também se trata de uma era em que filósofos honestos estão realmente duvidando, se é correto ensinar tudo a todos; até mesmo como evitar envenenar-se ou cair em precipícios.

Mas a dificuldade prática da nossa educação presente é até pior. É uma tentação conduzir um processo que acabou produzindo um mundo que incessantemente interrompe e reverte esse processo. Educação é iniciação; trata-se de um progresso de uma coisa para a outra; o arranjo de certas idéias em certas outras. Uma criança aprende a nadar antes de aprender a saltar; ela aprende o seu próprio alfabeto antes de aprender o alfabeto grego. Ou, se algum educador reverter esse processo agora, ele tem que ter ao menos uma razão para revertê-lo e, por isso mesmo, terá que recusar-se a reverter o reverso. Mas a vida real do nosso tempo reverte tudo e não tem razão para nada. O mundo real que ruge em torno do pobre pequeno menino de rua, quando ele vai para a escola é um mundo absolutamente anti-educacional. Se a escola está de fato oferecendo alguma educação, o mundo estará certamente engajado dia e noite em arruinar a sua educação. Pois o mundo lhe dá coisas de qualquer jeito, de qualquer maneira, com qualquer resultado; o mundo lhe dá coisas, sem que ele saiba que as está recebendo; o mundo lhe dá coisas que eram destinadas a outra pessoa; o mundo joga coisas em cima dele da manhã até a noite, de forma bastante cega, louca e sem sentido ou objetivo; e esse processo, não importa o que mais possa ser, é precisamente o oposto do processo de educação.O menino de rua gasta mais ou menos três quartos do seu tempo para se deseducar. Ele foi educado pelo sistema moderno de ensino público. Ele foi deseducado pelo estado moderno.

Pois, como eu me aventurei de sugerir muito delicadamente, o Estado moderno está num estado deplorável. É o próprio caos e contradição produzidos por aquela raça muito desequilibrada que produziu o seu próprio oposto numa espécie de confusão contínua. Os educadores têm a tarefa de pôr a escola em ordem, antes de qualquer um pôr o Estado em ordem. É questionável se devemos pôr o Estado em ordem, antes que seja possível ter-se realmente algo parecido com uma escola pública. Mas eu não discutirei meus próprios remédios aqui, que envolveriam alusões indecentes a uma terceira coisa, chamada Família; que hoje jamais é mencionada nos círculos respeitáveis.

 

“On education”, em Gilbert Magazine, Minneapolis: G.K. Chesterton Institute, v. 7, n. 2, 2003. (oct/nov)

 

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