Sobre criar e sobre ser criativo
por Maurício Avolleta Jr.
E no início nada havia a não ser Deus. Mas foi quando Deus falou, que tudo através do verbo foi feito. A luz foi feita, os mares, as montanhas, as árvores, a grama, as flores, os animais, as cores, a arte, os sons, o homem. Um Deus criador. Um Deus que criou tudo e todos exatamente como Ele quis. Sem mais, nem menos.
”Creio no Deus pai, todo poderoso. Criador do céu e da terra.”, é assim que se inícia o famoso Credo dos Apóstolos, o documento básico da doutrina da Igreja Cristã. Acredito eu, que não é por acaso que o credo se inicie afirmando que Deus é todo poderoso e que Ele é o criador de tudo. Assim como não creio que é por acaso que o Gênesis também se inicie assim, tomando por início o próprio início. A primeira coisa que nos é revelada nas Escrituras é um Deus, criador do céu e da terra. Um Deus criador, que atravéz dEle mesmo, criou todas as coisas. Por meio dEle, o nada se tornou tudo. Por meio daquele que atravéz do Verbo disse ”Luz” e a luz passou a existir, todas as coisas tomaram forma, exatamente como Ele perfeitamente planejou.
Certa vez, disse aqui no blog, que a Bíblia antes de mais nada conta a minha história. Ela se preocupa em falar da minha criação, até a minha queda. Logo em seguida, ela fala sobre a minha redenção e depois do meu final feliz. Ao ler a Bíblia, percebi que eu participo do maior conto de fadas que já existiu, pois é o único que foi verdadeiro do início ao fim.
Já ouvi muitas vezes dizerem que certa pessoa criou algo. E adimito que ri todas as vezes que ouvi isso. A criação criando algo? Sinceramente, acho engraçado a nossa prepotência de dizer que somos os criadores de alguma coisa. Somos criaturas feitas do único que verdadeiramente é criador. Se tudo veio de Deus, o que vem de nós ainda vem dEle primeiramente e não de nós. Somos espelhos, só refletimos. Refletimos de angulos diferentes a criação de Deus, não criamos.
O coração do homem não é feito de fantasia,
Ele antes acessa do único Sábio alguma sabedoria,
E dele ainda se lembra. Mesmo que agora distante.
Nem totalmente perdido, nem totalmente mutante.
Des-graçado, sim, porém nunca destronado
O retalho da nobreza que possuiu mantém guardado
Homem subcriador, luz refratada;
Tantos tons, a combinarem-se infinitamente
De formas vivas a passar de mente em mente.J. R. R. Tolkien – Mythopoeia
Aquele que É, de eternidade a eternidade, esvaziou-se para criar a maior obra de arte de todas. A obra prima, a master piece. A maior expressão de arte de todos os tempos, veio do único capaz de criar algo. O único que criou a partir dEle mesmo. Nós não criamos, somos partes da criação. Somos criativos, subcriadores, somos espelhos. Vemos como espelhos e criamos atravéz de espelhos. Vemos parcialmente, e criamos a partir daquilo que já é.
Nós não inventamos as fadas, elas surgiram quando tentamos explicar os anjos. Nós não inventamos os deuses, eles surgiram quando tentamos explicar Deus. Nós não inventamos os monstros, eles surgiram quando tentamos explicar nossos medos. Nós não criamos, simplesmente somos criativos.
Se as paixões, sendo imateriais, podem ser copiadas por invenções materiais, então quem sabe não seja possível fazer com que o mundo material, por seu turno, seja a cópia de um mundo invisível?
C. S. Lewis – Alegoria do Amor
Somos criativos, pois transformamos os nossos desejos em coisas aparentemente novas, ou que pelo menos não entendemos ainda. Somos, como já disse Tolkien, luz refratada. Fomos feitos a Imagem e Semelhança dàquele que Tudo fez, e de certa forma, tudo é. Assim como o Criador criou a partir dEle mesmo, continuamos a criar a partir de sua criação. Deus nos deu o quadro pronto, e juntamente como quadro, nos deu tintas de diversas cores para que colorissemos esse quadro.
Tolkien, certa vez escreveu sobre um pintor chamado Niggle que passou sua vida inteira tentando transformar em um quadro, a imagem de uma Árvore que havia em sua cabeça, mas nunca era como quando ele imaginava. A imagem que estava em sua cabeça era perfeita demais para que ele conseguisse com todas as suas limitações, coloca-la no quadro. A imagem que ele via, não era a imagem que ele fazia. Ele pintava apenas um reflexo. Mas um dia, Niggle, assim como todos, morreu. Mas depois de sua morte, Niggle se viu em um gigante bosque, e nesse bosque ele encontrou a sua Árvore. Exatamente como ele imaginara. Não era apenas sua imaginação, era real!
Assim como a fala é invenção sobre coisas e ideias, os mitos são invenções sobre a verdade.
Humphrey Carpenter – J. R. R. Tolkien: a biography
Como Niggle, um dia nossa imaginação alcançara a redenção. Um dia, conheceremos assim como somos conhecidos. Um dia, o subcriador e o Criador se encontrarão, e tudo fará sentido. Todas as perguntas serão respondidas. Finalmente saberemos por que o sofrimento gera poesia. Saberemos por que a morte gera vida. Saberemos por que a dúvida gera confiança. Saberemos por que o ódio gera amor. Saberemos por que o Verbo se fez carne. Saberemos o por que um Deus se sujeitou ao sofrimento e a morte. Na verdade, já sabemos, mas sabemos apenas de forma parcial. Um dia conheceremos, assim como somos conhecidos, plenamente.
Fonte: https://becounderground.wordpress.com/2015/05/11/sobre-criar-e-sobre-ser-criativo/